Especialistas dizem que não será o câmbio, ou medidas protecionistas, que darão à indústria nacional as condições necessárias para fazer frente a tratados comerciais bilaterais.
O acordo anunciado ontem (13/2) entre Estados Unidos e União Europeia (UE) para facilitar as transações comerciais entre as regiões certamente não foi bem recebido pelos agroexportadores brasileiros, uma vez que afeta significativamente a competitividade das commodities que partem do país.
Em momentos como esse, no qual novos obstáculos surgem à frente do crescimento econômico do Brasil, velhos problemas voltam à tona, e evidenciam a distância que ainda há de ser percorrida até alcançarmos patamares satisfatórios em termos de oferta de produtos e serviços.
O Custo Brasil, que faz com que o preço de um produto, na porta da fábrica, aumente exponencialmente até chegar às mãos do cliente final, é uma das principais barreiras que urge por algum tipo de intervenção governamental.
"O Brasil já deveria ter feito um acordo de livre comércio tanto com os Estados Unidos como com a Europa, mas não adianta fazer esses acordos sem resolver o Custo Brasil, de maneira que, em nossas exportações, não exportemos impostos", afirma Marcus Vinicius de Freitas, coordenador do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap).
"O caminho não é criar dificuldades para que os produtos cheguem ao Brasil, mas fazer os produtos daqui chegarem mais baratos lá fora", diz Evodio Kaltenecker, professor do MBA da BBS Business School.
A "guerra cambial", termo cunhado meses atrás, em um ambiente no qual os bancos centrais ao redor do globo emitiram milhões em divisas para desvalorizar suas moedas e fortalecer suas indústrias, não é, na avaliação do acadêmico da Faap, o caminho a ser seguido.
Uma alternativa proposta por Freitas é a utilização de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no processo de internacionalização de companhias tupiniquins.
"Isso já deveria ter sido feito na época em que o real estava mais valorizado, para a indústria integrar suas cadeias produtivas", pondera.
Embora admita que não seja simples tirar do papel e colocar em prática um planejamento portentoso como o de levar a indústria doméstica às compras no exterior, o especialista entende que o Brasil está "perdendo o momento", e lembra do relativo fracasso com os Brics.
"Houve um desencantamento com a questão dos Brics, por não terem resolvido seus desafios internos para que pudessem de fato se tornar mais competitivos".
Além dos impactos sobre os que estão de fora do acordo, Kaltenecker, da BBS, destaca também os reflexos negativos que serão sentidos pelos produtores europeus de determinado segmento que terão de competir com um similar americano mais competitivo, e vice-versa.
"O exportador que sofrer a concorrência vai buscar algum tipo de compensação em outros produtos, que pode ter reflexos em diferentes países", nota o especialista.
Por conta desse trâmite burocrático previsto até que todos os ponteiros estejam acertados, Kaltenecker não espera por alterações no comércio exterior no curto prazo, em razão do acordo anunciado hoje. "Estamos falando de alguns anos, não de alguns meses".
Fonte: Brasil Econômico
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