Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sul da Europa ainda tem fé no euro, apesar da recessão


O euro vem por anos pesando sobre o vinicultor Elio Grasso. A alta cotação da moeda corrói os lucros de suas exportações para os Estados Unidos, enquanto seus clientes domésticos sofrem com a longa recessão italiana.

Mas o produtor dos vinhos Barolo não quer que a Itália abandone o euro. "Se estivéssemos sozinhos, teríamos problemas maiores que a Grécia", disse.

A moeda comum europeia deixou os países do sul do continente enfraquecidos, endividados e lutando para competir internacionalmente. Mas mesmo na tumultuada campanha da eleição nacional na Itália, que ocorre neste mês, a questão de ser integrante da zona do euro não tem sido debatida seriamente. Na Itália, assim como na Espanha, em Portugal e em outros países atingidos pela crise, o apoio popular ao euro se mantém forte.

Em todo o sul da Europa, as pessoas rejeitam a ideia de retomar suas próprias moedas, temerosas de que a medida traga de volta a inflação, elimine controles sobre a corrupção e tire dos trilhos os esforços nacionais para fazer parte do círculo de poder da Europa. Esses temores superam o panorama econômico sombrio que levou muitos a preverem um rompimento do euro.

Apenas 20% dos italianos dizem que deixar o euro poderia ajudar a economia, ante 74% que acreditam que seria ruim ou desastroso, segundo pesquisa recente do instituto de pesquisa Ispo, de Milão. A grande maioria das pessoas na Espanha, em Portugal, na Grécia e na Irlanda também rejeita a saída do euro, mostram pesquisas recentes.

A determinação europeia para manter a moeda comum desempenhará um importante papel no desenrolar da crise neste ano. À medida que o pânico dos mercados financeiros na Europa diminui, a sobrevivência do euro passa a depender dos países que enfrentam uma dolorosa e persistente retração econômica.

O partido de centro-esquerda da Itália, que está liderando as pesquisas, promete manter as medidas de austeridade exigidas para assegurar a posição do país na Europa. Mesmo o conservador ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi amenizou sua retórica antieuro na disputa eleitoral.
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Roberto Colombo, gerente da fábrica de chocolate Caffarel, que emprega 400 pessoas nos Alpes italianos, diz que a recessão que atingiu os europeus recentemente começou a afetar os caros confeitos produzidos pela empresa. Mas afirmou que permanece otimista com relação ao euro assim como estava há dez anos, quando a marca comemorou o surgimento da moeda com uma barra de chocolate no formato de uma nota de 500 euros.

"O euro tem forçado as empresas a mostrarem do que são feitas, para serem competitivas sem a ajuda da desvalorização", disse Colombo. "A Itália sem o euro estaria de longe muito pior."

A vontade popular de permanecer com o euro não garante que nenhum país deixará a moeda. Uma paralisia política ou corrida aos bancos poderia, em tese, forçar um país a imprimir sua própria moeda para evitar um colapso financeiro.

Mas o apuro da Europa tem ressuscitado velhos alertas de que uma moeda única circulando por economias nacionais discrepantes pode levar a crises, assim como dificultar que esses países escapem de problemas.

A experiência sugere que a recuperação de uma crise financeira pode ser mais fácil se um país desvaloriza a sua moeda, tornando seus produtos mais baratos no exterior. A única opção para os países da zona do euro que estão lutando para sobreviver, porém, é forçar a redução de salários e preços em relação às principais economias do euro. O processo irá provavelmente adicionar anos de sofrimento às regiões da Europa que já estão há cinco anos em recessão.

"Os europeus que hoje usam o euro não querem abandoná-lo e voltar para suas antigas moedas", de acordo com uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, centro de pesquisa independente de Washington. Na Espanha e em Portugal, 70% ou mais das pessoas querem ficar com o euro, segundo pesquisas recentes. Mesmo na Grécia, onde a economia e o nível de emprego encolheram mais de 20%, apenas uma em cada cinco pessoas querem que o dracma volte. Até os simpatizantes do partido Syriza, radicalmente contrário às políticas de austeridade, se opõem à saída do euro.

Por outro lado, a antipatia com relação ao euro tem crescido fortemente nos países europeus que não aderiram a ele. A crise tem fortalecido a convicção de britânicos, suecos e dinamarqueses de que estavam certos ao decidirem manter suas próprias moedas, segundo pesquisa do Eurobarometer, da Comissão Europeia.

Mas muitos dos eleitores italianos dizem que sair do euro seria um salto no escuro. "A solução não é jogar o euro fora, mas ver o que não está funcionando e corrigir", disse Giovanni Ricci, um geólogo de Turim. "Se nós todos voltarmos às moedas nacionais e as desvalorizarmos, teremos uma guerra comercial na Europa."

A história recente dos países periféricos da zona do euro ajuda a explicar seu amplo apoio ao projeto europeu. Espanha, Portugal e Grécia escaparam de ditaduras nos anos 70. Unir-se à economia e às instituições da Europa contribuiu para tornar essas democracias mais sólidas e elevar os padrões de vida. Além disso, ajudou a superar décadas de atraso e isolamento.

A crise abalou a imagem positiva da Europa em países como Portugal, mas "a associação cultural da Europa com modernização ainda está presente", diz Antônio Costa Pinto, cientista político da Universidade de Lisboa.

A Espanha, com suas divisões regionais e o amargo legado da ditadura Franco, "tem construído sua identidade democrática e contemporânea ligada à ideia da Europa", o que deixa o país "sem plano B", diz Antonio Moreno, historiador da Universidade Complutense de Madri.

Nos países atingidos pela crise, a desconfiança com relação aos políticos nacionais e as burocracias governamentais é um forte motivo para poucos quererem deixar o euro. A maioria das pessoas acredita que seus líderes nacionais, agindo sem o jugo do euro, podem causar ainda mais estragos às economias.

"A volta ao dracma, à lira ou à peseta poderia significar dar poder econômico ao grupo mais desacreditado de todos", disse Jacob Funk Kirkegaard, do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington.

Fonte: The Wall Street Journal


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