O fracasso da Organização Mundial do Comércio em avançar uma rodada global de negociações comerciais está colocando o papel do grupo em risco, disse Roberto Carvalho de Azevêdo, um diplomata de carreira que é o candidato do Brasil para assumir a liderança da instituição multilateral.
A chamada Rodada de Doha de negociações de comércio mundial foi iniciada em 2001 com a meta de integrar os países em desenvolvimento no mercado global. Mas as negociações estão paralisadas há mais de um ano, principalmente por causa de divergências sobre as regras para a produção agrícola, ainda que venham crescendo as preocupações com relação ao protecionismo comercial.
Ao mesmo tempo, muitos países, incluindo os Estados Unidos, optaram por avançar com negociações comerciais bilaterais. Em seu discurso sobre o Estado da União, o presidente Barack Obama anunciou o início das negociações para um acordo comercial com a União Europeia.
Azevêdo disse que, nesse ínterim, a OMC não pode abordar outras questões importantes, como a mudança da natureza dos negócios e do comércio global.
"O que está colocando a OMC em risco é a própria OMC [...] porque os membros não conseguem entrar num acordo sobre resultados de negociação no sistema multilateral", disse Azevêdo em entrevista à agência Dow Jones. "A rodada ainda está inacabada e isso está bloqueando e paralisando o sistema. Essa é a realidade."
O diplomata e outros oito candidatos estão disputando o posto de sucessor de Pascal Lamy, que deixa a liderança da OMC no fim de agosto, depois de servir por dois mandatos consecutivos de quatro anos. De acordo com uma tradição de rotação, é provável que o sucessor de Lamy, que é francês, venha de um país em desenvolvimento. Os outros candidatos são do México, Costa Rica, Gana, Quênia, Indonésia, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Jordânia.
O processo está longe de ser transparente. Um pequeno grupo de intermediários vai consultar os países membros para avaliar seu apoio para cada candidato e, depois disso, recomendará aos candidatos com menos apoio que abandonem a disputa. O processo continua até que sobre apenas um candidato, o que, neste caso, deve ocorrer provavelmente em abril ou maio. A decisão final está prevista para 31 de maio.
Azevêdo disse que tem experiência e influência política suficiente para conseguir levar todos os 158 membros da organização a um acordo.
"Se um deles diz que não, mesmo que seja só um, não há acordo", diz ele. "É tão fácil bloquear as coisas na OMC. É exatamente por isso que estamos emperrados nessa rodada."
Azevêdo tem sido representante do Brasil na OMC desde 2008 e foi o negociador-chefe do país para a Rodada de Doha. Ele também supervisionou as negociações do Mercosul e presidiu comissões de resolução de disputas da OMC.
O diplomata acaba de retornar de uma visita a países caribenhos e começou ontem uma viagem pela África em busca de apoio para a sua candidatura. Ele já visitou países da América Latina e Europa e planeja também uma viagem pela Ásia.
Fonte: The Wall Street Journal
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