Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Temor de nova crise pode levar Fed a mudar de tática


As autoridades do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, inquietas com os possíveis riscos gerados pela sua política de redução das taxas de juros, estão divididas com relação à antecipação da retirada dos programas experimentais criados para revigorar a economia americana.

A divulgação, na quarta-feira, da ata da reunião de janeiro do Fed revelou que as autoridades temem que as políticas atuais de relaxamento monetário possam levar a tomadas de risco excessivas e causar instabilidade nos mercados financeiros. A notícia provocou uma queda nas bolsas que se prolongou ontem, agravada por dados econômicos negativos na Europa. A Média Industrial Dow Jones, que seguia uma trajetória estável de alta este ano, teve queda de 46,9 pontos ontem, ou 0,3%, fechando em 13.880,6 pontos, depois de já ter caído 0,8% no dia anterior.

O Fed está comprando US$ 85 bilhões por mês em hipotecas e títulos do Tesouro americano para reduzir os juros de longo prazo e prometeu manter taxas de curto prazo perto de zero até que o desemprego caia.

O programa não tem alimentado a inflação, como muitos temiam, e várias autoridades do banco central estão inclinadas a manter o curso. Mas algumas dizem que o Fed pode ter que reduzir a polêmica compra de títulos antes que o mercado de trabalho se recupere completamente, de acordo com os documentos. O Fed, que antes tinha suspendido as compras de títulos nessa recuperação e depois as retomou, irá revisar os programas na sua próxima reunião, agendada para os dias 19 e 20 de março.

Por trás do crescente desconforto do Fed está uma profunda mudança no banco central desde a crise financeira de 2008. Muitos economistas costumavam considerar as crises financeiras como problemas de economias em desenvolvimento e viam as bolhas de ativos como algo a ser tratado após o seu estouro.

Recentemente, o presidente do Fed, Ben Bernanke, disse que a instituição "precisa pensar sobre estabilidade financeira e monetária como sendo, de alguma forma, os dois pilares principais do que o banco central tenta fazer".

Ultimamente, a visão do mercado financeiro tem sido perturbadora: bancos e investidores estão assumindo riscos de dívida. As empresas estão emitindo volumes recorde de títulos de altíssimo risco. E os nichos exóticos dos mercados de títulos lastreados em hipotecas e de empréstimos corporativos estã crescendo.

As autoridades do Fed não estão convencidas de que estes sinais recentes apontam para qualquer risco imediato para o sistema financeiro dos EUA. Mas elas estão discutindo se os programas de compra de títulos podem levar a futuros problemas e se, mais para frente, pode ficar mais difícil de reduzi-los.

O Fed tem dito que as taxas de curto prazo devem permanecer baixas até que o desemprego caia do atual nível de 7,9% para 6,5%, desde que a inflação permaneça baixa; e o programa de compra de títulos continuaria até que ocorressem melhoras significativas no mercado de trabalho. Mas as autoridades têm sempre se protegido, afirmando que essas previsões podem mudar com o surgimento de qualquer nova ameaça ao sistema financeiro.

Os mesmos juros baixos que têm a meta de estimular o consumo, investimentos, crescimento e emprego estão também estimulando uma corrida frenética de investidores em busca de retornos mais altos que, por natureza, oferecem riscos maiores.

"Temos um mercado de títulos bastante robusto agora", disse Richard Fisher, presidente do Fed de Dallas, uma das 12 regionais do banco central, ao The Wall Street Journal. Segundo ele, esses mercados saudáveis fazem parte do objetivo das políticas do Fed, mas o salto do mercado de crédito tem colocado a instituição em alerta com relação a uma nova explosão desestabilizadora no crédito. "Você não senta numa fogueira duas vezes."

Jeremy Stein, um dos diretores do Fed, comparou o desafio da instituição ao da tripulação de um navio, que precisa distinguir o que seriam icebergs profundos e perigosos entre pedaços de gelo inofensivos. Muita coisa acontece nos mercados abaixo da superfície, além da percepção dos reguladores, disse ele: "Nós devemos ser humildes com relação à nossa habilidade de enxergar todo o cenário e devemos interpretar corretamente as pistas que vemos."

Identificar ameaças financeiras é mais difícil do que apontar problemas como inflação e desemprego, que têm medições uniformes. Até recentemente, a maior reclamação entre os economistas que criticam a política de juros baixos do Fed era a ameaça da alta da inflação, que ficou abaixo da meta do Fed de 2%.

Stein demonstrou preocupação este mês com relação ao crescimento dos mercados de títulos de alto risco e de financiamento para empresas e reconheceu o dilema do Fed: sua política de juros baixos pode ajudar a economia americana e pode também contribuir para altas desestabilizadoras.

O perigo é que os juros baixos estimulem algumas pessoas e instituições a assumir muitas dívidas e investir pesado em títulos de alto risco. No pior dos cenários, esse tipo de comportamento dos mercados pode quebrar bancos e instituições que estiverem fortemente expostos a esses investimentos.

Eric Rosengren, presidente do Fed de Boston, disse ao WSJ que não é função do banco central impedir todos os excessos do mercado financeiro. Casos pontuais de quebra de instituições financeiras não derrubam a economia e bolhas financeiras nem sempre destroem sistemas financeiros. Quando a bolha da internet estourou em 2000, por exemplo, os EUA vivenciaram uma recessão relativamente breve e superficial; ela não levou à mesma recessão profunda de 2008.

Em vez disso, disse Rosengren, o Fed precisa se concentrar em evitar problemas de mercado que ameacem causar danos generalizados. Em 2008, bancos e outras instituições financeiras estavam com dívidas excessivas. Eles perderam o equilíbrio em meio ao caos do mercado e então fizeram vendas desesperadas de ativos que espalharam pânico financeiro. Rosengren defende mudanças nas regras para os mercados de fundos mútuos para torná-los menos propensos a essa debandada de investidores.

Quando era um acadêmico, Bernanke estudou o papel de bancos instáveis e do Fed durante a Grande Depressão, parte de seu interesse de longa data de compreender as crises financeiras. Quando se tornou presidente do Fed, em 2006, ele orientou sua equipe a procurar ameaças à estabilidade financeira.

Muito se discutiu sobre a explosão das hipotecas de alto risco e os créditos corporativos. Mas, naquela crise, o Fed não foi capaz de descobrir as fragilidades do mercado financeiro.

No cenário atual, "é difícil concluir que estamos diante de um problema iminente", disse Lewis Alexander, economista chefe da Nomura Securities e consultor do Tesouro americano entre 2009 e 2011. "A maior parte do setor privado se tornou extremamente avessa ao risco."

Outros vêm potenciais problemas pela frente. Esther George, presidente do Fed de Kansas City, disse que o programa de compra de títulos da instituição pode causar "desequilíbrios econômicos e financeiros", ou seja, os mesmos tipos de excessos que levaram à crise de 2008.

Sandra Pianalto, presidente do Fed de Cleveland, disse recentemente que o BC pode ter de recuar no seu programa de compras de títulos para "minimizar alguns riscos" de turbulência financeira. Mas, como sempre acontece com relação ao Fed, não há consenso.

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Fonte: The Wall Street Journal

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