O Brasil precisa escolher quem são seus amigos -- e deixar os Brics de lado para se juntar aos EUA. É o que defende o presidente da "bancada do Brasil" no Congresso americano, o deputado republicano Devin Nunes, 40, da Califórnia.
"Decepcionado" com o cancelamento da visita de Estado de Dilma a Washington, ele acha que as denúncias de espionagem americana vão 'cicatrizar' e que o Brasil precisa começar a discutir mais livre comércio e investimentos com os EUA.
Bisneto de imigrantes açorianos em seu quinto mandato na Câmara, o deputado preside pela terceira vez a bancada que reúne congressistas com interesses no Brasil. Ele também dirige o subcomitê de Comércio da influente Comissão de Formas e Meios da Câmara, e é membro da Comissão de Inteligência.
Nunes recebeu a Folha em um dia nada silencioso em seu escritório: duas assessoras de Nunes recebiam ligações sem parar de eleitores reclamando do novo plano de saúde universal do governo, o Obamacare.
A poucos metros dali, na porta do gabinete do presidente da Câmara, John Boehner, imigrantes mexicanos rezavam ajoelhados no corredor em vigília, para pedir que Boehner apoiasse a reforma imigratória. Leia abaixo trechos da conversa:
ESCOLHER AMIGOS
A longo prazo, os EUA têm que focar mais no Brasil, um parceiro estratégico. Por outro lado, o Brasil tem ser um ator mundial. Precisa de liderança e tomar decisões duras. O Brasil precisa escolher quem serão os seus amigos. Entre o Ocidente ou olhar para trás. Eu acho que o Brasil precisa se juntar ao Ocidente
DEIXAR OS BRICS
A aliança comercial dos EUA com os países do Pacífico [bloco que reunirá de Japão e Sudeste asiático a Peru, México, Austrália e Canadá] vai acontecer. O acordo com a Europa virá depois.
Quando você olha os Brics, você vê que o Brasil não pertence lá. Deveria ser Rics. O Brasil é pacífico e democrático, diferente daquele grupo. Deveria desenvolver mais parcerias com o mundo ocidental
ESPIONAGEM
Há uma reação exagerada pelo mundo depois dessas denúncias. O Congresso faz a supervisão da NSA [Agência Nacional de Segurança]. O que pouca gente sabe, até mesmo aqui, é que a NSA é um braço das Forças Armadas, dirigido pelas Forças Armadas.
Não ligamos para outro país, "ei, vá atrás de onde a gente acha que tem um terrorista". Não funciona assim.
Juntam-se sinais, pistas, informação.
Os chineses e os russos, e outros personagens do mal, estão espionando por todos os lados as redes de vocês, por razões econômicas, e há pontos nevrálgicos no Brasil em temas de segurança.
Cada celular, cada tablet, cada email hoje em dia, todo mundo consegue grampear. Mas se você esta no seu telefone, email, alguém vai interceptar isso. Melhor guardar seus segredos, e cuidar mais da tecnologia.
PETROBRAS
Há uma razão para a espionagem da Petrobras, que não posso explicar a você porque é um assunto confidencial. Mas soube que o nosso Departamento de Estado compartilhou com a presidente Dilma Rousseff precisamente porque isso foi feito na Petrobras. Tem uma razão de segurança para isso.
O tempo vai passar, cicatrizar. Os brasileiros vão entender. Outros Brics são os maiores violadores de espionagem econômica. Nós não fazemos espionagem com fins econômicos para benefício de empresas americanas. Aqui seria um crime sério, com punição elevada.
CONSELHO DE SEGURANÇA
Se o diálogo melhorar, se o comércio começa a melhorar, acho que haveria esse apoio. O Brasil não precisa ser parte dos Brics, pode se erguer por si só.
Mas a Venezuela é um problema, a Argentina também, a Rússia é uma plutocracia. Eu entendo que vocês precisam ser aliados de seus vizinhos, mas será duro para o Brasil entrar no Conselho de Segurança com esses aliados. Mas é a Casa Branca que vai decidir isso.
VISTO AMERICANO
Acho que a liberação do visto é o objetivo comum. Mas o problema não tem nada a ver com a pessoas no Brasil, em São Paulo. A fronteira é muito porosa. Outras pessoas usariam o Brasil de passagem para vir aos EUA. Há essa preocupação.
CONGRESSO
Há diversos diálogos EUA-Brasil acontecendo, mas sem uma marca, muita papelada, algo confuso.
O objetivo final é desenvolver uma parceria econômica mais forte com o Brasil, como a que temos com Canadá e México.
Falar de livre comércio hoje é difícil por razões políticas, mas podemos falar de outras maneiras, de investimentos em infraestrutura a exploração de petróleo.
O Brasil é o país mais rico que já visitei fora dos EUA.
Vocês se alimentam e conseguem alimentar muitos outros.
SUBSÍDIOS AGRÍCOLAS
Os subsídios estão no seu ocaso. Vamos reduzir drasticamente. A nova lei agrícola (Farm Bill) tem mais "food stamps" (vale-alimentação para os mais pobres americanos) e cada vez menos subsídios. É o caminho natural, abrir mais o comercio, não só nos EUA.
A minha região, na Califórnia, era muito mais agrícola há alguns anos e havia pouco apoio a acordos comerciais. Agora já veem com bons olhos.
Fonte: Folha de S. Paulo
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