Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Quem ganha e quem perde com o novo plano econômico da China

As empresas poderiam se beneficiar muito se a China levar adiante suas promessas de dar ao mercado um papel mais importante na segunda maior economia do mundo.

Os líderes do Partido Comunista chinês divulgaram na semana passada um amplo projeto de reformas para os próximos dez anos que propõe aumentar o poder do consumidor e aliviar o controle estatal sobre setores-chave. Suas metas abrangentes incluem reduzir as barreiras para o capital estrangeiro em alguns setores, ampliar o envolvimento de investidores privados em firmas controladas pelo Estado e dar à vasta população rural do país maior acesso a recursos.
No longo prazo, uma significativa mudança — a de relaxar a política do filho único — sinaliza uma disposição para lidar com as pressões crescentes de uma sociedade que está envelhecendo. O comunicado do governo sugere que os líderes querem garantir que a China tenha uma reserva estável de trabalhadores — e continue crescendo a taxas elevadas — nos próximos anos.

"O clima é positivo no país e, se as pessoas na China ficarem com a impressão que essas mudanças positivas podem continuar por 10 ou 20 anos, elas vão ficar mais dispostas a gastar", diz Karsten Engel, diretor-presidente da montadora alemã BMW AG na China.

A chave para as empresas será a implementação do plano. Apesar de seu alcance ambicioso, a proposta do partido deixa em muitos casos de determinar prazos e metas específicos, especialmente na definição de até que ponto os estrangeiros poderão ter maiores oportunidades de investir. E os esforços podem enfrentar considerável oposição de estatais com influência no governo, das burocracias estabelecidas das agências reguladoras e de uma população urbana preocupada com o afluxo de migrantes para as cidades.

A seguir, um panorama do que a proposta, chamada "Resolução sobre as Principais Questões do Aprofundamento Compreensivo da Reforma", significa para alguns dos principais setores da economia.

Bancos

O plano dá mais impulso ao antigo desejo do governo de reformar o setor bancário, que os críticos dizem ser um obstáculo para mudar o destino do dinheiro que hoje vai para as grandes empresas estatais, em detrimento das pequenas e médias. O esboço do projeto ainda cita a participação estrangeira, mas sem dar detalhes.

O governo chinês se comprometeu a abrir o setor financeiro "tanto [no mercado] doméstico quanto para o mundo exterior" ao permitir que bancos estrangeiros se estabeleçam no país.
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O plano também defende o afrouxamento do controle do governo federal sobre as taxas de juros, que tem beneficiado bancos estatais e limitado a concorrência dos bancos menores. Pequim já fez grandes progressos nessa direção ao extinguir o teto para os juros que remuneram os depósitos bancários.

Mercados Financeiros

Um dos itens mais agressivos da proposta é a promessa de reformar o sistema de oferta pública de ações na China, fazendo com que ele deixe de ser um sistema no qual o governo decide quais companhias podem abrir o capital e deixe essa seleção ser baseada no mérito das próprias empresas. A mudança é uma redução significativa do controle do Estado sobre o cambaleante mercado acionário chinês.

O projeto tem palavras positivas, apesar de vagas, para os investidores estrangeiros. Ele defende a melhora dos fluxos de capital entre países e uma maior conversibilidade da moeda chinesa, o yuan. A China mantém rígidos limites sobre os fluxos de capitais que entram e saem do país. O plano também defende a facilitação de negociações com o exterior.

Mercado automobilístico

Mudanças que vão desde a flexibilização da política do filho único ao incentivo à urbanização da população rural vão ajudar a indústria automobilística a atingir a tão esperada meta de vender 30 milhões de veículos até 2020. Executivos do setor também dizem que as reformas econômicas vão encorajar que mais chineses a comprar carros.

Não está claro, porém, se as mudanças vão incluir um acesso maior às companhias estrangeiras. Atualmente, as montadoras precisam fazer sociedades com empresas locais para fabricar automóveis na China, com a participação das estrangeiras limitada a 50%.

A promessa do governo de proteger o meio ambiente pode, por outro lado, ser um problemas para o setor. Várias cidades já têm restrições a automóveis, e o aumento dos preços das matérias-primas previsto na proposta pode encarecer o combustível. Mas a preocupação com o ambiente pode também ser uma oportunidade para as montadoras estrangeiras promoverem tecnologias avançadas, que tornam os carros mais econômicos e menos poluentes.

Tecnologia

O cenário é confuso para o vibrante setor da internet na China, que pode acabar ganhando impulso com as reforma econômicas propostas, ainda que sujeito a sofrer uma censura mais rígida.O relaxamento da política do filho único e as iniciativas para estimular a urbanização devem fazer com que as pessoas passem mais tempo on-line, assistindo a vídeos ou fazendo compras.

O governo também vai abrir as portas ao investimento estrangeiro no comércio eletrônico. Apesar de a proposta não ser específica, ela pode ser o presságio de uma abertura para as empresas estrangeiras de internet, que têm ficado praticamente de fora da internet chinesa.

A proposta também inclui fortes indicações da intenção de enrijecer os controles sobre os fluxos de informações on-line. As plataformas de mídia digital devem enfrentar uma fiscalização mais rígida das autoridades e custos maiores à medida que elas ampliam os esforços para fiscalizarem a si próprias.

Setor Imobiliário

O plano pede a aceleração das mudanças nos impostos imobiliários. Isso pode ajudar o governo a frear a escalada de longa data dos preços dos imóveis, que tem levado muitos governos locais a endurecer as regras para compras e financiamentos no de imóveis. A China hoje cobra imposto sobre a venda de imóveis, mas não sobre o valor, o que às vezes encoraja compras imprudentes. Qualquer medida que acalme o mercado poderia ser positiva, mas, no curto prazo, um imposto no setor poderia prejudicar as vendas. No longo prazo, as construtoras podem se beneficiar da parte do plano que defende a urbanização, que deve aumentar a demanda por imóveis residenciais e comerciais.

Bens de consumo e serviços

O projeto visa fortalecer diretamente a crescente classe consumidora do país. Empresas como lojas de varejo, restaurantes e prestadores de serviços podem ser os maiores beneficiados. Os líderes da China têm sinalizado que querem aumentar o peso dos gastos com consumo na economia.

A chave para isso é a urbanização. O governo acredita que deslocar mais residentes rurais para as cidades vai incentivar as compras de apartamentos, móveis e outros itens da vida moderna. Nesse sentido, o projeto propõe flexibilizar o sistema nacional de registro domiciliar para permitir que mais migrantes das zonas rurais possam ter acesso a serviços de educação e saúde nas cidades. E abre a possibilidade de investimento estrangeiro em atendimento a idosos, arquitetura, contabilidade, logística e comércio eletrônico.

Energia e Recursos Naturais

O projeto menciona em apenas uma sentença o desejo de levar adiante a reforma de preços para o petróleo, gás natural e energia. Mas essa simples menção num documento tão importante sugere que o combustível barato que as estatais desfrutam há muito tempo podem encarecer.

Fonte: The Wall Street Journal

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