Atrás da cadeira de Roberto Azevêdo, na sala de diretor-geral no quartel-general da OMC em Genebra, há um quadro retratando a cidade suíça que virou símbolo do multilateralismo.
Não estava ali quando ele chegou para comandar a entidade, em setembro deste ano, após longa e intensa campanha promovida pelo Itamaraty. Fora comprado por ele e a mulher, a também diplomata Maria Nazareth Farani Azevêdo, e levado para a sala por sugestão dela.
Genebra é muitas coisas para Azevêdo, engenheiro elétrico baiano de 56 anos, formado pela UnB e torcedor fanático do Fluminense, que decidiu tentar a carreira diplomática após ver a então namorada empolgada com o novo trabalho dela.
Foi ali, em uma viagem no fim dos anos 70, que começou a namorar Nazareth, com quem está casado há quase 32 anos; foi ali, como primeiro-secretário da missão brasileira em 1997, que se descobriu negociador.
Roberto Azevêdo, diretor-gerall da OMC |
E foi ali que, em uma segunda estada, após cinco anos à frente da missão do Brasil na OMC, chegou a um dos postos máximos da economia global, o primeiro brasileiro a fazê-lo, logo quando o sistema ameaça desabar.
Azevêdo é aquele tipo de unanimidade rara em diplomacia, visto como craque pela torcida e pelo adversário, e ainda com fome de jogo.
Ex-colegas e ex-subordinados, outros negociadores, colegas, parentes, jornalistas que o acompanham há anos costumam descrevê-lo como um enxadrista de temperamento calmo, soluções criativas, firmeza sutil e uma enorme capacidade de atrair a empatia dos interlocutores.
"Ele não gosta muito de ouvir isso, mas é uma pessoa extremamente metódica. É o engenheiro, trabalha dentro de uma matriz, olha as coisas com distanciamento e de todas as posições. Isso leva as pessoas a o enxergarem como um solucionador de problemas", diz Nazareth.
O casal, que se tornou conhecido por uma parceria de trabalho na qual ambos decolaram, tem duas filhas adultas, Paula e Luísa, e duas netas, Alice e Olívia.
"De todas as pessoas que vi negociarem na OMC, é a que mais me impressionou", afirma um advogado de um grande escritório americano que por meia década trabalhou na organização. "Levou processos do setor privado para lá, deu dinamismo, e consegue surpreender uma mesa de negociação."
Para uma funcionária com quase uma década de casa, "é o tipo de sujeito que deixa todo mundo à vontade quando entra na sala, mesmo que esteja lotada."
A calma e a persuasão do diplomata têm sido fundamentais nas madrugadas de negociação prévia em Genebra para fechar um acordo em Bali que destrave, ao menos um pouco, o fluxo comercial global.
Uma diplomata experiente, que teve em Azevêdo seu primeiro chefe, o descreve como um grande motivador, capaz de destravar projetos emperrados, cuja principal moeda é a credibilidade.
É comum ouvir que, "se alguém consegue, é ele". Mas é comum também haver dúvidas de que "mesmo ele" consiga. Ambicioso e incansável, o brasileiro tomou a missão como decisiva -para a entidade que comanda e para a própria carreira.
"A boa notícia é que chegamos muito perto de textos com consenso total", disse Azevêdo nesta semana ao concluir as negociações em Genebra, voltando ao papel de incentivador. "A má notícia é que deixamos de tomar as decisões difíceis (...). Se falharmos de novo, vamos nos arrepender ainda mais, a custos bem maiores."
Fonte: Folha de S. Paulo
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