A economia mundial necessita de uma nova estratégia para acelerar o crescimento. A recuperação após a crise financeira continua decepcionando. Cada novo dado econômico desanimador aumenta o receio de que estamos fadados a muito tempo de crescimento pífio.
Há agora um reconhecimento cada vez maior de que isso pelo que o mundo está passando não é o ciclo usual de recessão e recuperação visto depois da Segunda Guerra. É pior. É diferente. É crônico. E será muito difícil para qualquer país colocar a economia mundial nos trilhos sem a ajuda dos outros.
Há menos consenso quanto à solução. Os economistas americanos Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro, e Paul Krugman, ganhador do prêmio Nobel e colunista, receitam muito mais gastos do governo em infraestrutura. Já os parlamentares do oposicionista Partido Republicano argumentam que reduzir o endividamento do governo, agora e no futuro, vai levar as empresas a contratar e investir mais.
Os alemães estão tentando exportar mais, para compensar a frugalidade de seus consumidores e empresas no mercado interno, e prescrevendo austeridade para os países em dificuldade do sul da Europa. Os britânicos, por sua vez, estão tentando apertar os cintos, relaxar a política monetária e desvalorizar a libra para estimular as exportações.
Os japoneses estão emitindo uma grande quantidade de dinheiro e enfraquecendo o iene enquanto o governo de Shinzo Abe tenta se decidir sobre políticas fiscais conflitantes — aumentar os impostos ao consumidor para reduzir a dívida pública ou alavancar os gastos para impulsionar o crescimento — e anda devagar com a desregulamentação. Os chineses, enquanto isso, prometem que vão depender mais dos gastos de consumidores e menos das exportações e investimentos em infraestrutura, mas não dizem claramente nem quando nem como.
Na maioria dos casos, as principais economias estão dependendo demais de seus bancos centrais e das exportações.
Nos Estados Unidos, Japão, Reino Unido e zona do euro, os bancos centrais vêm fazendo as economias crescerem com uma mistura de juros baixíssimos, palavras tranquilizadoras e grandes emissões de dinheiro para comprar ativos. Essas práticas, embora objetos de intenso debate, são e vão continuar sendo uma boa maneira de evitar uma nova Grande Depressão.
Mas a política monetária não pode resolver sozinha problemas econômicos crônicos.
Tanto Ben Bernanke, presidente do Fed, o banco central americano, como sua sucessora, Janet Yellen, já disseram isso, ainda que discretamente. O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, vem sendo mais enfático, dizendo aos líderes da zona do euro "para se concentrar menos em gerenciar a crise no curto prazo e mais em construir uma economia com mais estabilidade, crescimento e emprego".
Para qualquer país, principalmente aqueles atolados em dívidas, faz mais sentido apertar os cintos internamente, enfraquecer a moeda e focar nas exportações. Mas nem todo mundo pode fazer isso ao mesmo tempo; alguém tem que importar. Países com grandes superávits — Alemanha e China — precisam comprar mais que os países devedores para que estes possam reduzir suas dívidas. Não é fácil, obviamente, vender essa ideia para políticos alemães e chineses naturalmente hesitantes em colocar em perigo tantos empregos ligados à exportação.
Ponha tudo isso junto: uma política monetária remando contra a corrente, política fiscal equivocada, foco demais em evitar problemas no curto prazo e de menos em nutrir um crescimento de longo prazo, muita conversa sobre reformas e pouca ação, países demais dependendo da demanda externa para compensar a fraqueza da interna. Não é de se surpreender que a economia mundial esteja crescendo tão lentamente. Perguntei esta semana a um veterano de políticas para a economia mundial como poderíamos melhorar. Ele deu três sugestões:
Primeiro, os responsáveis pelas políticas econômicas precisam reconhecer que esse não é um ciclo comum. Os governos podem e devem compensar a fraca demanda do setor privado com cortes de impostos ao consumo, mas têm também que entender que só isso não é suficiente. Eles precisam despertar e fazer o que puderem para aumentar a confiança de empresas e consumidores e encorajá-los a gastar — lidando, por exemplo, com os déficits orçamentários de longo prazo e falhas no sistema educacional nos EUA, criando uma união bancária na Europa e realizando a desregulamentação no Japão.
Segundo, a rodada de Doha (as negociações entre países desenvolvidos e em desenvolvimento para reduzir barreiras comerciais) tem que ser esquecida. Ele sugeriu que os países desenvolvidos busquem pactos entre EUA e Europa, EUA e Ásia, e Europa e Ásia para reduzir barreiras comerciais e dar às suas próprias empresas mais razões para investir, obrigando, com isso, os mercados emergentes a fazer concessões.
Terceiro, talvez, com a ajuda do Fundo Monetário Internacional, as grandes economias necessitem dar às outras garantias de que vão adotar políticas inteligentes visando um crescimento mundial maior e mais equilibrado. Os que foram orientados a apertar os cintos e exportar mais, por exemplo, precisam saber que os outros vão comprar mais. Em troca do relaxamento das dívidas, países devedores têm que convencer os credores de que farão as reformas prometidas.
Nenhuma dessas sugestões é fácil de ser implementada; elas talvez nem sejam as melhores opções. Mas deixar as coisas como estão é se arriscar a décadas de economia estagnada.
Fonte: The Wall Street Journal
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