Possibilidade de aportes em infraestrutura e foco no aumento do consumo interno vai atrair o mesmo perfil de investimento do Brasil
São Paulo - A ampla reforma proposta pelo governo da China prevê a redução de barreiras para a entrada de capital estrangeiro no país. A participação de investidores privados em empresas estatais vai aumentar em até 15% e setores-chave da economia, como serviços e tecnologia, poderão receber aportes de companhias internacionais. Estas metas podem contribuir para afastar o interesse do investidor estrangeiro pelo Brasil.
Há 28 anos, a China recebe mais Investimento Estrangeiro Direto (IED) do que o Brasil. Há 19 anos, é o segundo maior alvo de investimento internacional, atrás apenas dos Estados Unidos. O baixo custo para implantação de fábricas e asfacilidades para exportação são, historicamente, seus principais atrativos. No entanto, a reforma prevê impulsionar também o consumo interno, justamente o principal trunfo do Brasil para atrair capital externo.
"Estamos em situação ingrata. Ao mesmo tempo em que continuamos sendo um polo de atração de investimentos, o volume desses aportes vêm decrescendo desde o ano passado. A tendência é que diminuam ainda mais como reflexo da redução do consumo interno [efeito do fraco desempenho da economia], e este é justamente o quesito que a China deve incrementar", afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transacionais e Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima.
IED
No ano passado, o Brasil recebeu aportes de US$65 bilhões e ocupou a quarta colocação no ranking do fluxo de IED da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). A previsão é que o valor encolha para US$ 60 bilhões neste ano. A China figurou em segundo lugar nesta lista, ao receber US$ 212 bilhões de IED em 2012.
Na avaliação do especialista em economia internacional da Fundação Instituto de Administração (FIA) José Roberto de Araújo, o que mais pode prejudicar o interesse dos investidores pelo Brasil nos próximos anos é a baixa taxa de crescimento.
"Quando as empresas estudam alocar os recursos em outro país, a avaliação é sempre de longo prazo. Neste quesito, enquanto a China mostra potencial de crescimento a taxas superiores a 4% ao ano, o Brasil precisa ainda colocar em prática as reformas [política e tributária] para que o PIB cresça acima de 3%. Caso isso não aconteça, vamos deixar definitivamente de figurar entre os cinco principais mercados", disse. O economista prevê que a China deve cada vez mais atrair mais investimentos que o Brasil. "Por lá, as decisões tomadas são implementadas. Aqui, há muita discussão e pouca ação", criticou Araujo.
Lima, da Soobet, destaca que o aumento da porcentagem para investimento estrangeiro nas estatais chinesas, abre espaço para a entrada também na área de infraestrutura, em companhias de serviços de transporte, energia e saneamento. "Podemos prever um aumento da intensidade de investimento direto na China não mais em plantas novas e também em plantas já existentes, essa é a novidade", afirmou.
Em uma visão mais otimista, o diretor do BricLab da Universidade de Columbia, Marcos Troyjo, não considera as mudanças na China como uma ameaça. "Uma parte substantiva de investidores estrangeiros não têm confiança de fazer aportes neste país por conta das falta de clareza nas regras de investimento. As regras de governança dos fundos de pensão dos Estados Unidos ou Europa, por exemplo, não permitem a compra de participação em empresas chinesas", afirmou.
No entanto, o sócio-fundador do Noronha Advogados, com escritórios em Pequim e Xangai, Durval de Noronha Goyos Junior, defende que a insegurança jurídica se assemelha com a do Brasil, uma vez que o governo identifica e procura atacar as vulnerabilidades. "A China é um país em desenvolvimento e as regras foram gestadas em 2001, depois da aprovação da nação na Organização Mundial do Comércio", disse.
Fonte: Brasil Econômico
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