Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Mais trabalhadores latinos optam por imigrar para países vizinhos

Parece o autêntico sonho americano de um imigrante: todo mês, Marco Antonio Serna envia US$ 500 para os pais, a esposa e a filha de 16 anos, que estão na Colômbia. Só que Serna não migrou para os Estados Unidos em busca de trabalho. Ele foi para o Chile, onde trabalha num pequeno cassino nos arredores de Santiago.

"Há uma grande comunidade de colombianos aqui", diz o imigrante de 43 anos.

Numa mudança importante e notável nas correntes migratórias mundiais, milhões de trabalhadores não estão mais imigrando para os EUA tanto quanto costumavam em busca de empregos mais bem pagos que permitiam a eles mandar dinheiro par suas famílias na América Latina, Caribe e Ásia. Em vez disso, eles estão indo para economias em desenvolvimento, gerando uma mudança nos volumes de dinheiro transferidos de países como o Brasil, Chile e Malásia.

Há dez anos, a Western Union, WU -0.84% maior firma de transferência de dinheiro do mundo, gerava mais de 50% de sua receita nos EUA. Em 2012, esse número caiu para 30%. No total, a empresa movimentou US$ 79 bilhões em transferências de dinheiro no ano passado.

A maioria dos especialistas não espera que os EUA percam sua posição de maior fonte de remessas de dinheiro do mundo. Mas a mudança, que está permitindo que um maior número de imigrantes trabalhe mais perto de seus países de origem, continua num ritmo estável apesar das recentes desacelerações em algumas economias de mercados emergentes.
[image]
"Um longo período de crescimento nos mercados emergentes criou oportunidades crescentes nas economias em desenvolvimento mais ricas", disse Kenneth Rogoff, professor da Universidade Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional.

As remessas de imigrantes no mundo todo ultrapassaram US$ 518 bilhões em 2012, segundo o Banco Mundial, quase 3% acima do total de 2011. O banco projeta que o número vai chegar perto dos US$ 550 bilhões este ano. As transferências, que são cruciais para diminuir a pobreza em vários países, são o triplo da ajuda estrangeira ao mundo em desenvolvimento. Em muitos países, elas proporcionam uma fonte mais estável de moeda estrangeira do que o investimento estrangeiro direto.

As remessas entre países são vistas como um dos poucos indicadores confiáveis de onde os imigrantes estão trabalhando, já que muitos são imigrantes ilegais.

"Estamos vendo países exercerem uma atração regional" para os imigrantes, disse Odilon Almeida, presidente da Western Union para as Américas. "As pessoas que pensavam 'só nos EUA' agora preferem a opção de trabalhar em um país onde é mais fácil de entrar."

O Chile, a Malásia e outros países vão continuar a fornecer matérias-primas, como borracha e cobre, para economias pujantes como a China e a Índia, mesmo que elas desacelerem. Segundo Gordon Hanson, um economista da Universidade da Califórnia, em San Diego, que estuda remessas e migração, "você precisaria de uma grande implosão na China ou Índia para reverter esse novo padrão de remessas".

Imigrantes também estão formando redes que estão enraizando-os em alguns mercados emergentes, disse Hanson. E o aumento da vigilância na fronteira com os EUA continuará tornando os novos destinos mais atraentes para os imigrantes.

Colombianos e peruanos afluíram ao Chile para trabalhar no setor de serviços e ao Panamá para ajudar a expandir o canal e o aeroporto, bem como construir um novo sistema de metrô na Cidade do Panamá. No Brasil, bolivianos estão trabalhando em confecções e comerciantes chineses vendem seus produtos para uma classe média em expansão. Imigrantes de Bangladesh, Índia e Vietnã estão empregados no aquecido setor de eletrônicos da Malásia.

Os países em desenvolvimento estão atraindo até trabalhadores de economias desenvolvidas, mas estagnadas, como Portugal e Espanha. A crise europeia deflagrou uma "migração para fora em países que antes recebiam imigrantes", disse Dilip Ratha, um economista do Banco Mundial especializado em remessas internacionais.

"O que estamos vendo agora é o início de uma nova tendência ... que vai se acentuar daqui para frente", disse ele.

Quase 44% dos imigrantes do Chile têm curso superior, segundo o governo. O país vem atraindo espanhóis e equatorianos que antes viviam na Espanha, além de colombianos, dominicanos e outros historicamente ligados aos EUA.

Portugal se tornou um receptor líquido de transferências de dinheiro: US$ 3,9 bilhões entraram no país em 2012 comparado com uma saída de US$ 1,2 bilhão no ano, segundo o Banco Mundial. Os técnicos portugueses estão se estabelecendo em Angola, a antiga colônia portuguesa rica em petróleo, e no Brasil, que tem escassez de mão de obra especializada.

O português Luis Miguel Cardão Gomes, de 39 anos, mudou-se para o Brasil em 2008, no começo da crise europeia. Ele abriu uma loja de conserto de celulares e comprou uma casa em Goiânia. Todo mês, ele envia 250 euros para sua filha de 9 anos, Almada, "o que faz uma enorme diferença", diz ele.

As remessas interregionais na América Latina costumavam ser limitadas a pequenos corredores: nicaraguenses trabalhando na Costa Rica e bolivianos trabalhando na Argentina, diz Paul Dwyer, diretor-executivo da Viamericas Corp., uma empresa de transferência de dinheiro que atua na América Latina.

A criação do Mercosul permitiu que cidadãos da Argentina, Bolívia, Paraguai e Venezuela trabalhem legalmente nos países do bloco de livre comércio. Mesmo que as economias dos países mais prósperos do Mercosul, como o Brasil, tenham se enfraquecido um pouco, os empregos no país ainda tendem a ser muito mais bem pagos que nos vizinhos mais pobres.

Dez anos atrás, o Chile era um recebedor líquido de remessas, recebendo 70% do total dos recursos que cruzava as fronteiras do país, segundo a Western Union. No ano passado, a distribuição das remessas processadas pela empresa foi de 40% entrando e 60% saindo, uma proporção que vem se mantendo este ano.

"As remessas são uma necessidade, não um luxo", para os remetentes e suas famílias, disse Fabio Mello Fernandez, gerente da mesa de remessas do Banco Paulista, do Brasil, especializado em câmbio.

A Afex, uma empresa de transferência de Santiago, afirma que há cinco anos praticamente lidava apenas com transferências de chilenos vivendo nos EUA, Canadá e Espanha e hoje ajuda imigrantes no Chile a mandar dinheiro para casa em qualquer lugar da América do Sul, Caribe e Espanha.

"Mal havia imigrantes aqui há dez anos", diz o gerente geral Andrés Aguilar. "Nossa empresa teve que se adaptar." As filiais funcionam sete dias por semana em bairros de imigrantes e a receita da Afex aumentou mais de 30% por ano nos últimos cinco anos, segundo ele.

No Brasil, remessas para o exterior representam agora 40% das transferências da Western Union, um salto com relação aos 10% de 2002, de acordo com a firma, e o mercado segue crescendo. Trabalhadores de vários níveis de qualificação devem continuar chegando à medida em que o país investe em infraestrutura para se preparar para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

"Mais países estão reconhecendo que precisam de migrantes para o seu bem-estar econômico", diz Scott Scheirman, diretor financeiro da Western Union, acrescentando que a empresa tem visto um crescimento anual de dois dígitos nos últimos anos.

Quanto aos EUA, eles devem continuar dominando as transferências de dinheiro graças ao contínuo fluxo de mexicanos e centroamericanos em busca de trabalho. Mas Serna, da Colômbia, diz que teve seu pedido de visto para os EUA rejeitado duas vezes. Segundo ele, no Chile ele tem autorização de trabalho e "todos os documentos em ordem". Ele diz que não sonha mais com os EUA. "Aqui eu tenho estabilidade".

Fonte: The Wall Street Journal

Nenhum comentário:

Postar um comentário