Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Insistência no erro

O apoio irrestrito a Dirceu, Genoino e Delúbio faz do PT o único partido que, em vez de punir seus membros envolvidos em malfeitos, os abraça e prestigia

O mensalão era a oportunidade perfeita para que o Partido dos Trabalhadores (PT) fizesse uma “refundação”, rejeitando os desvios cometidos por vários de seus membros mais destacados e mostrando que o discurso de defesa da ética que marcava o partido em sua época de oposição era realmente sincero, em vez de uma muleta para conquistar os eleitores. No entanto, capítulo após capítulo da novela, a direção do partido e muitos de seus membros se apegaram à defesa de José Dirceu, José Genoino, Delubio Soares e João Paulo Cunha. A reação do partido à prisão dos três primeiros mostra que, entre refundar-se e insistir no erro, o PT vem preferindo a segunda opção.

Militantes da Juventude do PT, os mesmos que já tinham feito uma vaquinha para ajudar os mensaleiros a pagar suas multas, fizeram vigília diante da Penitenciária da Papuda, em Brasília. Nos cartazes, prevalecia a tese de “julgamento de exceção” e de que Dirceu, Genoino e Delúbio eram “presos políticos”, um insulto às instituições democráticas brasileiras. A nota oficial do partido, emitida logo após as prisões, assinada pelo presidente da legenda, Rui Falcão, “reafirma a posição anteriormente manifestada em nota da Comissão Executiva Nacional, em novembro de 2012, que considerou o julgamento injusto, nitidamente político, e alheio a provas dos autos”. O vice-presidente da Câmara, o paranaense André Vargas, insinuou que o presidente do STF, Joaquim Barbosa, age por “interesse político ou pessoal”.

Aqui é preciso diferenciar duas situações. É legítimo criticar as circunstâncias exatas do início do cumprimento da pena dos mensaleiros. Por mais que esse tenha sido um momento catártico para uma nação, como dissemos no domingo, acostumada às pizzas que costumam caracterizar o desfecho da maioria dos casos de corrupção, há alguns aspectos questionáveis e que mereceriam análise mais atenciosa. Deixar em regime fechado, ainda que por alguns dias, condenados ao regime semiaberto foi um erro crasso, bem como levar a Brasília todos os presos, quando o correto seria fazê-los cumprir pena o mais próximo possível de seus domicílios. No caso específico de José Genoino, não há dúvidas de que, por causa de seu estado de saúde, ele deveria passar para a prisão domiciliar – assim como Roberto Jefferson, quando ele começar a cumprir sua pena. Aliás, é preciso lembrar que lutar pelo cumprimento da lei também implica não buscar privilégios como as visitas que os petistas da Papuda vêm recebendo fora dos dias regulamentares, o que vem revoltando as famílias dos demais presidiários.

No entanto, a linha petista não se limita a buscar as garantias legais de seus membros condenados para que tenham tratamento condizente com a lei. A argumentação das lideranças se baseia no apoio irrestrito a Dirceu, Genoino e Delúbio. Isso faz do PT o único partido que, em vez de punir seus membros envolvidos em malfeitos, os abraça e prestigia. Para comparar, recordemos o caso do ex-senador Demóstenes Torres, que precisou pedir desfiliação para escapar do processo de expulsão que o Democratas abriu contra ele assim que foram reveladas suas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Mesmo o PMDB, que abriga em seus quadros políticos cujo senso ético é muito questionável, expulsou sumariamente o deputado Natan Donadon, condenado pelo STF por formação de quadrilha e peculato. O PT até expulsou Delúbio Soares em 2005, mas o recebeu de volta, de braços abertos, seis anos depois.

Um dos motivos pelos quais o partido prestigia seus criminosos é a convicção profunda de que, na verdade, eles não fizeram absolutamente nada de errado e que merecesse punição. Tal convicção nasce de um outro princípio muito caro ao marxismo, o de que os fins justificam os meios. A moralidade de um ato deriva de seus objetivos; assim, a manutenção do projeto de poder petista tornaria eticamente aceitáveis as piores práticas, inclusive o mensalão. Sabemos que há muitos petistas que não compartilham dessa maneira de pensar. É triste que, hoje, eles tenham sua voz abafada por aqueles que defendem entusiasticamente os mensaleiros. Que os militantes comprometidos com a ética saibam romper esse bloqueio e ser protagonistas de uma mudança que coloque o PT no rumo da moralidade.

Fonte: Gazeta do Povo

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