Por trás do sucesso das exportações da Alemanha está uma enorme rede de promoção e vendas que vem alimentando o superávit comercial do país, a ponto de criar atritos com seus aliados europeus e os Estados Unidos.
O já grande superávit alemão no comércio e na renda dos investimentos subiu quase 18% em setembro comparado com o mesmo mês de 2012. Ao mesmo tempo, os novos dados mostraram uma pequena queda nos saldos dos outros países da zona do euro.
O Banco Central Europeu informou na segunda-feira que o superávit em conta corrente dos 17 países da zona do euro cresceu menos de 4%, para 13,7 bilhões de euros (US$ 18,5 bilhões) em setembro — menos que o superávit individual da Alemanha, de 20 bilhões de euros. O saldo em conta corrente de um país é a medida mais abrangente da balança comercial e da renda líquida proveniente de investimentos.
Tais dados colocaram a Alemanha na berlinda por estar fortalecendo sua economia através de vendas ao exterior em vez de estimular o consumo interno. No mês passado, o Departamento do Tesouro dos EUA afirmou que a estratégia da Alemanha de priorizar as exportações, sem um esforço semelhante para aumentar a demanda doméstica, dificulta a recuperação europeia, o que por sua vez prejudica a economia mundial. Na semana passada, a União Europeia anunciou que vai analisar se a balança comercial da Alemanha infringiu metas econômicas para os 28 países do bloco.
Mas há uma razão, às vezes subestimada, para o sucesso das exportações da Alemanha: uma discreta, mas sofisticada, rede mundial de representantes montada ao longo de décadas para alavancar as exportações mesmo das menores empresas alemãs.
As Câmaras de Comércio da Alemanha no exterior têm 120 escritórios em 80 países e contam com 1.700 funcionários para promover os interesses comerciais alemães.
"Não acho que é culpa da Alemanha" que o país tenha um superávit nas exportações, disse Emma Marcegaglia, empreendedora italiana que preside o Business Europe, um grupo de lobby que representa 35 países. "A verdadeira diferença está no seu sistema."
O sistema liga as câmaras comerciais no exterior a 80 câmaras regionais espalhadas pela Alemanha e recebe fundos tanto das empresas como do governo. Os empresários dizem que essa amplitude e integração fazem uma grande diferença, especialmente para as centenas de pequenas e médias empresas do país, muitas delas familiares.
Essas são empresas como a Flösser GmbH, uma fornecedora de faróis e buzinas de automóveis que tem 12 funcionários e fica na cidade de Trier. Quando o dono da firma, Hans Otto Flösser, decidiu, no ano passado, exportar para o Vietnã, o distante mercado asiático não pareceu assim tão desafiador.
Flösser, que já exportou para cerca de 100 países, recorreu à Câmara de Comércio Alemanha-Vietnã, na cidade vietnamita de Ho Chi Minh. Cobrando uma taxa modesta, segundo ele, a câmara realizou pesquisas de mercado, identificou possíveis distribuidores e conversou com vários deles.
Quando Flösser voou para lá para encontrar os candidatos, a câmara havia agendado visitas, contratado tradutores e até arranjado um carro com motorista para ele. Após apenas alguns dias,
Flösser fechou um contrato com um distribuidor. O que ganhou com a sua primeira remessa de produtos foi mais que suficiente para pagar a taxa cobrada pela câmara comercial, disse ele. "Acho que teria sido muito difícil para nós, como estrangeiros, entrarmos no Vietnã" sem ajuda, diz ele.
A experiência de Flösser é típica, dizem executivos alemães. Autoridades das câmaras internacionais dizem que ajudam cerca de 50.000 empresários anualmente. Nenhum país ocidental chega perto do apoio que a Alemanha dá às suas pequenas empresas no exterior. Alguns países asiáticos, incluindo Taiwan e Coreia do Sul, oferecem um suporte comparável, segundo especialistas em exportação.
"É incrível o quanto os alemães são fortes no exterior", disse Arnaldo Abruzzini, empreendedor italiano e secretário geral da Eurochambres, um grupo lobista de Bruxelas que representa pequenas empresas.
O impacto da forte rede de exportação da Alemanha é exacerbado ainda pela alta competitividade do país, sua sofisticada indústria de nicho e a cultura de poupar mais do que gastar. A combinação produz os enormes excedentes comerciais que estão gerando críticas. Mas a Alemanha não está procurando prejudicar os outros países, diz Andreas Rees, economista da UniCredit UCG.MI -0.58% .
O superávit comercial da Alemanha com o resto da zona do euro caiu de 5% do PIB antes da crise financeira de 2008 para 2% hoje. Seu superávit comercial está sendo gerado fora da Europa, onde a rede de exportação entra em cena. A Alemanha, por exemplo, eliminou grande parte do seu déficit comercial de 1,5% do PIB com a China nos últimos anos.
"Em vez de reclamar e culpar a China, as empresas alemãs tiraram o melhor proveito disso", disse Rees. "Isso tem mais a ver com ganhar espaço na China."
Entre o primeiro trimestre de 2008 e a metade deste ano, as exportações alemãs para o resto da zona do euro caíram 7%. Elas mais que dobraram para a Indonésia e a China e cresceram significativamente para o Brasil, a Coreia do Sul e o Oriente Médio.
Desde o estouro da crise financeira em 2008, países como EUA e Reino Unido têm analisado o modelo de exportações da Alemanha para tentar incrementar suas próprias vendas ao exterior, especialmente das pequenas empresas.
Em 2010, o presidente dos EUA, Barack Obama, lançou a Iniciativa Nacional de Exportação, prometendo dobrar as vendas ao exterior até 2015. Embora as exportações tenham crescido, o país está mais de US$ 200 milhões abaixo da meta estabelecida, segundo a Instituição Brookings. Uma das principais razões é que, embora as grandes empresas americanas estejam cada vez mais se expandindo no exterior, as pequenas e médias não mostram a mesma disposição, dizem especialistas em exportação.
Fonte: The Wall Street Journal
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