Três especialistas fazem previsões para os mercados globais.
Não é um momento fácil para consultar a bola de cristal da economia. Será que os mercados emergentes vão recuperar a força? Os Estados Unidos e a Europa vão reencontrar o caminho do crescimento? Qual o papel real que os EUA ocupam no cenário econômico mundial?
Durante a Cúpula Empresarial conduzida pelo The Wall Street Journal na semana passada, o colunista David Wessel discutiu essas questões com Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial, Glenn Hubbarb, reitor da Faculdade de Administração da Universidade Columbia, e Stanley Fischer, ex-presidente do banco central de Israel.
Seguem trechos editados.
Wessel: Dois anos atrás, alguém teria dito que o mundo desenvolvido estava emperrando e que, graças a Deus, existiam os mercados emergentes. Eles estavam sustentando a demanda global. Países como os EUA e os da Europa se tornariam cada vez menos relevantes.
Nos últimos seis meses, essas ideias foram revistas. A era de ouro dos mercados emergentes ficou para trás?
Kim: Durante os últimos seis anos, até a África cresceu a uma taxa maior que 5%. Embora tenha havido uma desaceleração, se você olhar para alguns dos maiores países, parece que a Índia terá um bom terceiro trimestre. A China chegou a uma taxa de crescimento anualizada de 9,3% no terceiro trimestre.
Não vamos ver as taxas de 10% ou mais de antes de 2008. Mas muitos dos fundamentos desses países estão numa situação muito melhor do que concebemos.
Fischer: Os mercados emergentes se saíram muito bem durante dez anos. Mas se pegarmos os Bric — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, o alicerce é a China. Os outros ainda não montaram uma estrutura que vai ser muito estável. Os chineses elaboraram um plano que no começo ninguém entendeu. E à medida que o tempo passa, ele parece cada vez melhor.
Quanto aos outros, eles têm que melhorar suas políticas. Se você tem todos os pré-requisitos, mas adota políticas que só fazem piorar, vai acabar em problemas.
Hubbard: Sem dúvida, o relaxamento do crédito foi, em grande parte, responsável pelo boom dos mercados emergentes, como pelo próprio desenvolvimento da China.
Stan está absolutamente certo: políticas são fundamentais. Há tanta atenção sendo dada à redução dos programas de estímulo do Fed [o banco central americano] e seus efeitos no mundo emergente. O Fed não é responsável pelos problemas estruturais das economias emergentes. Se você pegar a China, por exemplo, algumas das últimas mudanças econômicas foram boas, mas [o país] ainda tem um sistema financeiro cujas políticas não funcionam. Do mesmo modo, reformas estruturais também são necessárias na Índia. No mundo todo, em vez de ficar olhando para grandes fatores macroeconômicos, esses fatores têm a ver com políticas individuais.
Wessel: Vamos falar de alguns países desenvolvidos, começando com os da Europa. Eles têm alguma chance razoável de conseguir organizar suas instituições e políticas de uma forma que possam crescer a taxas que melhorem o padrão de vida das pessoas?
Fischer: Eles têm uma possibilidade razoável de conseguir isso, mas vai levar mais tempo do que é politicamente conveniente, e veremos se serão capazes de manter esse equilíbrio. Pense só numa coisa: dois anos atrás, todo mundo tinha certeza que o euro não sobreviveria. Bem, aqui está ele e as pessoas já nem estão falando sobre o seu desaparecimento. Eles [os países] estão acostumados a superar essas dificuldades, apesar de tudo. Então, estou moderadamente otimista de que vai acontecer.
Wessel: E o Japão? Eles estão mais ou menos jogando dados com as políticas.
Hubbard: As mudanças na política monetária foram muito bem-vindas. A persistente deflação japonesa foi controlada. Quanto ao governo, tenho lá minhas dúvidas. As declarações do novo governo foram, com certeza, muito animadoras no começo e continuam a ser, mas o problema real no Japão são as reformas estruturais que vêm atormentando a economia japonesa por décadas. E realmente não vejo um grande progresso nessa área.
Wessel: O que vocês ouvem falar sobre os Estados Unidos ao redor do mundo?
Kim: Se você considerar o que aconteceu em agosto de 2011, a última vez que quase tivemos um acidente [a possibilidade de os EUA não poderem pagar suas dívidas], nós acompanhamos os números atentamente. Os mercados de ações nos países em desenvolvimento despencaram 15%. O custo de financiamento subiu 75 pontos base. O que acontece aqui [nos EUA] tem um impacto muito direto no mundo em desenvolvimento.
Acredito que ainda há uma enorme admiração pela capacidade de inovar dos EUA. Todo e qualquer país no mundo está pensando no que precisa fazer para produzir uma nova geração que seja inovadora.
Minha experiência como administrador de uma universidade veio à tona com todos os líderes com quem falei. Eles estão dizendo: "O que precisamos fazer para nos tornarmos mais competitivos? O que precisamos fazer no setor primário, secundário e, principalmente, no terciário?"
A admiração por este aspecto dos EUA ainda continua muito forte. Há muitos países — a China é um, a Coreia talvez seja outro — que melhoraram muito bem seus processos. Mas a inovação real ainda está um pouco fora de alcance. Esses países querem isso e sabem que temos isso aqui nos EUA.
Fonte: The Wall Street Journal
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