Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Crise faz grandes economistas reverem antigos remédios

Há um ritual de ensino em medicina conhecido como "grand rounds" (algo como grandes rodadas) em que os sintomas, o diagnóstico e o tratamento de um caso interessante de um paciente são apresentados para um auditório de médicos e estudantes.

O Fundo Monetário Internacional promoveu uma versão dessas grandes rodadas recentemente, reunindo alguns dos maiores nomes da macroeconomia para refletir sobre as lições dos tumultuados últimos cinco anos. A paciente era a economia global. Ela sofreu um choque financeiro cuja chegada, virulência e efeitos duradouros surpreenderam quase todos os distintos médicos econômicos. Nessa cidadela de conhecimento tradicional —o FMI — tornou-se claro que as reprimendas e remédios antigos são inadequados.

A doença prolongada da economia está forçando a revisão de livros didáticos, incluindo um escrito por Stanley Fischer, elaborador de políticas econômicas e professor venerado (por Ben Bernanke, presidente do banco central americano, entre outros). A conferência foi realizada em sua homenagem.

Para os Estados Unidos e outras grandes economias, a questão mais importante já não é mais como tratar a chegada de uma forte recessão ou controlar uma febre inflacionária. É, em vez disso, como prevenir crises financeiras contagiosas e como gerenciar a doença crônica do crescimento lento demais, uma condição antes considerada isolada no caso da "década perdida" dos japoneses nos anos 90.

Paul Krugman, prêmio Nobel e colunista do jornal "New York Times", diz que os EUA já "passaram faz tempo da metade" da sua própria década perdida.

Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, disse que o risco de repetição de uma crise financeira é muito menos grave do que o de uma "crise permanente" em que há "mais jovens que continuam morando em casa porque não conseguem arranjar emprego depois de se formarem do que houve em qualquer outra década".

E os principais economistas da equipe do Federal Reserve, o banco central dos EUA, estimaram que a crise e suas consequências causaram tantos danos que, mesmo a pleno vapor, a capacidade de produção da economia dos EUA é hoje 7% menor do que seria se tivesse continuado na trajetória prevista antes da crise. Trata-se de um assombroso US$ 1 trilhão a menos por ano em bens e serviços.

Havia poucos analgésicos indicados. Os EUA foram aplaudidos por terem se mexido rapidamente forçando os bancos a levantarem capital, e a Europa foi criticada por ter agido lentamente. "É melhor corrigir problemas bancários e de dívida rapidamente", diz Fischer.

O novo pragmatismo não veio acompanhado de um consenso sobre a cura para o crescimento persistentemente lento. Alguns poucos defendem aumentos de gastos em infraestrutura. Um relatório do Fed confirmou que o banco está pelo menos estudando medidas mais ousadas, como apostar numa inflação acima da meta de 2% por um tempo. Mas nada grande é iminente.

Summers, assustado pelo fato de haver tão pouco alarde com relação ao crescimento desprezível, alertou sobre os problemas de "uma agenda política que está fazendo menos com a política monetária do que foi feito antes, fazendo menos com a política fiscal do que foi feito antes". O ex-economista do Fed Andrew Levin implorou aos acadêmicos para que trabalhem mais rápido que o normal porque os elaboradores das políticas fiscal e monetária precisam de respostas agora.

Para as economias pequenas, houve uma mudança na prescrição para manter a saúde econômica. Antigamente, o FMI e economistas influentes, como Fischer, recomendavam que os mercados emergentes fixassem a taxa de câmbio (atrelando-a ao euro ou ao dólar, por exemplo) ou deixassem que suas moedas flutuassem livremente à medida que o capital global se arrastava pelas fronteiras. Era imprudente, diziam, ficar no meio termo.

As discussões deixaram claro que esse não é mais o consenso. Quando a crise financeira produzida nos EUA estourou, vários mercados emergentes na América Latina e na Ásia se saíram melhor que outros com uma mistura de compra e venda de moeda para influenciar as taxas de câmbio e controlar o fluxo de capital. Mesmo o Banco de Israel, de Fischer, vendeu shekels para segurar a valorização da moeda, que estava ameaçando as exportações do país, e acumular reservas em moeda estrangeira.

O FMI abandou sua rejeição, outrora absoluta, de controle sobre os fluxos de capital entre países. A experiência recente argumenta que é melhor que os países permitam a flutuação das suas moedas do que defendam taxas de câmbio fixas supervalorizadas. Mas o FMI ainda não formulou uma visão clara sobre qual o melhor regime de câmbio para as economias menores. Ele não tem uma.

A Coréia do Sul, Tailândia, Indonésia e Malásia não estão esperando por uma orientação. Esses países viram quanto dinheiro mudou de lugar no mercado quando apenas se falou sobre a possibilidade de o Fed reduzir em breve uma das suas principais medidas de estímulo monetário. Eles estão chegando à conclusão de que estar completamente exposto aos caprichos do mercado deixa suas economias em risco e estão fazendo experiências com intervenções tanto no câmbio como nos controles de capital.

Os economistas oferecem com frequência receitas e dizem que a política de como implementá-las é um problema dos outros.

Mas Mohamed el-Erian, uma ex-autoridade do FMI que hoje comanda e gere os recursos da americana Pimco, disse que essa visão está ultrapassada. "Não podemos falar sobre políticas econômicas sem falar sobre política", disse.

Fonte: The Wall Street Journal

Nenhum comentário:

Postar um comentário