Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Câmbio não contribui para resultados da indústria

Além de ser pouco para dar um alento ao setor industrial, vem pressionando a inflação e o PIB

Brasília - No patamar de R$ 2,30 e oscilando, o câmbio deverá ter impacto negativo sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo semestre. Além de pressionar a inflação, como demonstrou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, a desvalorização do real não chega a impedir a competição com importados, como indicaram os últimos resultados da indústria. "O dólar neste patamar é pouco para dar à indústria uma competitividade inconteste", diz o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Julio Gomes de Almeida, do Instituto para Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O economista Luiz Fernando de Paula, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Uerj), concorda: "A volatilidade do câmbio reduz a previsibilidade, o que é ruim para o empresário, aborta decisões de investimento e produção e compromete os resultados. E o patamar atual também não ajuda".

Julio Gomes diz que R$ 2,40 seria o patamar capaz de permitir à indústria um nível de competitividade mais robusto em relação a importados, mas ressalva: "A taxa de R$ 2,30 não é ideal, mas também não é de se jogar fora. O problema é que, com o câmbio instável, o empresário não decidirá produzir mais ou exportar mais. Ele fica paralisado". Gomes acrescenta que parte do comportamento fraco da indústria nos últimos meses é devido à evolução cambial incerta. "Como câmbio instável, o empresário não toma a decisão de trocar o seu fornecedor externo por outro interno", exemplifica André Macedo, gerente de Análise e Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O adiamento da troca adia igualmente o benéfico efeito multiplicador que o uso de fornecedores brasileiros teria para a economia. Segundo Julio Gomes, para que a indústria seja capaz de aproveitar o novo patamar do câmbio em seus negócios, seja ele R$ 2,30 ou R$ 2,40, é necessária alguma estabilidade por ao menos por um ano.

Na análise divulgada na última semana, o Iedi classificou como "fraco" o desempenho da indústria ao analisar resultados mais recentes divulgados pelo IBGE. O Iedi apontou a "perda de fôlego" da produção industrial ao longo do ano. Apesar de ter avançado 0,7% em setembro em relação ao mês anterior, produção industrial brasileira mostrou uma retração de 1,4% no trimestre de julho a setembro, em relação ao trimestre imediatamente anterior, conforme o Instituto. "Significa uma desaceleração das taxas de crescimento da indústria em geral em 2013 - que, aliás, já eram tímidas: 0,9% no primeiro trimestre e 1,0% no segundo", diz o texto. "Essa desaceleração se repete em todas as categorias de uso. Mesmo no setor de bens de capital - que vem puxando fortemente o crescimento da indústria em 2013 - houve pronunciada desaceleração no terceiro trimestre, após registrar taxas de 9,4%, 4,2% e 1,4%, respectivamente, no primeiro, segundo e terceiro trimestres".

De acordo com o Iedi, com o resultado da indústria em setembro e no terceiro trimestre, a expectativa é de que o quarto trimestre seguirá no mesmo ritmo, "projetando-se um avanço da produção industrial que poderá ser inferior a 2,0% em 2013, uma taxa que não recompõe a queda de 2012, que foi de 2,6%".

O impacto do câmbio na inflação vem ocorrendo via alimentos. A elevação do IPCA em outubro (0,57%), acima do índice de setembro (0,35%), foi puxada principalmente por farinha de trigo, frango e carnes, além do tomate. De acordo com Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, o dólar influencia diretamente os preços do trigo e isso ajuda a espalhar a inflação em alguns itens importantes na alimentação, especialmente os básicos como o pão francês e o macarrão. "A pressão do dólar inicia nos alimentos e é mais visível, principalmente, nas commodities, como o trigo", ressaltou ela na divulgação do IPCA. Além disso, em situações de queda do dólar, dificilmente haverá repasse para o consumidor. "Em um período em que o câmbio está um pouco mais acomodado, nem sempre é possível observar a influência sobre os preços", afirmou a especialista do IBGE.

CÂMBIO E INDÚSTRIA

12 meses: Horizonte de tempo necessário para a indústria reagir e se beneficiar do câmbio a R$ 2,30 ou R$ 2,40.

2%: Patamar decrescimento que dificilmente será atingido pela produção industrial em 2013, segundo projeção do Instituto para Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Fonte: Brasil Econômico

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