Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Boom de emissões de dívida e ações gera riscos ao mercado

Justo quando os mercados financeiros americanos estavam se recuperando da turbulência em Washington, um novo sinal de perigo começa a ser visto, na forma de uma enxurrada de emissões de ações e títulos de dívida.

Muitas pessoas não veem nenhum problema nesse quadro. Elas consideram toda a atividade emocionante, como a euforia ao redor da oferta inicial de ações de US$ 2,1 bilhões do Twitter Inc. TWTR -1.82% mostrou. O processo alimenta o empreendedorismo e as emissões de títulos são como leite materno para as corretoras, gerando enormes lucros.

Mas quando novas emissões se tornam tão gigantes como nos níveis atuais, pode significar que os mercados estão superaquecendo e se preparando para reverter alguns ganhos. É por isso que alguns investidores experientes não estavam em clima de festa na abertura de capital do Twitter.

As empresas estão correndo para emitir ações e títulos de dívida porque os mercados estão elevados, oferecendo ótimas cotações para os vendedores, diz Michael Farr, presidente da Farr, Miller & Washington, firma que administra uma carteira de mais de $ 950 milhões em Washington. Os emissores estão aproveitando as condições atuais antes que elas desapareçam. Isso faz com que os investidores experientes façam a pergunta clássica: se o dinheiro inteligente está vendendo, deveríamos estar comprando?
"Eu não ficaria surpreso com uma correção do mercado nesse ponto. Acredito que ninguém ficaria", diz Farr. Uma correção significa uma queda de 5% a 15%, menos intensa que o declínio de 20% que marca a entrada dos mercados numa fase pessimista.

Até agora, no ano, as empresas americanas captaram US$ 51 bilhões com ofertas iniciais de ações, segundo dados da Dealogic. É a maior soma desde 2000 para o mesmo período, quando foram captados US$ 63 bilhões — mas aquele foi o ano em que as bolhas de tecnologia e de aberturas de capital estouraram.

As ofertas secundárias por empresas que já negociavam ações foram ainda maiores, com o total captado ultrapassando US$ 155 bilhões este ano. É o maior montante arrecadado nos primeiros 10 meses (e alguns dias) de qualquer ano desde que a Dealogic começou a monitorar essas emissões, em 1995.

E não são só as ações. As emissões de títulos de dívida corporativa nos Estados Unidos ultrapassaram US$ 911 bilhões, também o maior montante para o período no banco de dados da Dealogic. As emissões de títulos de dívida por empresas de países em desenvolvimento superaram US$ 802 bilhões, pouco abaixo dos US$ 819 bilhões registrados no mesmo período do ano passado, que foi recorde.

Tudo isso reflete um pico dos mercados em questão.

O índice S&P de 500 ações acumula uma alta de 28% em apenas 52 semanas. Ele fechou na sexta-feira com 1.770,61 pontos, bem próximo do recorde de 1.771,95 pontos alcançado em outubro.

A situação do mercado de renda fixa é um pouco diferente. Os emissores de títulos de dívida correram para o mercado por causa de temores de que o Federal Reserve, o banco central americano, logo eleve as taxas de juros de longo prazo. Quando o Fed adiou oficialmente qualquer redução no seu programa de estímulo econômico e financeiro durante a recente crise em Washington, os juros do mercado caíram e os preços dos títulos de dívida aumentaram. As empresas aproveitaram a oportunidade para emitir títulos com juros reduzidos.

Mas, na sexta-feira, um relatório sobre a geração de empregos em outubro mais forte que o esperado reacendeu as expectativas de que o Fed reduza o estímulo em breve. Isso elevou os juros de longo prazo, fazendo alguns concluir que a fase de juros excepcionalmente baixos e preços altos dos títulos de dívida, de fato, está chegando ao fim.

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O boom de emissões de ações e dívida não significa necessariamente que os mercados estão próximos a um colapso. Os investidores demonstraram no passado que podem levar os mercados a extremos.

"Antes que o mercado atinja um verdadeiro pico, veremos um excesso de excessos. Veremos um divórcio real entre fundamentos que apoiam [os ativos] e as cotações das ações", diz Farr. As coisas não estão tão ruins ainda, acrescentou.

Isso não tranquiliza James Barksdale , presidente da Equity Investment Corp , que administra US$ 4,1 bilhões em Atlanta.

"As pessoas estão se tornando complacentes em relação ao risco", disse.

Ele considera que a enxurrada de aberturas de capital e emissões de dívida são apenas dois de vários sinais de alerta. Ele aponta também para o fato de que ações de empresas com finanças fracas têm superado as ações de empresas maiores e mais seguras.

Jay Ritter, professor de finanças especializado em aberturas de capital da Universidade da Flórida, diz que os dados sobre emissões de ações e dívida apontam para um aquecimento do mercado, mas ele não está preocupado.

Ritter calcula que 62% das aberturas de capital este ano foram de empresas que perdem dinheiro. Esse é o percentual mais alto desde que começou a compilar os dados, em 1975, com exceção de 1999 e 2000, no auge da bolha da tecnologia. A média durante a última década é de 47%. Mas a alta se deve a uma onda de aberturas de capital no setor de biotecnologia, diz ele. Ao contrário da era da bolha da internet, diz, "não estamos vendo um monte de empresas marginais abrindo capital".

Fonte: The Wall Street Journal

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