Uma série de eventos repentinos e adversos transformou, em questão de semanas, o forte otimismo sobre o crescimento da economia global este ano em uma profunda sensação de angústia nos mercados.
Os sinais de perigo são abundantes: declínio nas bolsas em todo o mundo, dados econômicos decepcionantes nos Estados Unidos e na China, aumentos acelerados das taxas de juros nos principais países em desenvolvimento e sinais de insatisfação em relação aos lucros das empresas. Essa combinação de fatores está emitindo alertas de que a recuperação da economia mundial pode não contar com uma base tão sólida quanto parecia no início de 2014.
Outro indicador importante, a estimativa de crescimento do emprego nos EUA em janeiro, será divulgado pelo Departamento do Trabalho amanhã. O relatório, como outros divulgados recentemente pelos EUA, pode oferecer indícios pouco claros sobre a direção da economia devido a peculiaridades relacionadas ao inverno severo no país, o que só gera mais incerteza quanto às perspectivas econômicas.
Os investidores têm debatido o que está por trás da repentina queda global nas ações. Entre as possíveis causas está a iniciativa do Federal Reserve, o banco central americano, de reduzir seu programa de compra de títulos de dívida, que estimulou os mercados em 2012 e 2013. Há também receios de que a crise nos emergentes seja contagiosa.
Muitos investidores começaram 2014 pensando que os EUA estavam prestes a finalmente superar seu lento crescimento em torno de 2% a ano. Mas dados sobre vendas fracas no setor de automóveis, manufatura e imóveis e sobre poucas contratações geraram dúvida quanto à viabilidade de um crescimento maior.
As bolsas americanas caíram de novo ontem, ainda que pouco. A Média Industrial Dow Jones encerrou o dia com baixa de 0,03%, para 15440,2 pontos. No ano, o índice acumula queda de 6,9%. O índice Nikkei, do Japão, acumula queda de 13% no ano e o índice Hang Seng, de Hong Kong, de 8,7%. Desde o início do ano, o Euro Stoxx 50 Index caiu 4,7% e o Ibovespa recuou 9,7%.
"Talvez os EUA não tenham um ano sólido como todos estavam esperando", disse Kenneth Rogoff, economista da Universidade Harvard.
Os economistas do J.P. Morgan JPM +0.47% previram um avanço no crescimento da economia global de 2,4% em 2013 para 3% este ano, graças à melhora nos países desenvolvidos. Em nota a clientes na última sexta-feira, eles disseram que podem ter interpretado mal o crescimento que está ocorrendo. "A economia global, no ritmo em que ia no fim do ano passado, estava de fato crescendo", disse o economista-chefe global do J.P. Morgan, Bruce Kasman. Agora, o cenário econômico parece mais arriscado que antes, segundo ele.
Dados decepcionantes sobre o crescimento da China, segunda maior economia do mundo depois dos EUA, também pesaram. E à medida que bancos centrais de países emergentes, incluindo Brasil, Índia, África do Sul e Turquia, aumentaram os juros para combater a inflação, suas próprias estimativas de crescimento diminuíram.
"Talvez a China tenha um crescimento muito mais lento. Talvez problemas em mercados emergentes que antes pareciam quatro ou cinco anos distantes estejam, em vez disso, quatro ou cinco meses à frente", disse Rogoff.
As taxas de juros também estão enviando sinais de angústia. O rendimento das notas de dez anos do Tesouro americano, que tende a cair quando o cenário para o crescimento econômico e a inflação fica sombrio, recuou de 3,04% ao ano no início de 2014 para 2,62%. O mesmo ocorreu com títulos de outros países.
As expectativas para as próximas ações do Fed também estão mudando. Em meados de 2013, quando o BC começou a dar sinais de que reduziria o programa de estímulo criado para manter as taxas de juros de longo prazo baixas, os investidores pensaram que o Fed estava próximo de elevar os juros conforme a economia se fortalecia. Agora, os investidores estão apostando que o Fed vai reagir à inflação baixa e ao crescimento moderado mantendo as taxas de juros de curto prazo próximas de zero por mais tempo.
O crescimento da economia dos EUA tem ficado estagnado desde o início da recuperação. Consumidores estão relutantes em gastar, em parte porque ainda estão pagando dívidas. As empresas estão resistindo a fazer investimentos e contratar. Depois de ver os EUA crescerem a uma taxa anualizada de 3,7% no segundo semestre de 2013, o Fed e muitos economistas do setor privado acreditaram que a economia americana poderia ter um bom avanço este ano.
"Essa aceleração no crescimento que vimos no fim do ano passado certamente foi bem-vinda. Mas a minha experiência [... ] com surtos semelhantes no passado recente sugere que pode ser cedo demais para classificá-lo" como uma aceleração de fato, diz Jeffrey Lacker, presidente da regional do Fed de Richmond. Ele prevê que a economia dos EUA cresça 2% este ano.
Algumas grandes multinacionais divulgaram recentemente que algumas de suas operações internacionais que mais crescem estão sendo afetadas. A Electrolux ELUX-B.SK +1.10% AB, fabricante sueca de eletrodomésticos, está entre as que vêm tropeçando em alguns mercados emergentes. "A demanda continua caindo na América Latina, principalmente devido à desaceleração no Brasil", disse numa teleconferência o diretor-presidente, Keith McLoughlin.
Depois de crescer 7,5% em 2010, o Brasil cresceu só 1% em 2012 e em torno de 2,5% no ano passado. Na terça-feira, foi divulgado que a produção industrial no país recuou 3,5% em dezembro ante novembro, o pior desempenho mês a mês desde 2008.
Fonte: The Wall Street Journal
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