Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Mesmo mais lenta, economia da China sustenta comércio de commodities

Agricultor colhe folhas de tabaco no Zimbábue. O país espera vender US$ 1 bilhão do produto para a China este ano. Reuters
Folhas secas de tabaco empilhadas em um armazém de leilões no Zimbábue oferecem um exemplo de como a resistente demanda global da China tem poupado muitos fornecedores — mesmo num momento em que investidores fogem dos mercados emergentes temendo que o gigante asiático esteja perdendo o apetite.

Em 2013, o Zimbábue leiloou um terço de sua colheita de tabaco para o seu maior cliente, a China, captando um total de US$ 700 milhões para essa economia empobrecida do sul da África. Este mês, o governo vai dar início a seus leilões anuais de tabaco mais cedo do que o habitual, prevendo que uma safra ainda maior e a estável demanda chinesa vão gerar até US$ 1 bilhão, informou o Conselho da Indústria do Tabaco e Marketing do Zimbábue.

"Quando os tempos são bons, as pessoas fumam mais. Quando os tempos são difíceis, as pessoas fumam mais", diz Adam Molai, presidente executivo da Savanna Tobacco, fabricante de cigarros do Zimbábue. "Há um monte de pessoas na China fumando mais."

Da África à Ásia, investidores derrubaram muitos mercados emergentes ricos em commodities que foram impulsionados no passado pelo apetite voraz da China para tudo que é cultivado no solo ou extraído de minas. Mas, pelo menos por ora, a desaceleração na China não tem afetado muito seus fornecedores.

Isso porque a enorme demanda chinesa não enfraqueceu de maneira significativa e muitas economias emergentes têm agora seus próprios consumidores para ajudar a compensar a diferença. O nervosismo do mercado global, dizem economistas e executivos, reflete mais uma aposta de que o crescimento da China vai continuar a minguar que uma queda real no apetite do país.
"As pessoas estão confundindo a desaceleração do crescimento com um impacto real no PIB. O jogo não acabou", diz Charles Robertson, economista-chefe do banco de investimento Renaissance Capital. "O crescimento chinês ainda é decente, mesmo que o percentual seja mais baixo."

À medida que os investidores fugiam recentemente de mercados emergentes em todo o mundo — uma reação também à redução do programa de compras de ativos pelo banco central americano —, eles castigaram alguns fornecedores vitais para a China, como a Indonésia e a África do Sul. Suas moedas, a rupia e o rand, perderam 25% do valor em relação ao dólar no último ano.

Os investidores estão preocupados com o risco de que o crescimento mais lento da China enfraqueça a demanda por matérias-primas como carvão, níquel e borracha da Indonésia e cromo, manganês e platina da África do Sul.

A economia da China está realmente esfriando. Ela se expandiu 7,7% no ano passado, segundo o governo, a mesma taxa de 2012 e abaixo do crescimento de 9,3% registrado em 2011. Alguns analistas estão revendo suas estimativas de crescimento para este ano para pouco mais de 7%.

A corrida para atender a demanda chinesa criou mais fornecedores, como novas minas de minério de ferro na Austrália e grandes expansões na extração de níquel na Indonésia. Essa nova oferta também pesou na queda de preços desses recursos.

A perspectiva de vendas fracas de veículos na China, um número menor de prédios novos e uma queda na demanda por eletrônicos podem reduzir ainda mais a procura por metais.

Até agora, porém, a demanda por metais e minerais em geral tem se mantido estável — apesar das taxas de crescimento ligeiramente menores na China. As importações chinesas de minério de ferro somaram 73,4 milhões de toneladas em dezembro, perto do volume recorde do mês anterior e quase 20% do volume registrado no início de 2013.

Graças em parte à demanda por seus minerais e metais básicos, a África do Sul teve superávit comercial em novembro. O comércio da África com a China subiu para US$ 210 bilhões no ano passado, 6% a mais que em 2012, segundo o Standard, um banco sul-africano.

A economia da China — agora a segunda maior do mundo, depois dos EUA — não vai esgotar suas necessidades de recursos no futuro próximo, diz Nev Power, diretor-presidente da Fortescue Metals Group Ltd., mineradora de ferro australiana. Ele vê uma continuidade da migração da população chinesa rural para as cidades, o que demanda nova infraestrutura, fábricas e imóveis para acomodar essas pessoas.

Essa visão tem levado algumas empresas a desafiar os sinais do mercado. É o caso, por exemplo, da mineradora brasileira Vale e da anglo-australiana Rio Tinto, as duas maiores produtoras de minério de ferro do mundo, respectivamente.

Em dezembro, num evento em Nova York com a presença de investidores, o diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse que a firma continua otimista quanto à China. "A China vem desmentindo sucessivas análises em relação à sua desaceleração econômica", disse na ocasião, citando também a urbanização e o alto volume de divisas do país. A Vale pretende elevar sua produção mundial de minério de ferro entre 2014 e 2017 em 28%, para 411 milhões de toneladas.

A Rio Tinto, por sua vez, estima um aumento de quase 25% na sua produção até 2017. A companhia estima que a demanda chinesa por aço cresceu 7,5% no ano passado, ante 2,2% em 2012.

A demanda por automóveis na China tem alimentado a compra de petróleo da África, à medida que dezenas de milhões de chineses entram para a classe média. A mesma dinâmica, o crescimento do consumo na África, está ajudando parte do continente a se preparar para o menor crescimento da China.

Angola, o segundo maior produtor africano de petróleo, vende 40% da sua produção diária, de 1,8 milhão de barris, para a China. Autoridades dizem que a demanda estável vai estimular um crescimento de 10% na produção em 2015. Mas a nascente classe consumidora angolana está ajudando a direcionar o crescimento econômico do país.

"As pessoas têm aspirações e algumas estão gastando", diz Gustavo Fontes, diretor do grupo Odebrecht SA em Angola, que recentemente abriu uma rede de 31 supermercados para atender esses novos consumidores.

Fonte: The Wall Street Journal

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