Alguns investidores estão encontrando refúgio contra a turbulência recente nos mercados emergentes num lugar inesperado: as economias ainda menos desenvolvidas.
Esses "mercados de fronteira" estão atraindo gestores de recursos dispostos a mergulhar em mercados menores, com condições mais difíceis de negociação, para ganhar exposição a um crescimento econômico robusto.
Como eles estão fora do circuito mais óbvio dos investidores, os mercados de fronteira não foram atingidos pela onda de venda de ativos que atingiu os emergentes. Depois da crise financeira, quando as políticas de baixas taxas de juros das economias mais ricas incentivaram os investidores a buscar melhores retornos no mundo em desenvolvimento, países como Nigéria, Paquistão e Bangladesh não viram muito desse dinheiro.
Em vez disso, os mercados de fronteira viram um fluxo constante de investimento de gestores de fundos na esperança de tirar proveito de anos de crescimento rápido. Como resultado, essas economias ficaram relativamente incólumes mesmo depois que os investidores se retiraram de mercados emergentes maiores como a Turquia e a África do Sul.
O índice de mercados de fronteiras MSCI subiu 1,3% até agora no ano, em comparação com um declínio de 6,6% no índice de mercados emergentes MSCI. No ano passado, os mercados de fronteira subiram 16%, enquanto os mercados emergentes caíram 12%.
Operadores na bolsa de Karachi, no Paquistão. European Pressphoto Agency |
No mês passado, até o dia 29, os fundos que compram ações de países de fronteira atraíram US$ 244 milhões, o maior valor desde outubro, de acordo com a EPFR Global. No mesmo período, os investidores retiraram US$ 11,6 bilhões de fundos de mercados emergentes.
"Os mercados de fronteira são diversificadores muito úteis porque ... há menos ligações entre os mercados de fronteira e os mercados de capitais internacionais", diz Sean Lynch, estrategista global de investimento do Wells Fargo WFC -2.01% Private Bank, unidade do Wells Fargo & Co. que administra US$ 170 bilhões. "Somos atraídos pelas perspectivas de crescimento de longo prazo e o histórico de crescimento do consumo."
Recentemente, Lynch começou a recomendar que os clientes tenham ações em mercados de fronteira como o Vietnã e a Nigéria.
Apostas em mercados de fronteira frequentemente demoram mais tempo para gerar resultados. Uma das razões principais é que os ativos desses mercados são pouco negociados, o que significa que geralmente levam mais tempo para sair de uma posição do que levariam em mercados emergentes ou desenvolvidos.
Os investidores que compram ações em mercados de fronteira dizem que as condições são adequadas para essas economias vivenciarem anos de crescimento constante. A maioria tem populações jovens, um fator importante no crescimento inicial de mercados emergentes como o Brasil e a China. Ações de empresas de produtos de consumo e especialmente de bancos devem se beneficiar à medida que um número maior de pessoas ascende para a classe média, dizem esses investidores.
Os mercados emergentes que dependem fortemente da China foram afetados este ano. Mas os mercados de fronteira foram menos impactados pela desaceleração na taxa de crescimento do gigante asiático em parte porque o crescimento do consumo interno é um fator mais importante na expansão de suas economias.
O Fundo Monetário Internacional prevê que a maioria dos grandes mercados de fronteira deve crescer pelo menos 5% este ano, com a economia da Nigéria crescendo 7,4% e a de Bangladesh, 6%. A previsão de crescimento para alguns mercados emergentes é mais moderada, como 2,5% para o Brasil e 3,5% para a Turquia.
"Se a venda de ativos nos mercados emergentes se acentuar, haverá contágio, mas nos últimos anos temos visto essa correlação dispersar", diz Pradipta Chakrabortty, gerente de carteira do fundo de mercados emergentes de fronteira da Harding Loevner, de US$ 335 milhões, que teve uma alta de 2,5% desde o início do ano. "Vemos uma perspectiva positiva para os mercados de fronteira para os próximos três anos."
Alguns investidores dizem que as economias de fronteira poderiam sucumbir à turbulência que envolve os mercados emergentes. A bolsa de valores do Paquistão caiu na segunda-feira da semana passada, no início da onda mais recente de venda de ativos de mercados emergentes, embora o índice KSE 100 do país ainda acumule alta de 5,3%.
"Não compraria agressivamente até que ocorra uma grande liquidação", diz Don Scott, diretor-gerente do Global Frontiers Management, gestor de recursos especializado em mercados de fronteira.
Scott possui ações da África Ocidental, dos Balcãs e da Ásia.
O bom desempenho dos mercados de fronteira nos últimos anos começou a atrair uma gama maior de investidores. Enquanto analistas dizem que isso ajudou a sustentar os preços das ações desses países, alguns reguladores estão emitindo um sinal de alerta. Na sua carta anual publicada no início de janeiro, a Autoridade Reguladora da Indústria Financeira dos Estados Unidos citou a falta de liquidez como uma das razões pelas quais consultores financeiros devem ser extremamente cautelosos ao recomendar investimentos em mercados de fronteira a seus clientes.
Se o maior monitoramento regulatório desencorajar alguns investidores, isso poderia limitar o forte movimento de compra de ativos nesses mercados, dizem especialistas.
Ainda assim, muitos investidores globais que agora injetam recursos nesses mercados dizem que vão manter suas posições.
"Os investidores de mercados de fronteira são menos sensíveis a risco. Eles olham para temas diferentes e têm mais tempo no horizonte", diz Asha Mehta, gerente de carteira do fundo de mercados de fronteira da Acadian Asset Management LLC, de US$ 250 milhões. Mehta está otimista sobre o Paquistão, onde segundo ela as ações estão baratas e o risco de agitação social ou político é menor do que dizem muitos outros investidores.
Fonte: The Wall Street Journal
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