Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Dados recentes sugerem que a economia brasileira entrou em recessão

Dilma Rousseff Agence France-Presse/Getty Images
Novos dados oficiais sugerem que o crescimento da economia brasileira enfraqueceu nos últimos dois trimestres, ilustrando o declínio de um país que já foi um dos favoritos dos investidores de mercados emergentes.

O índice de atividade econômica do Banco Central caiu 1,35% em dezembro em relação a novembro, afetado por uma queda na produção industrial e nas vendas do varejo. Economistas dizem que os dados provavelmente levarão o governo a anunciar um crescimento econômico negativo no quarto trimestre de 2013, depois de uma contração de 0,5% no terceiro. A maioria dos economistas define dois trimestres consecutivos de contração como uma recessão técnica.

Embora os dados preliminares sugiram que a economia vai se recuperar no trimestre atual, um mergulho na recessão representa um revés para uma economia que se expandiu 7,5% em 2010. Como o crescimento da China desacelerou e os preços de commodities que o Brasil exporta, como a soja e o minério de ferro, esfriaram, a economia do país está sem um motor externo.

O desempenho atual da economia brasileira distancia o país de mercados emergentes como a China e a Índia, que ainda continuam crescendo de forma dinâmica, mas não como antes. O esfriamento coletivo dos emergentes representa um revés inesperado para muitas empresas, especialmente as de bens de consumo, que investiram pesado nessas economias e das quais dependiam para compensar a queda da demanda nos mercados desenvolvidos. Os economistas esperam que o Brasil cresça apenas 1,5% este ano, depois de uma expansão estimada de 2,3% em 2013.

A contração ocorre num momento em que a presidente Dilma Rousseff se prepara para uma campanha de reeleição em meio a condições econômicas adversas dentro e fora do país. Grandes manifestações contra o aumento de preços e serviços públicos inadequados abalaram o país no ano passado. A agitação social continua, embora de forma menos massiva, em grandes cidades à medida se aproxima a Copa do Mundo.

"No mês passado, a minha empresa demitiu 12 pessoas. Estamos prestes a fechar o negócio. Muitas lojas aqui estão fechando porque as pessoas não podem pagar o aluguel", lamenta Ângela Marques, gerente de uma loja de eletrônicos no centro do Rio de Janeiro. Marques não acredita que a Copa do Mundo ajude a melhorar a situação.

A popularidade de Dilma se recuperou depois de ter caído de forma significativa durante os protestos, desencadeados por um aumento de preços das tarifas de ônibus. Mas problemas econômicos aumentam a pressão sobre o governo, que havia conquistado apoio popular ao continuar as políticas do ex-presidente Lula, incluindo uma expansão de benefícios sociais e a concessão de bilhões de dólares em empréstimos através de bancos estatais.

O consumo continua a ser o motor do crescimento, mas as vendas no varejo subiram apenas 4% em 2013 em relação ao ano anterior. Este é o pior desempenho do setor desde 2003, sugerindo aos investidores que o Brasil não pode mais contar com o consumo doméstico para alimentar sua expansão.

Geraldo Mello, gerente do Brasília Shopping, na capital do país, diz que as vendas cresceram de 20% a 35% ao ano até 2008, mas apenas 10% em 2013. Os consumidores "acumularam dívidas com empréstimos hipotecários, novos carros e outros bens e agora há menos espaço no orçamento [...] Eles têm dúvidas sobre o futuro e, por isso, gastam menos", diz Mello.

A expectativa é que os investimentos também decepcionem. Uma pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria mostrou que as intenções de investimento do setor privado caíram para seu nível mais baixo desde 2010.

Enquanto isso, o investimento estatal será limitado já que o governo precisa cortar gastos e os bancos estão encolhendo suas carteiras de empréstimos após uma década de expansão. "Vai ser difícil para o Brasil alcançar um crescimento de 2% este ano", afirma Robert Wood, da Economist Intelligence Unit, em Nova York. "O consumo vai contribuir menos para o crescimento e não há sinais de uma retomada do investimento."

Bruno Roval, economista do escritório do Barclays em São Paulo, diz que os dados mais recentes provavelmente vão reduzir a previsão do banco de crescimento para a economia. Para 2014, "nós antecipamos uma expansão de 1,9% do PIB. Mas há uma chance real de revermos esta estimativa para baixo após a publicação dos resultados do PIB de [todo] 2013 e do quarto trimestre no fim de fevereiro", diz ele.

A produção industrial tem sido um dos pontos mais fracos da economia nos últimos anos, à medida que as empresas do setor manufatureiro batalham para competir com rivais internacionais. Os problemas da Argentina, onde se espera uma forte desaceleração este ano, poderiam afetar a demanda por produtos manufaturados brasileiros, incluindo veículos e autopeças.

"A situação na Argentina pode ter um impacto substancial sobre a indústria brasileira, já que mais de 75% das exportações do Brasil para a Argentina são de produtos manufaturados", disseram economistas da Nomura Securities em relatório.

A vantagem do Brasil é que a taxa de desemprego permanece em um mínimo histórico e os salários estão subindo. O desemprego em seis das maiores regiões metropolitanas caiu para uma média de 5,4% em 2013, em comparação com a taxa de 5,5 % em 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O salário médio mensal aumentou 1,8% em termos reais.

Mas a inflação alta continua a exercer pressão sobre os consumidores. Na semana passada, o governo informou que a inflação anual em janeiro foi de 5,59%, acima da meta de 4,5% do banco central. Nos últimos 12 meses, o BC elevou a taxa básica de juros de 7,25 % a 10,5%. "O maior problema que eu vejo não é o esfriamento da economia ", diz Davi Alves, chef de um restaurante elegante em São Paulo. "O problema é a alta dos preços. Tudo, desde carros até casas, está caro."

Fonte: The Wall Street Journal

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