Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Desaceleração desafia reformas econômicas na China

O crescimento econômico da China parece ter desacelerado significativamente no início do ano, levantando dúvidas sobre a capacidade do governo de atingir suas metas de expansão sem agravar as tensões no sistema financeiro.

Tem havido uma carência de dados concretos desde o início de 2014 devido ao feriado do Ano Novo Lunar, durante o qual muitas fábricas fecham e o governo chinês suspende a divulgação de alguns indicadores. Mas as informações disponíveis, incluindo o índice de gerentes de compras preliminar divulgado ontem, indicam que a economia pode estar perdendo força.

"O início do ano não foi muito bom", disse Li Daokui, professor da Universidade Tsinghua, de Pequim, e ex-consultor do banco central na área de política monetária. "Podemos ter de nos preparar para um crescimento um pouco menor."

Para o governo, a desaceleração representa um risco. O crescimento está caindo em parte porque as autoridades, preocupadas com bolhas de crédito no setor financeiro, elevaram o custo dos empréstimos. Mas o governo está empenhado em não frear demais o crédito, temendo que isso cause uma redução ainda maior do crescimento e o aumento do desemprego.

Alguns observadores dizem que a China deveria permitir que o crescimento desacelere durante sua transição de uma economia dependente de investimentos alimentados pelo crédito para uma baseada mais no aumento do consumo. Um teste para saber se o governo pode tolerar um crescimento menor ocorrerá no mês que vem, quando os líderes devem divulgar uma meta de crescimento para 2014 na abertura da reunião anual do parlamento, um evento altamente cerimonial.
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Trabalhadores numa fábrica na província chinesa de Zhejiang. Dados mais recentes do setor de manufatura da China apontam uma desaceleração da economia.
No ano passado, o premiê da China, Li Keqiang, disse que o país poderia crescer a uma taxa mais modesta de 7,2% ao ano e ainda gerar empregos suficientes para manter a desocupação baixa e evitar agitações sociais. Mas relatos da mídia local dizem que o governo definirá uma meta de 7,5%, igual à de 2013.

No ano passado, a economia cresceu 7,7%, a mesma taxa de 2012, mas bem abaixo das altas de dois dígitos de anos anteriores.

Como o crescimento desacelerou no início de 2013, em parte devido ao aperto no crédito, o governo entrou em cena com um pacote pequeno de estímulo de gastos em infraestrutura que levantou a atividade econômica, mas aumentou o já pesado endividamento no país.

É verdade que o governo inflou as taxas de juro no fim do ano, aumentando os custos de captação das empresas. Mas o arrocho no crédito parece ter sido novamente relaxado.

O crédito bancário e outros financiamentos cresceram fortemente em janeiro, quando foram feitos 1,3 trilhão de yuans (US$ 214 bilhões) em novos empréstimos bancários, acima do 1,1 trilhão de janeiro de 2012. O crédito sempre avança no início do ano, quando os bancos obtêm novas quotas de empréstimos, mas o aumento também sugere que o banco central não está apertando sua política monetária.

"Esse é um de vários sinais recentes de que o banco central não é tão linha-dura como se pensava", escreveram Chen Long e Andrew Batson, da empresa de pesquisa GaveKal Dragonomics, num relatório publicado esta semana. "Embora o governo esteja preocupado com o endividamento dos governos locais [provinciais e municipais] e outras dívidas de alto risco, ele acha que esse problema pode ser resolvido no longo prazo."

Apesar de garantias repetidas de que os dias de "adoração do PIB" e medidas de estímulo alimentadas por dívida acabaram, alguns analistas suspeitam que a necessidade de atingir uma meta pré-determinada pelo governo vai superar as preocupações com a saúde da economia no longo prazo, promovendo um afrouxamento das condições financeiras ainda este ano.

"Esperamos que o governo relaxe a política monetária no segundo trimestre para apoiar o crescimento", diz Zhang Zhiwei, economista do banco de investimento Nomura.

As informações sobre o desempenho econômico da China em 2014 têm sido escassas até agora. Para evitar sinais enganosos em torno do ano novo chinês, o governo combina dados sobre o investimento e sobre a produção industrial de janeiro e fevereiro. Esses números não serão divulgados até o dia 13 de março. Enquanto isso, os analistas têm dados limitados para trabalhar.

Uma leitura preliminar do índice de gerentes de compra (PMI) para o setor de manufatura, divulgado pelo HSBC HSBA.LN +0.32% e Markit ontem, ficou no nível mais baixo em sete meses.

O índice caiu de 49,5 em janeiro para 48,3 em fevereiro. Qualquer número abaixo de 50 indica contração em relação ao mês anterior.

O número de janeiro contribuiu para provocar uma venda generalizada de ativos em mercados emergentes no início do ano, alimentada pelo receio dos investidores de que um crescimento mais lento na China possa causar problemas no mundo em desenvolvimento. Ontem, a reação aos dados mais recentes da China foi mais moderada: o índice Hang Seng, da bolsa de Hong Kong, fechou em queda de 1,2%.

Embora o PMI sugira uma desaceleração, as exportações e importações foram excepcionalmente altas em janeiro, ambas apresentando crescimento em torno de 10% em relação ao ano anterior. Os dados aumentaram a esperança de que a recuperação nas economias industrializadas esteja dando uma ajuda para a China. De fato, as novas encomendas de exportação foram o único componente do PMI que teve uma melhora em fevereiro.

Fonte: The Wall Street Journal

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