As dificuldades de Paulo Noriega são um reflexo do que deu errado na economia do México no ano passado. A empresa dele, uma fornecedora de produtos de limpeza cujos principais clientes são hospitais públicos, está há meses estagnada, suas vendas caíram pela metade e alguns empregados foram demitidos.
O motivo? O governo suspendeu seus gastos durante grande parte do ano.
"Não tínhamos vivido algo assim nos últimos 12 anos", diz Noriega, um jovem empresário mexicano que gerencia a firma com seu pai. "Os pedidos do IMSS [o sistema de saúde e previdência social] de repente despencaram. Tivemos que apertar os cintos e usar nossas economias para sobreviver."
Os atrasos nas despesas do governo são uma das razões por trás do fraco desempenho do país em 2013, ano em que a segunda maior economia da América Latina cresceu só 1%, como informou o Instituto Nacional de Estatística e Geografia, o Inegi, na sexta-feira. Isso se traduz na criação de cerca de 200.000 empregos num país de 112 milhões de habitantes.
Os dados do produto interno bruto foram uma ducha de água fria no otimismo com que o presidente Enrique Peña Nieto começou seu mandato, em dezembro de 2012. Em vez dos 3,5% de crescimento esperado inicialmente no seu primeiro ano de governo, o PIB do país teve sua menor alta desde a recessão de 2009.
Peña Nieto atribuiu a desaceleração principalmente à mudança de governo e à queda das exportações para o vizinho do norte. "A recuperação dos Estados Unidos não foi tão forte como esperado, o que afetou o dinamismo de nossas próprias exportações. E então tivemos a mudança de governo: como acontece a cada seis anos, o ritmo dos gastos muda", disse Peña Nieto em entrevista ao The Wall Street Journal na semana passada.
Mas outros fatores também contribuíram para o lento crescimento, dizem economistas.
O setor de construção entrou em recessão em parte devido ao endividamento insustentável das maiores construtoras do país. A falta de gás natural em algumas regiões também prejudicou a atividade. Além disso, muitos investidores adiaram decisões até verem o desfecho final das reformas econômicas nos setores de energia e telecomunicações, que o Congresso aprovou no ano passado.
"Definitivamente, foi uma tempestade perfeita", diz Jonathan Heath, economista independente que já trabalhou no instituto de estatísticas do México.
Alguns analistas, porém, dizem que o governo é responsável pela má gestão dos gastos públicos, já que ele caiu 10% no primeiro trimestre do ano passado, em comparação com um aumento de 3% e 6%, respectivamente, no início dos dois governos anteriores.
"O governo pediu ao Congresso um orçamento equilibrado em 2013 [...] quando a economia global ainda estava frágil. Isso foi um erro porque levou à contração dos gastos comparado com o ano anterior, diz Gerardo Esquivel, economista da universidade Colegio de México.
O Ministério da Fazenda não respondeu a pedidos para comentar as críticas. Esquivel disse que o esforço do governo para aprovar as reformas distraíram o ministro da Fazenda, Luis Videgaray, da gestão da economia no dia a dia. Várias autoridades importantes do governo disseram que algumas das pessoas indicadas para postos-chave no ministério da Fazenda, incluindo o vice-ministro da Fazenda e vice-ministro de gastos, não tinham nenhuma experiência anterior na máquina pública do governo federal. Além disso, o trabalho nas reformas tributária e financeira tomou muito tempo deles, dizem.
Alguns ministérios com orçamentos significativos, como o do Transporte, ou SCT, demoraram para começar a usar as verbas. Os delegados regionais do SCT, que são responsáveis por acelerar os projetos de infraestrutura e as licitações, ainda não tinham sido nomeados até abril, segundo membros do governo.
Em maio, a desaceleração econômica já era evidente. O governo reduziu sua previsão para o crescimento do PIB três vezes no ano: primeiro para 3,1%, depois 1,8% e, finalmente, 1,3%.
Os atrasos nos gastos estavam começando a ter efeitos notáveis: fornecedores não eram pagos em dia, novas licitações eram adiadas. Para Noriega, o empresário, o resultado foi amargo: "Em meados do ano, estávamos com os depósitos cheios de estoque esperando para ser vendido", diz.
O ministro da Fazenda começou no meio do ano a trabalhar numa solicitação para que o Congresso aprovasse um pequeno déficit no orçamento em 2013 e um maior em 2014 para estimular o crescimento econômico através de gastos públicos adicionais — financiados com mais dívida e mais impostos.
Em setembro, os gastos do governo aceleraram, impulsionados em parte por obras de reconstrução, depois que várias tempestades severas atingiram o país. No fim do ano, o orçamento tinha sido totalmente consumido.
Mas os danos à economia já tinham sido causados e ela não se recuperou no quarto trimestre, crescendo apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior. Em 2014, Peña Nieto espera uma expansão de 3,9%, acima das previsões do mercado, embora muitos analistas já projetem um fraco primeiro trimestre.
Heath, o economista, diz que o impacto dos novos gastos vai levar algum tempo para ser sentido. "Os novos impostos também criaram incertezas e já estão prejudicando o consumo dos lares e a confiança dos empresários."
Noriega ainda não está enxergando uma luz no fim do túnel: "Até agora, não vimos uma melhora na atividade", diz.
Fonte: The Wall Street Journal
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