Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Falta de infraestrutura nos aeroportos ameaça a Copa no Brasil

Entre as preocupações que se acumulam sobre os preparativos do Brasil para a Copa do Mundo em junho há uma nova: o transporte aéreo.

Executivos do setor aéreo dizem que está crescendo o risco de que aeroportos e companhias aéreas brasileiras não estejam à altura de cumprir a tarefa de transportar eficientemente centenas de milhares de pessoas para as 12 cidades-sede da Copa do Mundo em um país tão grande.

"Qualquer um que diga que não haverá nenhum problema está mentindo", diz José Efromovich, diretor-presidente da companhia aérea Avianca Brasil. Quando o Brasil jogar contra o México em Fortaleza, por exemplo, ele diz que cerca de cem aviões terão que aterrissar e decolar da cidade no mesmo dia. "Não há espaço no aeroporto nem para a metade desses aviões."

A Copa deveria mostrar como o Brasil, depois de ter crescido por dez anos e ter estabelecido uma forte classe média, havia se transformado numa potência moderna no cenário mundial. Em vez disso, o Brasil foi alvo de críticas da Fifa, órgão regulador do futebol internacional, por causa de atrasos na preparação de estádios e o país está sofrendo para oferecer hospedagem suficiente aos visitantes esperados.
Vista aérea do aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, em 20 de janeiro. Reuters
Agora é a vez do transporte se tornar uma questão preocupante durante a Copa.

O investimento em aeroportos no Brasil, onde o tráfego dobrou nos últimos cinco anos, mesmo depois da desaceleração do ano passado, não tem acompanhado o crescimento do país. O Brasil tem o terceiro maior mercado de viagens aéreas domésticas do mundo, mas, na avaliação dos passageiros, o país está no 131º lugar em termos de qualidade de infraestrutura, de acordo com um estudo de 2013 do Fórum Econômico Mundial.

Marcelo Guaranys, presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), disse que a expansão e modernização que estão em andamento nos aeroportos do país fornecerão capacidade suficiente para atender a demanda. "Todas as mudanças se referem à capacidade dos aeroportos, incluindo o trabalho de expansão que deverá estar pronto para a Copa do Mundo", diz ele.

Ainda assim, executivos da indústria insistem que o número estimado de 600 mil torcedores estrangeiros que desembarcarão no Brasil para o evento, que será realizado entre 12 de junho e 13 de julho, pressionará os aeroportos e as companhias aéreas do país.

Para tentar atender a demanda esperada, as principais companhias aéreas brasileiras — TAM, Gol e Azul — procuraram e obtiveram permissão da Anac, no mês passado, para aumentar em quase 2.000 o número de voos durante o torneio de futebol.

Carlos Ebner, diretor da Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata) no Brasil, diz estar preocupado com a possibilidade de a infraestrutura aeroportuária não acompanhar a demanda.

Um estudo realizado em 2010 pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostrou que metade dos 20 maiores aeroportos do Brasil não pode lidar com qualquer quantidade adicional de voos, devido à limitação de espaço para os passageiros nos terminais e para o estacionamento de aeronaves. Um programa de investimento de US$ 2,7 bilhões, destinado a reduzir esse déficit a tempo para a Copa do Mundo, tinha menos de metade das obras previstas concluídas, informou em novembro a Infraero.

O aeroporto de Fortaleza, por exemplo, já anunciou que não conseguirá concluir seus planos de expansão a tempo e que vai instalar um terminal de lona improvisado.

O aeroporto de Cuiabá pode ser problemático para os viajantes da Copa, segundo Carlos Ozores, diretor da consultoria ICF, que assessorou empresas que participaram dos leilões de aeroportos realizados recentemente. Criado há 50 anos e com capacidade para 2,5 milhões de passageiros por ano, ele recebeu mais de 2,8 milhões de passageiros no ano passado.

As obras para mais que dobrar a capacidade do aeroporto de Cuiabá, que estavam programadas para serem concluídas um ano atrás, agora estão previstas para um mês antes da Copa, segundo a Infraero. O "plano B" do governo é cobrir o terminal com uma lona.

As autoridades brasileiras tentaram acelerar o processo de modernização em 2012, ao conceder à iniciativa privada os principais aeroportos do país. Mas os analistas dizem que isso ocorreu tarde demais para que esses aeroportos apresentem qualquer benefício antes do fim da Copa.

E o Brasil não oferece outras alternativas de transporte como trens ou um serviço de ônibus confiável, então o serviço aéreo é "o único verdadeiro elo entre os locais [dos jogos]", diz Ozores.

Enquanto isso, as próprias companhias aéreas deverão ter problemas para administrar o aumento da demanda. Como a Gol e a TAM, as duas maiores companhias aéreas brasileiras em volume de passageiros, competiram firmemente por fatias de mercado nos últimos anos, elas inauguraram novos voos a um ritmo superior ao que a demanda poderia absorver. Depois de perderem centenas de milhões de dólares, elas começaram a cortar custos reduzindo o número de voos e eliminando serviços.

Isso causou uma desaceleração acentuada do tráfego aéreo no ano passado, segundo um relatório publicado em novembro pela Iata.

Em 2012, mais de um em cada dez voos no Brasil foi adiado por 30 minutos ou mais e 7,5 % dos voos foram cancelados, segundo a Anac. A rota mais movimentada do país, entre Rio e São Paulo, teve o maior índice de cancelamentos, com um em cada oito voos regulares não decolando, também de acordo com a Anac.

Mesmo com um serviço irregular, as passagens aéreas no Brasil estão entre as mais caras do mundo. Pelo mesmo preço que um brasileiro normalmente paga para voar 400 quilômetros entre São Paulo e Rio de Janeiro, um passageiro americano pode voar 4.000 quilômetros, de Nova York a Los Angeles.

Para rebater as acusações do governo de manipulação de preços, algumas das companhias aéreas, incluindo a Azul e a Avianca, fixaram o teto de R$ 999 por trecho para as tarifas durante a Copa do Mundo. Ainda assim, as companhias líderes de mercado não aderiram à ideia e mesmo a tarifa limitada a R$ 999 está fora do alcance da maioria dos brasileiros.

Fonte: The Wall Street Journal

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