Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Investidor internacional é agora mais seletivo em mercados emergentes

Até recentemente, parecia que a única forma de se proteger da turbulência nos mercados emergentes era evitá-los completamente.

A mudança de rumo na política do Federal Reserve, o banco central americano, e as preocupações com a desaceleração da economia chinesa golpearam os títulos de dívida e as ações de praticamente todos os mercados em desenvolvimento no mês passado. O índice de ações MSCI de Mercados Emergentes, calculado em dólar, acumula queda de 3,8% desde o início do ano e investidores assustados retiraram bilhões de dólares de fundos que aplicam nesses mercados.

As ações nos mercados emergentes recuperaram parte do terreno perdido nas duas últimas semanas. Mas a volatilidade recente está forçando os investidores a fazer sua lição de casa para encontrar as companhias certas, em vez de apenas colocar dinheiro numa aposta mais ampla nos mercados emergentes, diz Richard Titherington, diretor de investimentos de ações em mercados emergentes do J.P. Morgan JPM -0.76% Asset Management.

"Acreditamos que as ações dos mercados emergentes estão relativamente baratas", diz Titherington. "Mas elas podem ficar mais baratas? Sim. Por isso, você tem que comprar [ações de] empresas com balanços sólidos e de setores que podem se beneficiar de moedas enfraquecidas." Uma moeda mais fraca tende a tornar os produtos de um país mais competitivos no mercado externo e aumentar o valor de lucros obtidos no exterior quando convertidos na moeda local.

No trimestre passado, Titherington, que administra US$ 50 bilhões em ativos, transferiu 10% da exposição do seu fundo para empresas que podem se beneficiar da desvalorização das moedas locais. Elas incluem empresas que têm receita em dólar ou que exportam parte de sua produção, como fabricantes de veículos e aeronaves. Ao mesmo tempo, ele reduziu sua exposição a companhias voltadas para o consumo doméstico e do setor financeiro, segmentos que são mais vulneráveis à moeda fraca. Ele diz ter encontrado oportunidades de investimento de que gostou na Turquia, mas não quis citar nomes de empresas.

Nos últimos anos, os gestores se apressaram em abocanhar ativos dos mercados emergentes. Esses mercados oferecem mais riscos, mas são atrativos por causa de seu potencial de rápido crescimento e o poder aquisitivo cada vez maior da classe média. Mas desde que o Fed anunciou que poderia começar a reduzir seu programa de estímulo à economia americana, que inundou os mercados emergentes de dinheiro, os investidores estão fugindo em massa. Ao mesmo tempo, um aumento dos temores com relação ao crescimento da China e uma melhoria das perspectivas para as economias desenvolvidas contribuíram para acelerar essa fuga.

Este mês, o Índice MSCI de Mercados Emergentes se recuperou da queda do início do ano. Mas 80% dos gestores de fundos consultados pelo Bank of America BAC -0.64% Merrill Lynch este mês disseram que veem os mercados emergentes como o maior risco para a estabilidade financeira, de acordo com uma pesquisa divulgada ontem. O levantamento, que inclui a opinião de 222 gestores de fundos, que juntos administram US$ 591 bilhões, também mostra que a proporção de fundos com recursos investidos em mercados emergentes caiu para o nível mais baixo desde que a pesquisa começou a ser feita, em abril de 2001.

Mesmo assim, evitar os mercados em desenvolvimento não é, para muitos, uma opção. "A alternativa de não investir nos mercados emergentes pode ser o risco de não contar com uma classe de ativos que deve contribuir com mais da metade da produção mundial nos próximos dois anos", diz Gerardo Rodriguez, diretor-gerente do grupo de mercados emergentes da BlackRock e ex-subsecretário da Fazenda e Crédito Público do México.

Ele questiona se os mercados emergentes serão capazes de implementar todas s reformas que estão planejando em tempo hábil. Na opinião de Rodriguez, isso vai variar de país para país. "A velocidade com que as reformas serão implementadas será uma função direta do apetite do governo para realizar mudanças às vezes profundamente impopulares", diz.

"O México é um bom exemplo onde todas as estrelas se alinharam na direção correta. Com um presidente novo, popular e politicamente astuto em seu segundo ano no cargo, o México conseguiu a aprovação do Congresso para amplas reformas [nos setores] fiscal, de telecomunicações e de energia." Rodriguez acredita que outros países, como os que enfrentam eleições este ano (o caso do Brasil), terão mais dificuldade para reunir o capital político necessário para fazer reformas.

Em todo caso, os gestores de fundos já estão sendo mais seletivos. Devan Kaloo, gerente de fundos de mercados emergentes da Aberdeen Asset Management, ADN.LN 0.00% diz que algumas das melhores oportunidades no mercado acionário incluem os papéis do Banco Bradesco S.A. BBDC4.BR +0.08% e da Truworths International Ltd., TRU.JO +0.13% empresa de vestuário da África do Sul. Ele considera que o Bradesco tem uma gestão conservadora, com líderes experientes. A Aberdeen Asset Management administra 35 bilhões de libras (US$ 58,4 bilhões) em ações de mercados emergentes.

Ian Rees, chefe de pesquisa da Premier Asset Management, diz que recentemente ampliou seus investimentos em fundos que seleciona empresas e indústrias que estão subavaliadas em mercados emergentes. Ele também tem diversificado seus ativos investindo no fundo de mercados de fronteira da BlackRock, gerido por Sam Vecht. Mercados de fronteira, como alguns países do leste europeu, tendem a ser menores e mais arriscados que os mercados emergentes.

Rees, cuja empresa administra US$ 2,5 bilhões em ativos, diz que a onda de vendas de ativos nos mercados emergentes tem sido indiscriminada. "O recuo da liquidez cria uma oportunidade de investimento realmente boa para gestores ativos."

Ainda assim, a estratégia tem riscos. Por um lado, os mercados emergentes tiveram um desempenho anêmico nos últimos três anos. O índice MSCI, que acompanha as ações de 21 países, caiu 5% em 2013, em comparação a uma alta de dois dígitos nas bolsas dos Estados Unidos, Japão e Europa. A maioria dos gestores diz que ainda não está claro se a tendência de venda nos mercados emergentes do começo deste ano já se encerrou.

De acordo com dados da firma de pesquisa Morningstar Inc., MORN +0.21% de Chicago, o rendimento de fundos com gestão ativa e passiva tem sido muito semelhante. Em janeiro, os fundos com gestão ativa caíram 6,4%, enquanto os passivos recuaram 6,2%.

Patrick Connolly, planejador financeiro da Chase de Vere, diz que seus clientes têm pedido para ampliar os investimentos em mercados emergentes nas últimas semanas porque acreditam que a onda de vendas criou oportunidades nesses mercados.

Titherington, do J.P. Morgan, diz que investir em economias em desenvolvimento representa um alto risco e que os períodos de maior incerteza tendem a paralisar os investidores.

"A dificuldade nos mercados emergentes é a questão do momento", diz ele, se referindo à capacidade de detectar quando o mercado atingiu o fundo e vai voltar a subir.
[image]

Fonte: The Wall Street Journal

Nenhum comentário:

Postar um comentário