Apesar da queda na inovação, entre 2009 e 2011 cresceu o investimento em pesquisa e desenvolvimento.
RIO - Apesar de as indústrias brasileiras terem investido mais em pesquisa e desenvolvimento (P&D), no triênio de 2009 a 2011, a taxa de inovação da atividade caiu para 35,7% no período, apontou a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), divulgada nesta quinta-feira, 05, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 2006 e 2008, essa taxa havia sido de 38,1%.
O que parece um contrassenso pode ser explicado pela demora nos resultados desse tipo de investimento. As empresas mostraram um esforço para inovar, em resposta aos estímulos do governo nessa frente, avaliou o gerente da Pintec, Alessandro Pinheiro. Mas isso não se concretizou em aumento de inovação no mesmo triênio.
Ao mesmo tempo, a crise financeira que eclodiu em 2008 abalou o empresariado. "Isso pode ter induzido uma mudança de comportamento, principalmente na direção de uma maior aversão ao risco", analisa.
Além disso, a valorização do real no período incentivou as importações, afetando o desempenho das empresas exportadoras. O destaque fica com o "efeito China", que promoveu uma invasão de produtos daquele país (a preços mais competitivos) no mercado internacional. Isso, segundo Pinheiro, pode ter esfriado os planos de indústrias que pretendiam investir ainda mais em inovação. Com isso, a taxa geral de inovação no Brasil ficou em 35,7%.
Além da indústria, a pesquisa inclui os setores de eletricidade e gás e de serviços. Na Pintec 2008, esse porcentual havia ficado em 38,6%, mas Pinheiro ressalta que não é possível comparar os dois períodos e concluir que houve queda.
"Entraram dois setores novos na pesquisa, o de serviços de engenharia, arquitetura, testes e análises técnicas, e o de eletricidade e gás. Isso compromete a comparação do total", explica. A Pintec investigou 128,7 mil empresas, 116,6 mil delas do setor industrial.
Pesquisa e desenvolvimento. Na pesquisa de 2011, o investimento em P&D chegou a 5% das indústrias, ante 4,2% na Pintec de 2008. A taxa, contudo, não é maior do que nas apurações de 2000 (10,3%), 2003 (5,9%) e 2005 (5,5%). Mas Pinheiro considerou o dado positivo, e disse que isso ajuda a explicar a queda na taxa de inovação.
"A atividade de P&D não necessariamente vai se materializar no mesmo triênio", comenta. "Ela é só parte do processo até que isso chegue numa inovação e seja colocado no mercado. Além disso, a gente precisa equacionar outros problemas que a pesquisa aponta, como o alto custo da inovação."
Segundo o gerente do IBGE, pode levar um tempo até que essa preparação e investigação sejam de fato aplicadas em um novo produto ou processo. Por isso, a expansão da pesquisa detectada na Pintec de 2011 pode, em tese, se traduzir em maior taxa de inovação na próxima pesquisa. Ainda assim, a indústria se mantém em um nível mais elevado de inovação do que no início dos anos 2000, quando a taxa no setor era de 31,5%.
A taxa de inovações ligadas ao processo (como aquisição de máquinas e equipamentos) caiu para 31,7%, ante 32,1% em 2008. Já a taxa de inovações ligadas ao produto (como projeto industrial e marketing) recuou para 17,3%, de 22,9% na pesquisa anterior, justamente pela concentração no setor de pesquisa e também pela conjuntura menos favorável.
Investimento. Os mecanismos de financiamento, incluindo taxas de juros subsidiadas e crédito a fundo perdido, ainda que não tenham impulsionado a taxa de inovação, serviram para aumentar o investimento total na atividade. Em 2011, foram aplicados R$ 64,9 bilhões, segundo o IBGE, em inovação. Deste montante, R$ 19,9 bilhões (30,8%) foram gastos com pesquisa e desenvolvimento (P&D).
O valor superou o investimento realizado em 2008, que foi de R$ 54,1 bilhões - sendo R$ 15,2 bilhões (28,1%) em P&D. Apesar disso, a proporção desses gastos em relação à receita líquida de vendas anual caiu no período, de 2,9% em 2008 para 2,56% em 2011. "O grande destaque foi a pesquisa e o desenvolvimento, mas outras atividades inovadoras que também são importantes registraram queda. Talvez elas devessem merecer mais atenção, porque a taxa de dispêndio (em relação à receita) caiu", disse Pinheiro.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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