WASHINGTON, 18 Dez (Reuters) - O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, anunciou planos para reduzir o agressivo programa de compra de títulos nesta quarta-feira, mas tentou atenuar o aguardado anúncio ao sugerir que a principal taxa de juros continuará baixa por mais tempo do que o prometido anteriormente.
No início do fim do apoio sem precedentes à economia norte-americana, o banco central informou que vai reduzir as compras mensais de títulos em 10 bilhões de dólares, para 75 bilhões de dólares. A redução dividiu-se igualmente entre os títulos lastreados em hipotecas e os papéis do Tesouro.
"O Comitê (Federal de Mercado Aberto) vê que os riscos à perspectiva econômica e ao mercado de trabalho tornaram-se mais equilibrados", disse o Fed após a reunião de dois dias.
A mudança, que surpreendeu alguns investidores, sinalizou a melhora na perspectiva para a economia e o mercado de trabalho, e marca um ponto de virada para o maior experimento de política monetária da História.
O chairman do Fed, Ben Bernanke, disse que se os ganhos do mercado de trabalho norte-americano continuarem como o esperado, as compras de títulos provavelmente continuarão a ser reduzidas em ritmo "comedido" ao longo de boa parte do próximo ano. Elas provavelmente serão retiradas "no fim do ano, certamente não no meio do ano", disse.
"A recuperação claramente está longe de estar completa", afirmou Bernanke em entrevista coletiva.
Ele disse que a decisão a chancela de Janet Yellen, a vice-chair do Fed que deve sucedê-lo após o fim de seu segundo mandato em 31 de janeiro. "Ela apoia completamente o que fizemos hoje", disse Bernanke.
As bolsas inicialmente recuaram, mas rapidamente voltaram ao território positivo. Da mesma forma, os preços dos títulos recuaram mas depois subiram. O dólar subiu contra o euro e o iene.
"Eles finalmente tiraram o Band-aid que estavam puxando há muito tempo", disse o presidente do hedge fund LibertyView Capital Management, Rick Meckler.
FIM DE UMA ERA?
O programa de compra de ativos do Fed, peça central da política da era de crises, adicionou cerca de 4 trilhões de dólares em títulos a seu balanço patrimonial. O processo de retirada do estímulo percorre numerosos riscos, incluindo a possibilidade de juros mais altos do que a meta e perda de confiança dos investidores.
O Fed disse que reduziu "modestamente" o ritmo de compra de títulos à luz de melhores condições do mercado de trabalho, de acordo com comunicado divulgado após a reunião de dois dias.
Mas em uma manobra com provável objetivo de mitigar qualquer reação acentuada dos mercados que poderia prejudicar a recuperação, o banco central também disse que "provavelmente será apropriado" manter as taxas de juros overnight quase zeradas até "bem depois" que a taxa de desemprego cair abaixo de 6,5 por cento.
Foi uma mudança significativa em relação ao compromisso anterior de manter a taxa de juros de referência estável pelo menos até que a taxa de desemprego chegue a 6,5 por cento. A taxa de desemprego em novembro nos EUA foi de 7,0 por cento, a menor em cinco anos.
A mais recente etapa do chamado programa de "quantitative easing", ou "QE", foi lançado há 15 meses com o objetivo de impulsionar as contratações e o crescimento em uma economia que estava se recuperando lentamente da Grande Recessão. O primeiro programa "QE" do Fed foi lançado em meio à crise financeira de 2008.
"O Comitê deverá reduzir o ritmo de compra de ativos em outros passos medidos em reuniões futuras", informou o banco central.
Além disso, o Fed reduziu suas expectativas tanto para a inflação quanto para o desemprego nos próximos anos, reconhecendo que a taxa de desemprego caiu mais rápido do que o esperado.
O Fed espera que a taxa de desemprego fique entre 6,3 por cento a 6,6 por cento até o fim de 2014, ante projeção anterior de 6,4 por cento a 6,8 por cento.
Três integrantes do Fed agora esperam que o primeiro aumento dos juros venha em 2016, ante apenas dois em setembro, enquanto a ampla maioria de 12 dos 17 integrantes de alto escalão do Fed ainda veem o aumento em 2015.
O Fed tem mantido os juros quase zerados desde o ápice da crise financeira em 2008, e suas compras de títulos têm alimentado ansiedade com a possibilidade de que desencadeiem inflação ou estimulem as difíceis de detectar bolhas de preços de ativos. Mesmo alguns dentro do Fed temem que o programa tenha efeitos indesejados.
A emissão de dinheiro sem precedentes ajudou a levar as bolsas norte-americanas a recordes históricos e desencadeou fortes oscilações nas moedas estrangeiras, incluindo queda nos mercados emergentes neste ano, com os investidores antecipando o fim da expansão monetária.
Mais cedo nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, fez um apelo para que o Fed fizesse o quanto antes possível a mudança na sua política para minimizar as incertezas.
Mas alguns consideram que as compras de ativos pelo Fed foram responsáveis pela estabilização da economia e do sistema bancário, que foram atingidos pela crise financeira de 2008, e por evitar o que poderia ser um danoso ciclo de deflação.
Uma autoridade, Eric Rosengren do Fed de Boston, votou contra a decisão, que considerou prematura, de acordo com o comunicado.
Recentes ganhos no mercado de trabalho, nas vendas no varejo e no mercado imobiliário, além de um novo acordo orçamentário no Congresso, convenceram um número crescente de economistas de que o Fed reduziria nesta reunião as compras de ativos.
Mas muitos acreditavam que o banco central esperaria até o início do próximo ano, dada a persistente baixa inflação e pelo fato de que a maior economia do mundo enfrentou diversas turbulências na recuperação da recessão de 2007 a 2009.
De acordo com pesquisa da Reuters realizada antes do estabelecimento de um acordo orçamentário no Congresso dos EUA na semana passada, apenas 12 de 60 economistas esperavam que o Fed reduzisse as compras de títulos nesta semana. Vinte e dois esperavam que o corte viesse em janeiro, enquanto metade esperava a mudança em março.
Alguns integrantes do Fed vinham pressionando para que o banco central sinalizasse melhor como planeja retirar o programa de estímulo, ou deixasse claras suas intenções de longo prazo para manter a política frouxa.
A reunião do Fed foi a penúltima do mandato de Bernanke. Seu segundo mandato de quatro anos como chairman do banco central norte-americano acaba em 31 de janeiro, apenas dois dias após a conclusão da primeira reunião do Fed de 2014.
Fonte: Reuters Brasil
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