Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Inflação baixa desafia as políticas de bancos centrais de países ricos

A inflação vem caindo em todo o mundo desenvolvido, apesar da estratégia de manter as taxas de juros ultrabaixas e das campanhas sem precedentes de impressão de dinheiro novo. O cenário representa um dilema para o Federal Reserve, o banco central americano, e outros reguladores que definem a política monetária dos países mais ricos do mundo.

Os preços ao consumidor nos Estados Unidos subiram apenas 1,2% em novembro em relação ao mesmo mês de 2012, segundo dados do Departamento do Trabalho divulgados na terça-feira.

A inflação anual na zona do euro foi de 0,9% em novembro, informou a agência de estatísticas da União Europeia também na terça-feira. Os bancos centrais da Suécia e Hungria reduziram as taxas de juros no mesmo dia, no esforço mais recente de países europeus de fora do bloco para ajudar economias em dificuldades enquanto a inflação continua baixa.

Para os formuladores de políticas em todas as economias avançadas, a pressão sobre os preços representa uma charada difícil de resolver: responder com uma política de relaxamento monetário ainda maior ou tratar a inflação como um fator temporário?

Os bancos centrais se preocupam quando a inflação é muito baixa, sobretudo porque isso aumenta o risco de deflação, ou uma queda geral de preços, um fenômeno que é difícil de combater por meio da política monetária. Preços baixos ou em queda podem levar os consumidores a adiar grandes compras. Mesmo sem deflação, uma inflação muito baixa pode ser um sinal de fraca demanda que pesa sobre os salários, os lucros das empresas e o crescimento econômico.

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Embora as autoridades monetárias de países desenvolvidos venham se preocupando com a inflação baixa há anos, suas ações geralmente têm rendido resultados decepcionantes. Nos EUA, o Fed está fechando o quinto ano consecutivo de taxas de juros próximas a zero e acumulando trilhões de dólares em compras de títulos, num esforço para animar as empresas a contratar e investir. Os empregadores estão começando a criar empregos em um ritmo estável, embora o crescimento econômico geral permaneça modesto.

Mas a inflação dos EUA se manteve abaixo da meta de 2% do Fed durante a maior parte dos últimos dois anos. O índice de preços de gastos com consumo pessoal, indicador preferido do banco central, subiu apenas 0,7% em outubro em relação a um ano antes, segundo dados do Departamento de Comércio divulgados no início deste mês.

As autoridades do Fed previram que a inflação aumentaria, mas isso não aconteceu. Ontem, o BC americano decidiu reduzir seu programa de estímulo, baixando o volume de títulos de dívida que compra mensalmente de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões. O Fed admitiu que há preocupações em relação à inflação baixa e reforçou o compromisso de manter as taxas de juro de curto prazo perto de zero pelos próximos anos.

A situação na Europa talvez seja ainda mais delicada. O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, disse que o bloco do euro pode ver um "prolongado" período de baixa inflação. As previsões do BCE sustentam essa visão, com a inflação média de apenas 1,3% em 2015, bem abaixo da meta de 2%.

Mas Draghi insiste que a Europa não enfrenta o mesmo declínio em direção à deflação que atormentou a economia japonesa durante grande parte dos últimos 20 anos. O BCE afrouxou sua política monetária de forma mais decisiva que o Japão fez na década de 90 e está agindo mais rapidamente para resolver os problemas com os bancos europeus, disse Draghi este mês.

Mas os últimos dados de preços ao consumidor mascaram divisões profundas em todo bloco de 17 países que usam o euro como moeda. Nas economias saudáveis, como a Alemanha e a Áustria, onde o desemprego é baixo, a inflação está em torno de 1,5%. Mas em países abatidos pela crise na periferia sul do bloco, os preços ao consumidor estão estagnados ou em queda. A taxa anual de inflação ficou em 0,7% na Itália no mês passado e em apenas 0,3% em Espanha.

Forças deflacionárias aprofundaram a recessão na Grécia, de acordo com os dados da Eurostat, com os preços ao consumidor caindo 2,9% em novembro em relação ao ano anterior. Os preços também estão caindo no Chipre, que recebeu resgate internacional no início deste ano.

Apesar de um ano excepcional para o turismo da Grécia, que viu o número de visitantes saltar dois dígitos, para mais de 17 milhões, as duas principais companhias aéreas do país, a Aegean Airlines AEGN.AT +93.46% e a Olympic Air, enfrentam dificuldades. Ambas as empresas estão oferecendo grandes descontos para preencher assentos vazios e a situação é tão grave que, em outubro, a Comissão Europeia permitiu uma fusão entre as duas companhias aéreas — revertendo uma proibição anterior — para salvá-las da concordata.

A alta inflação costumava ser uma grande dor de cabeça para o Banco da Inglaterra em anos recentes, separando o Reino Unido de muitas outras economias avançadas. Mas em novembro, a inflação caiu para o ritmo mais baixo em quatro anos, com os preços subindo apenas 2,1% em relação ao mesmo mês de 2012, ligeiramente acima da meta de 2% do banco central. Esse recuo pode reforçar o compromisso do Banco da Inglaterra em manter sua taxa de juros de referência em 0,5% ao ano para apoiar a recuperação econômica, que vem ganhando força.

Em algumas economias em desenvolvimento, por sua vez, a inflação acelerou o suficiente para gerar preocupações com o aumento dos preços. Isso mudou nos últimos dois anos, à medida que a demanda diminuiu.

A desaceleração global dos preços ajudou o Brasil a combater a inflação no mercado interno. Após atingir o pico de 6,7% na taxa anualizada em junho, a inflação brasileira caiu para 5,8%, ainda acima da meta do banco central, de 4,5%. Em resposta, o BC elevou os juros em 2,5 pontos percentuais, para 10% ao ano.

Na China, a segunda maior economia do mundo, a inflação medida pelos preços ao consumidor caiu de 8% há cinco anos para menos de 3,5% este ano. Alguns economistas dizem que muitos anos de investimentos enormes em fábricas a mando do Estado e o excesso de capacidade acumulado poderiam empurrar os preços ainda mais para baixo.

Embora a manufatura de baixo custo da China tenha ajudado a manter baixos os preços de bens de consumo no Ocidente nos últimos anos, há o risco de que a gigantesca fonte de abastecimento agrave a ameaça de deflação em países industrializados, dizem alguns economistas. O excesso de capacidade em indústrias-chave, como aço, vidro e equipamento de construção, tem provocado queda nos preços em alguns setores.

A desaceleração do crescimento da China também reduziu a demanda do país por importações de itens como minério de ferro, cobre e carvão, derrubando os preços das commodities em vários mercados globais.
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Fonte: The Wall Street Journal

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