O governo federal anunciou com entusiasmo a elevação dos recursos para educação, destinando 75% dos royalties do petróleo e 10% do PIB nacional para o sistema de ensino público. Esse anúncio, feito no primeiro semestre deste ano, gerou uma onda de esperança para a população. No entanto, o economista e pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/IBRE), Fernando de Holanda Barbosa Filho, acredita que destinar 10% do PIB para a área é uma estratégia atrasada. “Será um enorme desperdício de recursos. Quantos países gastam 10% do PIB com educação? Nenhum que participa do PISA (Program of International Student Assessment). A Dinamarca, segundo os dados do Education at Glance de 2013, gasta pouco mais de 8%. Essa obsessão pelos 10% do PIB em gastos com educação está na melhor das hipóteses atrasada algumas décadas”, destaca.
Para entender melhor a relação PIB-educação no Brasil é preciso voltar aos anos 1970, época em que o sistema de ensino público no país não parecia ser uma prioridade para os governantes, e que os recursos do PIB para educação eram de apenas 3%. Além disso, a tendência demográfica do país não pode ser deixada de lado quando o assunto é ensino escolar público. “Entre 1970 e 1985, a despesa brasileira com educação era inferior a 3% do PIB, um erro colossal que custou caro a diversas gerações que não foram preparadas para o futuro. Deslocar 10% do PIB para a educação nesse sistema atual será outro erro colossal. Estamos no fim do bônus demográfico e a tendência é que o total de crianças nas escolas se reduza nos próximos anos”, alerta Barbosa.
A discussão sobre a educação no Brasil termina, na maioria das vezes, na questão entre os recursos financeiros dos quais o país desfruta e a gestão de tais recursos. Essa questão também permeia a saúde, o transporte público e a violência, por exemplo. O Brasil foi um dos países que mais evoluiu desde o ano de 2000 e ainda assim apresenta problemas primários. “O gasto como fração do PIB, que já não é baixo hoje, quando comparamos com outros países com melhor desempenho no Pisa, será ainda maior sem que a melhor qualidade demandada seja atingida. Devemos focar nossa atenção na melhora da gestão e não injetar mais recursos num sistema que apresenta mau desempenho”, conclui Barbosa.
Fonte: IBRE/FGV
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