Temperatura média da cidade subiu 0,7°C, enquanto o aumento médio dos trópicos foi de 0,4°C; alta seria efeito de expansão da cidade, com as chamadas "ilhas de calor".
A capital do Amazonas, Manaus, registrou nos últimos 30 anos um aumento de 50% na quantidade de raios, aumento que ocorreu simultaneamente à expansão da urbanização da cidade, a despeito de ela estar incrustada na floresta amazônica.
Os dados são do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), laboratório que já tinha feito uma análise semelhante para São Paulo e outras capitais, onde a urbanização também foi acompanhada de um aumento da ocorrência de raios.
O processo de expansão das cidades já é bem conhecido por resultar nas chamadas “ilhas de calor” – a região fica muito mais quente que seu entorno, principalmente na comparação com a área rural.
Esse ar mais quente, por ser mais leve que o frio, é jogado para cima quando ocorre alguma instabilidade da atmosfera, como uma frente fria. Em altitudes mais elevadas, que são mais frias, o ar quente acaba se transformando em gotas de água, depois nuvens e, consequentemente, em chuvas e raios.
Esse efeito já tinha sido observado em várias outras cidades do mundo. No caso de Manaus, porém, os pesquisadores imaginavam que a presença da floresta ao redor da cidade poderia minimizar esse efeito. Mas não. “A verdade é que a floresta não consegue inibir o efeito da urbanização. Ele acaba sendo muito mais poderoso”, diz o geofísico Osmar Pinto Junior, responsável pelo estudo.
O trabalho do grupo foi pioneiro no mundo em fazer esse tipo de análise para uma cidade inserida em uma área florestal. “O trabalho traz um apelo importante: outras cidades daquela região que crescerem demais podem vir a sofrer o mesmo que está acontecendo com Manaus. A urbanização predomina”, diz o pesquisador.
Em 35 anos, de 1973 a 2008, a área da capital amazonense passou de 91 quilômetros para 242 quilômetros quadrados.
Nesse período, a temperatura média da cidade subiu 0,7°C, enquanto o aumento médio dos trópicos foi de 0,4°C. Já em comparação com a floresta, a temperatura máxima diária da área urbana é 3°C maior.
Para avaliar o impacto disso no aumento de tempestades e raios, os pesquisadores usaram dados de 2004 a 2013 de uma rede global de monitoramento de raios (WWLLN) e imagens de raios de 1997 a 2013 obtidas por satélite. Ambas informações mostraram o aumento na ocorrência de descargas elétricas em Manaus. Regiões ao redor da cidade não experimentaram o mesmo avanço, o que reforça o impacto da ilha de calor.
Pinto Jr. destaca ainda uma outra importância da descoberta. Manaus está localizada em uma “chaminé de raios” – local que tem as maiores incidências de raios do mundo. Além daquela área, só existem mais duas assim no mundo, na África central e na Indonésia. “Isso significa que qualquer efeito observado nessa região tem influência direta nas atividades dos raios em todo o mundo e, consequentemente, no sistema climático”, explica.
O trabalho foi aceito pelo periódico American Journal of Climate Change e deve ser publicado até o final do mês.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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