Os produtores de laranja deixarão de ganhar cerca de R$ 200 milhões neste ano por causa de um erro da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) na sua estimativa de safra.
O órgão, que faz o levantamento em parceria com o Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA), superestimou a produção de laranja no Brasil, país responsável por 80% do comércio global de suco de laranja.
Enquanto a indústria, em maio deste ano, estimava 268 milhões de caixas no cinturão produtor (São Paulo e Triângulo Mineiro), o governo previa 340 milhões de caixas-72 milhões a mais.
Pela relevância do país no mercado global, a estimativa oficial de uma grande safra derrubou o preço da commodity. Entre maio e novembro, o preço do suco na Bolsa de Nova York perdeu cerca de 30% do valor, o equivalente a US$ 400 por tonelada.
Esse comportamento influenciou a negociação dos contratos de exportação. Segundo a CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos), os preços caíram de US$ 2.500 por tonelada para US$ 2.100 por tonelada nas vendas à União Europeia, que compra 70% do suco exportado pelo país.
Significa uma queda de cerca de US$ 300 milhões no faturamento para a indústria, diz Ibiapaba Netto, presidente da CitrusBR.
Essa perda foi repassada ao produtor, que deixou de receber pelo menos R$ 2 por caixa de laranja vendida à indústria, segundo Marco Antonio dos Santos, presidente da Câmara Setorial de Citricultura do Ministério da Agricultura. O preço mínimo pago pelo governo na safra 2013/14 é de R$ 10 por caixa.
"Os produtores deixaram de receber pelo menos R$ 200 milhões", diz Santos. Ele considera, no cálculo, que aproximadamente metade da laranja processada nesta safra -cerca de 215 milhões de caixas- foi negociada entre agricultores e indústrias por meio de contratos.
Esses contratos são fechados por um preço mínimo, acordado entre vendedores e compradores, mais um valor complementar que varia de acordo com as cotações em Nova York. Como os preços caíram, os produtores não receberão esse complemento.
Ao contrário de outras culturas, como a soja, a produção de laranja não é negociada antecipadamente. Os contratos são feitos ao longo da safra, segundo Ibiapaba. Por isso, todos sentirão os efeitos da queda de preço na renda.
crise
Depois da divulgação da primeira estimativa de safra, a Conab revisou o número duas vezes. Neste mês, reduziu a projeção para 278 milhões de caixas, bem perto da estimativa da indústria.
A diferença entre a projeção da Conab e a realidade preocupa o setor. "O levantamento de safra é crucial para o produtor na negociação com a indústria", diz Santos.
Esses desencontros ocorrem em um momento ruim para o setor. Muitos produtores saíram da atividade devido à perda de rentabilidade e à alta de custos -provocados, inclusive, pelo aumento de doenças nos pomares.
Além disso, o consumo de suco de laranja perde espaço para outras bebidas.
OUTRO LADO
O levantamento de safra da Conab não pode ser apontado como único responsável pela queda no preço do suco de laranja, segundo Gustavo Firmo, chefe da divisão de culturas permanentes do Ministério da Agricultura.
"Do jeito que a indústria e os produtores colocam, fica parecendo que só o levantamento da Conab determina o preço da laranja", disse, lembrando outros fatores que também influenciam as cotações, como o nível dos estoques e a queda na demanda.
Firmo admite, porém, que os recursos são escassos para o levantamento e que o governo discute com a indústria caminhos para melhorá-lo.
Já o IEA disse que estava impossibilitado de comentar o caso devido a uma mudança de endereço e que vai se manifestar depois. A Conab preferiu não se pronunciar.
Fonte: Folha de S. Paulo
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