Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Aumento dos custos leva indústrias têxteis da Ásia a migrar para os EUA

Zhu Shanqing, dono de uma fábrica de fiação em Hangzhou, na província chinesa de Zhejiang, enfrenta dificuldades com o aumento dos custos de mão de obra, eletricidade e terrenos industriais. Então, ele embalou algumas de suas máquinas e decidiu se mudar. Para a Carolina do Sul.

Zhu é só um exemplo do crescente número de fabricantes têxteis asiáticos que estão montando fábricas no sudeste dos Estados Unidos para economizar dinheiro à medida que salários, eletricidade e outros custos aumentam nos seus países. Sua empresa, a Keer Group Co., comprometeu-se a investir US$ 218 milhões na construção de uma fábrica em no condado de Lancaster, perto de Charlotte, capital do Estado vizinho da Carolina do Norte. A nova fábrica vai gastar metade do que Zhu paga por eletricidade na China e contará com apoio do governo local, diz ele. A Keer deve criar pelo menos 500 empregos.

Há ainda outra vantagem. Como os custos continuam subindo na China, a Keer pode enviar fios para fabricantes na América Central que, por sua vez, ao contrário de empresas na China, podem mandar roupas livres de impostos para os EUA.

A mudança de Zhu e de outros fabricantes asiáticos provavelmente não será suficiente para revigorar a indústria têxtil do Sul dos EUA, que já foi uma referência nacional. Mas ilustra como as mudanças no comércio mundial estão criando vantagens para o setor manufatureiro americano.
"Estamos na vanguarda de um ciclo maduro", com o aumento dos custos incentivando empresas asiáticas a considerar uma mudança para os EUA, diz Robert Hitt III, secretário de Comércio da Carolina do Sul.

Em outubro, o ShriVallabh Pittie Group, empresa com sede em Mumbai, anunciou que ia construir uma fábrica de fiação de US$ 70 milhões em Sylvania, comunidade rural da Geórgia, e criar 250 empregos. A empresa quer evitar impostos de exportação para os EUA e garantir energia "barata, abundante e confiável" para sua fiação, diante da instabilidade de fornecimento de energia na Índia, diz Zulfiqar Ramzan, diretor de desenvolvimento internacional. As máquinas de fiação funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, durante a maior parte do ano, e quaisquer interrupções no abastecimento de eletricidade causam atrasos e enormes desperdícios, diz ele.

Em abril, a Alok Industries, outra produtora têxtil com sede em Mumbai, anunciou planos para construir uma fábrica de fiação no Sul dos EUA, embora não tenha revelado onde. A empresa espera economizar em impostos ao fabricar fios nos EUA e pagar menos que 10% do que paga em energia na Índia, diz o diretor-presidente, Arun Agarwal.

Em setembro, a chinesa JN Fibers Inc. fechou um acordo para construir uma fábrica de US$ 45 milhões na Carolina do Sul. A empresa transforma garrafas de plástico em fibras de poliéster usadas para estofar travesseiros e móveis. Esse investimento deverá criar 318 empregos. Autoridades ligadas ao desenvolvimento da Carolina do Sul e da Geórgia dizem que outros fabricantes têxteis entraram em contato com eles este ano.

O aumento dos custos tornou a atividade de fiação na China mais cara que nos EUA, diz Brian Hamilton, que fez doutorado na Faculdade de Têxteis da Universidade do Estado da Carolina do Norte e escreveu uma dissertação sobre a indústria têxtil mundial.

Ele diz que, em 2003, produzir um quilo de fios têxteis nos EUA custava US$ 2,86, comparado com US$ 2,76 na China. Em 2010, no entanto, produzir um quilo de fios têxteis nos EUA custava US$ 3,45, comparado com um salto para US$ 4,13 na China. Os custos de produção dos EUA eram menores que os da Turquia, Coreia do Sul e Brasil.

Impostos americanos sobre fios e roupas importadas existem há décadas. Mas acordos comerciais, como o Nafta (acordo de livre comércio da América do Norte), criaram zonas francas entre os EUA e vários parceiros comerciais.

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Nesses acordos, os EUA impuseram a condição de que os têxteis importados de países parceiros devem ser feitos de materiais produzido completamente nesses países ou nos EUA. Caso não sejam, eles pagam impostos que geralmente variam de 5% a 6% para fios, 10% a 12% para tecidos e 15% a 20% para roupas, de acordo com o Conselho Nacional de Organizações Têxteis, um grupo da indústria têxtil americana.

Durante anos, produtores asiáticos de roupas acabavam pagando os impostos, porque os custos de produção e de transporte eram baixos. Agora eles estão reavaliando essa prática.

Zhu, da Keer, diz que os impostos americanos pesaram na decisão de abrir uma fábrica nos EUA, já que poderá aproveitar as tecelagens da América Central e deixar de depender da China, que está cada vez mais cara.

Zhu diz que, em Hangzhou — uma das cidades mais ricas da China — os preços de terrenos industriais dispararam, dificultando a expansão. A indústria têxtil chinesa enfrenta um excesso de capacidade, o que comprime as margens, e os governos locais relutam em vender terras a produtores.

Os custos trabalhistas nos EUA ainda superam aqueles pagos pela Keer na China, mas essa diferença deve diminuir conforme os salários chineses continuem subindo, diz Zhu, acrescentando que espera que a diferença seja mais que compensada por outras economias. A empresa se estabeleceu na Carolina do Sul, em parte, por causa da proximidade com os bancos de Charlotte e o porto de Charleston, diz ele.

Fonte: The Wall Street Journal

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