O Banco Central divulgou uma ata de 71 parágrafos para explicar por que elevou sua taxa de juros de 9,5% para 10% e quais são suas intenções daqui para a frente.
Bastam sete trechos essenciais para entender a mensagem, reproduzidos abaixo com a devida tradução do idioma do BC.
“O Copom entende ser apropriada a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso.”
Tradução - “A inflação vai continuar alta, mas, para evitar que fique ainda maior, os juros vão continuar subindo em 0,5 ponto percentual de cada vez.
Nota - Copom é o Comitê de Política Monetária, formado pela cúpula do BC. A frase é idêntica à da ata de outubro, que antecipou mais uma alta de 0,5 ponto percentual. No mercado, porém, a expectativa mais consensual é uma alta de 0,25 ponto em janeiro.
“O Comitê destaca (…) a ocorrência, desde a última reunião, de focos de tensão e de volatilidade nos mercados de moeda.”
Tradução - “Aumentou o medo de uma alta forte do dólar em breve.”
Nota - A ata de outubro considerava que a tensão havia diminuído no mercado de câmbio. Se o dólar subir, sobem com ele os preços dos importados e a inflação.
“A projeção de inflação para 2013 (…) permanece acima da meta para a inflação. Para 2014, a projeção se manteve (…) acima da meta de 4,5%. Para o terceiro trimestre de 2015, (…) a inflação se posiciona acima da meta.”
Tradução - Inflação de 5,8% ao ano está de bom tamanho. Para cumprir a meta, seria preciso frear ainda mais o já anêmico crescimento da economia.
Nota - O teto para a inflação é de dois pontos percentuais acima da meta, ou seja, 6,5%. O governo considera que, respeitado esse limite, a meta foi cumprida.
“O Copom pondera que a elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses contribui para que a inflação ainda mostre resistência.”
Tradução - “Esperava-se (ou queria-se acreditar) que a inflação já estaria mais baixa a essa altura do campeonato. É preciso fazer alguma coisa a respeito.”
Nota - O trecho é idêntico ao da ata de outubro. Na ata de agosto, a novidade foi a palavra “ainda”. Em bancocentralês, não é o texto que informa, é a mudança do texto.
“O Copom destaca a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho e pondera que, em tais circunstâncias, um risco significativo reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade.”
Tradução - “Para reduzir a inflação, é preciso aumentar o desemprego. É por isso, aliás, que está havendo maior tolerância com a inflação.”
Nota - Pela 24ª ata, o BC está recordando a teoria econômica segundo a qual desemprego baixo e reajustes salariais generosos além da conta fazem aumentar a renda, o consumo e os preços.
“O Copom observa que o cenário central para a inflação leva em conta a materialização das trajetórias com as quais trabalha para as variáveis fiscais. Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade.”
Tradução - “Se a inflação subir acima do previsto, a culpa será do aumento dos gastos do governo. O BC tem de acreditar no que o governo diz (que vai controlar os gastos), não no que o governo faz (aumenta continuamente os gastos).”
Nota - Variáveis fiscais significam o resultado das contas do governo, que, quando gasta demais, alimenta o consumo e os preços. Até agosto, o BC dizia que o buraco nas contas do Tesouro estava em alta; depois, sob descrédito crescente, passou a apostar no que chamou de “neutralidade”.
“O Comitê considera oportunas iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito.”
Tradução - “O BC reprova discretamente a recente injeção de mais R$ 24 bilhões no banco oficial de fomento, o BNDES, para a concessão de empréstimos subsidiados às empresas.”
Nota - Introduzida em abril de 2011, a afirmação está sendo repetida, com ligeiras variações, pela 22ª vez em atas. No período, a injeção de dinheiro no BNDES saltou de R$ 180 bilhões para mais de R$ 300 bilhões.
Fonte: Folha de S. Paulo
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