Até mesmo os assessores do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ficaram surpresos com sua declaração de ontem a respeito do desempenho da economia brasileira
Sem que lhe fosse pedida qualquer comparação, o ministro disparou para os repórteres em São Paulo: "Somos o país que menos cresceu no mundo nesse terceiro trimestre". Ele se referia aos números divulgados pelo IBGE, que mostraram queda de 0,5% no PIB de julho a setembro, sobre o resultado de abril a junho. Com franqueza inesperada, Mantega explicou que, se o Brasil foi o país do G-20 que mais cresceu no segundo trimestre, agora exibiu o pior desempenho.
A declaração do ministro ganhou rapidamente as manchetes na internet. E não poderia ser diferente. Os números do levantamento do IBGE, por si, já eram preocupantes. Havia sinais de desaquecimento, mas as previsões giravam em torno de uma queda de 0,3%. A derrapada da economia foi pior do que previam os analistas. Uma explicação é a entressafra do setor agropecuário, que poderia ser compensada com evolução dos serviços e da indústria. O que não aconteceu. A indústria, por sinal, não dá resposta positiva há muito tempo. Sem competitividade, perde o fôlego e mercados.. Num primeiro momento, reagiu positivamente à política de desoneração, mas agora voltou a se debater com as velhas dificuldades. Em relação aos serviços, o setor sofre em função da retração geral.
Desta vez, não deu sequer para o governo ressaltar a mudança na qualidade do crescimento. Quando comentou o PIB de 1,8% do segundo trimestre, Mantega deu ênfase à evolução da taxa de investimento, como sintoma de aposta na economia. O indicador foi puxado pela compra de colheitadeiras e caminhões para desovar a produção agrícola. Mas a taxa de investimento caiu 2,2%. E a culpa foi atribuída à sazonalidade do campo. Não dá para colocar todos os ovos numa única cesta. Seria lamentável se a economia brasileira andasse para trás e voltasse aos dias da Velha República, quando era dependente do setor primário.
Na verdade, seria estranho se a taxa de investimento (a formação bruta de capital fixo) continuasse a crescer num país com recorde de juros. Amanhã, será divulgada a ata da reunião do Copom que elevou a taxa básica Selic de 9,5% para 10%. Dizem os especialistas que o Banco Central não pretende parar por aí. Deve sancionar novas altas no início de 2014, elevando a Selic para 10,5% ou até 11%. Diante dos limites da política fiscal, o arrocho monetário é o remédio amargo para combater a inflação. Pode ser que a dosagem seja reduzida a partir de janeiro, mas a taxa de dois dígitos veio para ficar. A prioridade absoluta do BC é manter a inflação abaixo do teto da meta (6,5%) e, custe o que custar, levá-la para o mais próximo possível do centro da meta (4,5%), o que não acontece há dois anos.
A receita ortodoxa do Copom não é segredo para ninguém e está expressa em detalhes nas atas dos últimos meses. Não faltam justificativas técnicas para o Brasil praticar a mais alta taxa real de juros do mundo, de 4,1% ao ano, bem à frente do segundo colocado, que é a China, com 3,1%. Mas essa política tem seu preço. A maior taxa de juros do mundo é coerente com o menor crescimento do mundo no terceiro trimestre. Eis uma boa razão para o desabafo do ministro Guido Mantega.
Fonte: Brasil Econômico
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