Diretor do Banco Goldman Sachs, o analista português critica a política econômica do Brasil e afirma que é preciso fazer urgentemente um ajuste nas contas públicas, mais restritivo
"O governo tributa muito, gasta muito, mas continua a investir pouco. O grande desafio a médio prazo é aumentar o nível de poupança e de investimento público no país%u201D, diz |
A queda de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano é resultado da deterioração da política econômica do governo de Dilma Rousseff, diz o economista português Alberto Ramos, diretor do Grupo de Pesquisas Econômicas para a América Latina do gigante financeiro Goldman Sachs, um dos maiores bancos do mundo. “Temos hoje um quadro macroeconômico de baixo crescimento, inflação alta e generalizada, câmbio desalinhado e custos de produção muito elevados em relação aos níveis internacionais”, afirma.
No entender dele, as intervenções feitas por Dilma na economia tornaram as políticas econômicas do Brasil “menos previsíveis”, sobretudo depois da “clara erosão” do quadro fiscal do país. Ramos fala com conhecimento de causa. Antes de ingressar no Goldman Sachs, trabalhou como economista sênior do Fundo Monetário Internacional (FMI), para o qual avaliava as políticas fiscais de nações em desenvolvimento, como a Argentina, a Turquia e o Brasil.
“A erosão da política fiscal brasileira abalou a confiança de famílias e dos empresários a tal ponto que, hoje, as grandes agências de rating internacionais puseram o governo de sobreaviso. Caso essa tendência não mude, pode vir um rebaixamento da nota de crédito do Brasil”, avisa Ramos. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Ramos ao Correio.
O Brasil vive, atualmente, um momento de descrédito mundial. Os organismos internacionais, como o FMI e a OCDE, questionam as contas públicas, e agências de classificação de risco sinalizam que podem cortar a nota de crédito soberana do país. Na sua avaliação, quais motivos levaram a esse quadro?
A qualidade da política macroeconômica vem se deteriorando de forma clara, e o desempenho da economia (brasileira) continua a desapontar. Essa política (do governo Dilma Rousseff) tem um viés intervencionista, heterodoxo, e se tornou menos previsível. Houve também uma clara erosão da política fiscal, levando a um aumento da dívida bruta. Isso abalou a confiança de famílias e empresários a tal ponto que, hoje, as grandes agências de rating internacionais já puseram o governo de sobreaviso. Caso essa tendência não mude, pode vir por aí um rebaixamento da nota de crédito do Brasil.
Desde 2009, o governo brasileiro vem adotando o que o mercado convencionou chamar de “truques contábeis” para fechar as contas públicas anuais. Qual a sua avaliação sobre o verdadeiro esforço fiscal feito pelo governo?
Tem sido insuficiente. Acredito que as políticas fiscal e parafiscal, o que inclui (os repasses dos) bancos públicos, deveriam ser mais restritivas. Assim, dariam uma ajuda à já árdua missão do Banco Central (BC) de reduzir a inflação e trazer para baixo também as expectativas para a alta dos preços. Se a política fiscal não for mais restritiva, será muito difícil para o BC trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%.
Fonte: Correio Braziliense
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