Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Revendo o Brasil

Por Rogério Mori*


A economia brasileira nos últimos anos tem sido um destaque em âmbito internacional. Desde a eclosão da crise em fins de 2008, o Brasil tem sido apontado como uma economia de peso e importante, tendo reagido de forma muito positiva durante os momentos mais agudos da crise.
De fato, a economia brasileira reagiu muito bem, lidando de forma adequada em relação aos efeitos mais negativos naquele momento.
A política fiscal, com a redução de impostos, agiu favoravelmente e o Banco Central, apesar da demora em reagir, cortou juros no início de 2009 e ajudou a economia a reverter o quadro recessivo instalado.
De lá para cá temos sido apontados internacionalmente como a nova estrela no cenário econômico global.
Nesse contexto, o Brasil tem vários aspectos positivos: é democrático, não existem amplas barreiras aos fluxos de capitais, as contas públicas estão ajustadas, a dívida pública é relativamente baixa e o crescimento econômico é moderado.
Apesar desses aspectos positivos, o Brasil está muito longe de ser considerado um país rico: nossa renda per capita ainda se situa próxima da média mundial e menos de um terço do que seria adequado para sermos considerados um país rico.
Adicionalmente, os níveis de investimento produtivo ainda se situam em torno de 20% do PIB, bem abaixo do que seria adequado para que a economia brasileira sustentasse um ritmo de crescimento em torno de 5% ao ano sem a formação de gargalos.
Também é importante lembrar que, apesar das taxas de juros terem caído, ainda se situam em patamar elevadíssimo na ponta do empréstimo.
Por fim, é importante ressaltar que a moeda brasileira encontra-se extremamente apreciada em relação às demais moedas, o que tira paulatinamente a competitividade da nossa economia e gera danos graves à estrutura produtiva brasileira.
Esses elementos reforçam que, apesar dos aspectos positivos em relação à nossa economia, os problemas fundamentais permanecem e o crescimento brasileiro mantém-se em patamar relativamente baixo.
Isso significa que nossa renda per capita cresce em ritmo lento e se mostra insuficiente para que o Brasil se torne um país rico de fato nas próximas décadas.
Apesar do bom humor internacional, alguns analistas econômicos internacionais já começaram a dar alertas em relação a esses problemas na economia brasileira.
No curto prazo, os humores não devem mudar, o otimismo com o Brasil não deve durar indefinidamente.
Esse prazo pode ser dilatado ou reduzido em função do cenário econômico internacional: caso as economias desenvolvidas se recuperem, a tendência dos fluxos é de reversão e é bem provável que o bom humor com a economia brasileira se dissipe nesse processo.
Em função disso, o Brasil deveria fazer sua lição de casa neste momento, com o governo controlando mais seus gastos e investindo mais em infraestrutura. Adicionalmente, os investimentos produtivos privados também deveriam ser estimulados.
O governo parece caminhar na direção correta na questão cambial, mas a lentidão do ajuste prorroga a agonia do setor produtivo. Mais agilidade e mais foco deveriam ser a tônica do governo nesse momento de otimismo com o Brasil.
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*Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/Eesp)

Fonte: Brasil Econômico

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