Por DAVID WESSEL e STEPHANIE BANCHERO
Michael Friberg para The Wall Street Journal
Alex Gavic decidiu não fazer faculdade para não se endividar com crédito educativo e ter tempo para fazer 'snowboard'
Ao longo da história dos Estados Unidos, quase toda geração teve substancialmente mais educação que a geração dos seus pais.
Isto não é mais verdade, e a mudança já está tendo impactos econômicos.
Quando as pessoas que nasceram em 1955 chegaram aos 30 anos de idade, elas haviam passado cerca de dois anos a mais na escola do que seus pais, de acordo com dois economistas da Universidade Harvard, Claudia Goldin e Lawrence Katz, que calcularam a média de anos de estudo dos americanos desde 1876.
Por outro lado, quando os americanos nascidos em 1980 completaram 30 anos em 2010, eles haviam estudado na média oito meses a mais que seus pais.
Essa tendência já teve amplas ramificações no mercado de trabalho dos EUA: a taxa de desemprego das pessoas que têm apenas o ensino médio foi de 8% em março, praticamente o dobro do índice entre as que têm ensino superior, que ficou em 4,2%. Trabalhadores com diplomas universitários nos EUA ganham na média 45% mais do que aqueles que são de grupos demográficos semelhantes, mas têm só o ensino médio. E, nas fábricas altamente automatizadas de hoje, muitos empregadores exigem o equivalente a um diploma de escola técnica, mesmo para os funcionários no nível mais baixo.
Pode haver consequências mais sérias no futuro. Sem educar melhor a sua população, dizem economistas, os EUA não serão capazes de manter empregos de altos salários e padrões de vida elevados na competitiva economia mundial. Produtos e serviços nos quais os EUA são líderes dependem cada vez mais das mentes dos trabalhadores — não dos seus músculos. "A riqueza dos países não está mais nos recursos. Não está mais no capital físico. Está no capital humano", diz Goldin.
As razões pelas quais o nível da educação americana não está mais crescendo como no passado são numerosas: apesar de anos de esforço, as taxas de abandono escolar no ensino médio continuam teimosamente altas. O custo de estudar numa universidade está aumentando, e a perspectiva de acumular dívidas desencoraja alguns formandos do segundo grau a se inscrever numa universidade ou permanecer nela.
Há também uma descrença crescente entre alguns americanos de que um diploma realmente se traduz em empregos bem remunerados. Especialmente durante a recessão, houve excesso de diplomados em alguns setores e falta em outros.
É a tendência inversa da que está acontecendo no Brasil, onde o crescimento da economia e da oferta de emprego ajudou a elevar em 155% o número de formandos nas faculdades do país entre 2000 e 2010, período em que a população geral cresceu 12,33%, segundo análise de dados de censos do governo. É um sinal de que a nova geração de brasileiros está estudando mais do que a anterior.
Já entre os americanos que completaram 25 anos de idade na década de 70, só 5% tinham menos educação que seus pais do mesmo sexo, segundo análise realizada por Michael Hut e Alexander Janus, sociólogos da Universidade da Califórnia em Berkeley. Já entre aqueles que fizeram 25 anos na década de 2000, 18% dos homens e 13% das mulheres tinham menos anos de estudo que seus pais.
Há um limite para a quantidade de estudo que uma pessoa pode obter e para o número de americanos que têm tanto condição quanto vontade de passar quatro anos numa universidade. Mas os EUA não chegaram nem perto desse ponto.
Vinte países têm uma taxa de escolaridade no ensino médio mais alta que os EUA, de acordo com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Nos EUA, perto de um em cada cinco estudantes de ensino médio abandonam a escola antes de completarem o curso.
Cerca de 30% dos americanos adultos têm diplomas universitários de quatro anos, e há pouca evidência de que isso seja o limite natural. Trinta anos atrás, os EUA tinham o maior porcentual do mundo de pessoas na faixa dos 25 a 34 anos com o equivalente a um diploma de pelo menos dois anos; apenas Canadá e Israel chegavam perto. Em 2009, os EUA estavam atrás de 14 outros países desenvolvidos, segundo a OCDE.
O presidente Barack Obama prometeu mudar essa situação. "Até 2020", disse ele numa ocasião, os EUA vão "novamente ter a maior proporção de diplomados do mundo", dando uma definição mais ampla que incluía diplomas de dois anos. Ele já propôs que todos os Estados exijam que seus estudantes terminem o ensino médio ou permaneçam na escola até os 18 anos (como 21 Estados já fazem), e apoiou com sucesso aumentos na ajuda federal a estudantes.
Embora nem todo mundo com um diploma universitário se dê melhor no mercado de trabalho, as estatísticas consistentemente mostram que, na média, quanto mais educação tem um empregado, melhores resultados ele ou ela terá no mercado de hoje. Por exemplo, 54% das pessoas com idade acima de 25 anos e diploma de ensino médio estavam empregadas em março nos EUA, informa o Departamento do Trabalho, enquanto o resto estava ou procurando por emprego ou definitivamente fora da força de trabalho. Entre os que tinham algum diploma universitário, 64% estavam empregados, sendo que, para aqueles com um diploma de bacharel ou outro de nível mais alto, a taxa subia para 73%.
Apesar de as matrículas escolares terem aumentado recentemente — como geralmente acontece quando as pessoas fogem de um mercado de trabalho difícil — as taxas de conclusão escolar têm sido decepcionantes.
Ultimamente, o custo crescente da educação de nível superior surgiu como um obstáculo visível para que quem entrar — e ficar — numa universidade. E a ideia de uma montanha de dívida fez outros desistirem.
Tarifas estão em alta, particularmente nas escolas públicas, que absorvem a maioria dos estudantes e que, nos EUA, só são de graça para quem consegue bolsa. Nos últimos dez anos, por exemplo, as tarifas médias (sem contar acomodação) em universidades públicas de quatro anos subiram 72%, de US$ 4.790 para US$ 8.240 por ano, ajustados pela inflação, de acordo com a College Board, uma organização sem fins lucrativos voltada à educação.
É comum universitários tomarem um crédito educativo que começam a pagar depois de formados, o que implica passar o início da vida profissional quitando dívida.
Alex Gavic, de 21 anos, é um dos que não querem fazer dívidas para estudar. Ele abandonou o ensino médio — embora tenha acabado recebendo um diploma num programa de segunda chance de uma escola comunitária.
Hoje, ele ganha US$ 12 por hora durante o verão numa firma de jardinagem, e faz "snowboard" no inverno.
"Você passa todo esse tempo na escola, e então você fica endividado, aí tem que arrumar um emprego e passar 20 anos pagando a dívida", disse ele. "Isso nunca fez sentido para mim."
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