Por Rodrigo Sias*
Os contínuos aumentos do salário mínimo - 3,5 vezes em termos 
nominais e duas vezes em termos reais nos últimos 10 anos -, que referencia o 
custo de mão de obra de pedreiros, mestres de obra e ajudantes, impactam 
rapidamente no setor.
Programas de infraestrutura como o PAC também aumentam a procura por esse 
profissional, pressionando o mercado de trabalho. Há ainda registros 
preocupantes de falta de mão de obra qualificada, como engenheiros e arquitetos, 
encarecendo toda a cadeia de construção.
Vale registrar que o PIB da construção civil tem crescido acima da média de 
alta do PIB. Em 2011, por exemplo, o setor representou cerca de 15% da economia 
brasileira e cresceu 3,6% frente a 2,7% do PIB total. O efeito riqueza também 
explica o aumento do preço dos imóveis em zonas residenciais e comerciais 
nobres.
O valor de mercado das empresas cotadas em bolsa de valores cresceu em 500%, 
média de quase 20% ao ano desde 2002. Por outro lado, a contínua apreciação da 
taxa de câmbio - 30% em termos nominais e mais de 60% em termos reais desde 2003 
-, ajustam os preços em dólares dos imóveis para cima, tendo como referencial o 
mercado mundial de imóveis.
Ainda do lado da oferta, o país está experimentando a falta de imóveis 
comerciais e industriais. Escritórios bem localizados e galpões com acesso a 
infraestrutura estão sendo intensamente disputados, em especial nas duas 
principais cidades do país, Rio e São Paulo, o que eleva seus preços.
No caso específico do Rio de Janeiro, há ainda a Copa e a Olimpíada de 2016 - 
além do pré-sal - pressionando a demanda por terrenos e imóveis. É possível que, 
após esses eventos, o crescimento do valor dos imóveis cariocas passe por uma 
acomodação.
No entanto, é pouco provável que o patamar de preços baixe sensivelmente, a 
não ser que a crise econômica mundial tome proporções catastróficas, o que, por 
ora, parece uma hipótese remota.
O cenário brasileiro passa longe do que aconteceu nos EUA ou mesmo na Espanha 
onde uma bolha foi criada por taxas de juros negativas, excessiva alavancagem do 
setor bancário e por derivativos pouco transparentes.
Esses países já contavam com mercados imobiliários maduros e crédito farto, 
em torno de 70% do PIB, ao contrário do Brasil, que gira entre 5% e 10% e tem 
muito espaço para crescer ainda. Estruturalmente, os preços devem se elevar para 
completar o ajuste pelo qual passa a economia brasileira.
As baixas deverão ser conjunturais, de acordo com os ciclos econômicos. O PIB 
fraco no ano passado e a queda recente da bolsa já se refletem no preço de 
imóveis usados, exemplificando esse tipo de movimento conjuntural.
Portanto, na próxima conversa de bar, vou contrariar o que disse no primeiro 
artigo e tentar fazer uma previsão. Direi que não há uma bolha imobiliária 
prestes a explodir no Brasil. Há apenas o grande ajuste estrutural derivado do 
cenário inédito de juros baixos e de mudanças institucionais profundas, que só 
toma ares de bolha para o observador pouco atento. Os preços altos vieram para 
ficar.
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*Economista do Instituto de 
Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Fonte: Brasil Econômico
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