Com a economia brasileira perdendo fôlego, a presidente Dilma Rousseff ordenou mais uma rodada de estímulo econômico, desta vez para a indústria automotiva, à medida que aumenta os receios do governo de que os problemas da economia mundial podem prejudicar ainda mais o crescimento do país.
As medidas foram anunciadas na noite de segunda-feira e incluem cerca de US$ 1 bilhão em incentivos fiscais temporários, bem como o relaxamento das regras de financiamento de veículos. As medidas complementam outros passos que Dilma deu para expandir a oferta de crédito a ajudar os exportadores por meio do enfraquecimento do real. Ela pressionou o Banco Central a baixar os juros em 3,5 pontos porcentuais desde o ano passado, uma medida que ela acredita vai impulsionar o crescimento.
Mas o real se desvalorizou mais do que os investidores esperavam, levando alguns economistas a se preocupar com a possibilidade de a inflação brasileira acelerar. O dólar subiu na terça-feira quase 2%, para R$ 2,08, apesar de uma intervenção do BC para tentar segurar a cotação.
"Posso garantir que o Brasil está 100%, 200%, 300% preparado" para reagir aos efeitos da crise econômica mundial, disse Dilma semana passada.
A tentativa da presidente de suavizar os temores é fácil de entender. Os investidores internacionais, que aplicaram em massa no Brasil nos últimos anos em meio ao otimismo sobre as economias emergentes, estão ficando mais cautelosos devido à crescente incerteza sobre a crise de dívida da Europa. Enquanto isso, o crescimento está desacelerando na China, cujo apetite por commodities ajudou o Brasil a prosperar na última década.
Um fator que complica a situação é que muitos dos problemas econômicos brasileiros têm raízes domésticas em vez de internacionais.
Vários economistas dizem que se concentrar em setores específicos com incentivos tributários e à expansão do crédito não resolve problemas econômicos mais profundos, que exigem soluções estruturais. O Brasil lançou medidas semelhantes para apoiar setores desde o têxtil ao de eletrodomésticos nos últimos meses. Mesmo assim, a economia encolheu nos primeiros meses do ano, segundo dados do BC.
Quando se trata de estímulo, o Brasil está numa posição vantajosa em relação ao resto do mundo. Ele ainda tem margem para reduzir a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 9%, enquanto os Estados Unidos e a Europa já reduziram seus juros para praticamente zero. O real se valorizou demais de acordo com vários indicadores, e enfraquecê-lo pode impulsionar a capacidade da indústria local de exportar, dizem autoridades.
Ao mesmo tempo, na ausência de reformas mais profundas, alguns investidores estão começando a reconsiderar se a economia do país é mesmo capaz de fazer frente às altas expectativas que criou quando atingiu um crescimento de 7,5% em 2010. O Brasil cresceu 2,7% em 2011 e muitos economistas dizem que não vai crescer muito mais do que isto este ano.
"Minha impressão é que existe uma mudança no sentimento internacional em relação ao Brasil", disse o economista e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega.
O índice de ações Ibovespa já caiu mais de 18% desde meados de março e o real se desvalorizou cerca de 18% perante o dólar desde fevereiro, ultrapassando a marca psicologicamente importante dos R$ 2 por dólar. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já afirmou que quer uma moeda mais fraca e que o risco de inflação é baixo.
As montadoras elogiaram o novo pacote de incentivos. Mas as medidas também atraíram críticos. Incentivar novos financiamentos automotivos pode não ser o remédio que o Brasil precisa, dizem alguns analistas. Quase 6% dos financiamentos de carros em vigor no país já estão inadimplentes, consequência do último boom de crédito do setor.
Ainda por cima, a maioria dos economistas ortodoxos diz que o Brasil precisa reformar seu sistema tributário, que onera os contribuintes com uma das maiores cargas tributárias do hemisfério. "Eles nunca pensam em medidas estruturais. Tudo que fazem é aplicar paliativos de curto prazo", disse o economista Alberto Ramos, que analisa o Brasil para o banco americano Goldman Sachs.
Fonte: The Wall Street Journal
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