Procura do cliente bancário por melhores condições de taxa pode ser frustrada por falta de transparência nas agências bancárias; segundo especialistas, conduta fere os direitos do consumidor.
"Nossas taxas são ótimas, mas primeiro você abre a conta e depois a gente te conta." Assim pode ser resumido o atendimento dado ao consumidor que tenha o intuito de trocar de banco, mas que antes de tomar a decisão tenta saber mais sobre as taxas de juros que serão cobradas.
O Brasil Econômico esteve em uma agência de cada um dos seis grandes bancos no país - Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e HSBC - na mesma região de São Paulo (zona Sul da capital).
Em todas elas, solicitou informações sobre as novas taxas que as instituições têm anunciado. Nessas simulações, os gerentes receberam a informação de que o cliente tinha um salário de R$ 5 mil e que estaria disposto a fazer a portabilidade de seu pagamento.
Para isso, queria saber a tarifa de abertura de conta, juros no cheque especial, crédito automático e rotativo do cartão de crédito.
A conclusão foi despreparo dos gerentes sobre os novos juros e até condicionamento de dados à abertura efetiva de conta. A conduta fere os direitos do consumidor, segundo o diretor executivo do Procon-SP, Pedro Arthur Góes.
"Esse é o mais básico dos direitos, que é o da informação", destaca. Caso se sinta prejudicado, o cliente pode fazer uma denúncia aos órgãos de defesa do consumidor e, se for apurada irregularidade, a instituição pode ser multada em até R$ 6 milhões.
Já nas agências em que a informação foi prestada, os funcionários não sabiam passar dados precisos. A exceção ficou por conta da Caixa, que forneceu as explicações sobre condições e taxas do programa "Caixa Melhor Crédito".
No entanto, a espera pelo atendimento demorou mais de 50 minutos. O banco informou que está trabalhando para solucionar esse problema e que todas as agências estão abrindo uma hora mais cedo para dar conta do aumento de demanda.
No Itaú, a gerente explicou os benefícios da conta Uniclass, mas afirmou que as taxas de juros só poderiam ser fornecidas após a abertura da conta corrente.
"Mas a nossa taxa do cheque especial é ótima, entre 7% e 7,5%", disse. A funcionária também não soube informar a data em que entraria em vigor as novas condições de taxas para os clientes que recebem salário no banco, em um serviço chamado de MaxiConta Portabilidade.
Segundo o banco divulgou à imprensa no dia 18 de abril, as condições, em vigor desde ontem, incluem taxa mínima no cheque especial de 1,95% ao mês. Procurado após o atendimento na agência, o Itaú informou que as taxas são individualizadas e levam em conta o relacionamento do cliente com o banco. "Por essa razão, não é possível fazer estimativa de taxas a não clientes", informou.
No Banco do Brasil o atendimento foi similar. A gerente informou as taxas mínimas e máximas do programa "Bom pra Todos", mas era preciso abrir a conta para saber a taxa exata - com exceção do cartão de crédito.
A instituição federal afirmou que a gerente agiu de forma equivocada, uma vez que é possível saber a taxa aproximada.
No Santander, a gerente informou as taxas que seriam cobradas, mas não soube informar como funcionava a conta "Light", anunciada pelo banco no dia 18 para os clientes que optarem por receber o salário na instituição.
Procurado após o atendimento, o vice-presidente comercial do Santander, Pedro Coutinho, disse que deve ter ocorrido uma falha pontual, uma vez que a informação foi transmitida a todas as agências. "Trabalhamos com o conceito de que o cliente tem que ter a liberdade de escolher com a melhor conta para ele", disse.
No HSBC, as informações prestadas pelo gerente foram semelhantes, mas ponderando que as taxas cobradas levam em conta o relacionamento do cliente com o banco.
No Bradesco, o funcionário consultado afirmou que as novas taxas seriam apenas para poucos clientes com bom histórico com o banco. Não é essa a informação oficial do banco: procurado, afirmou que as taxas que foram reduzidas valem para todos.
A advogada e professora de Direito do Consumidor da PUC-SP, Maria Stella Gregori, afirma que, como prestador de serviços, os bancos devem informar de forma clara as condições e taxas antes da abertura de conta. "Não pode condicionar a informação à entrada no banco."
Fonte: Brasil Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário