Discussão já havia levado a quedas nos juros futuros, que precificam Selic a 8% ao ano.
As mudanças na remuneração da poupança, anunciadas pela presidência da República nesta quinta-feira (3/5), foram a solução mais consensual e menos impactante, segundo especialistas.
A Medida Provisória, que entrará em vigor já na sexta-feira, estabelece dois tipos de remuneração para a poupança, considerando apenas os novos depósitos e as novas cadernetas.
A primeira, para quando a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, mantém a remuneração atual, de 0,5% ao mês mais a TR (taxa de referência). A segunda, para quando a Selic fique abaixo desse patamar, estabelece um retorno de 70% da taxa, mais a TR.
Como notado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante o anúncio das mudanças, por enquanto, como a Selic está em 9% ao ano, não há alterações efetivas.
"A solução que está se desenhando é boa", avalia o professor de economia da Trevisan, Alcides Leite. Segundo ele, essa mudança é interessante para que a poupança não seja confundida com aplicação financeira.
"Ela é uma aplicação para manter poder de compra da moeda e liquidez imediata, não para aumentar a riqueza. A cultura é diferente das aplicações financeiras", explica.
A remuneração da poupança em torno de 6,2% ao ano, sem a incidência de imposto de renda, era um obstáculo porque tornaria o investimento mais atrativo do que a aplicação nos títulos públicos e fundos de renda fixa caso a Selic ficasse abaixo de 8,5% ao ano.
Com as novas regras, o governo deixa o caminho aberto para reduzir o juro básico brasileiro ainda mais. Nesse sentido, os juros futuros fecharam mais uma sessão em queda e o contrato de janeiro de 2013 já precifica uma queda da Selic próxima de 8% ao ano.
Conforme os cálculos do professor Samy Dana, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, com a Selic a 8% ao ano e um investimento de R$ 1.000 por 12 meses, o rendimento da nova poupança seria de 5,79%. Nas regras anteriores, a remuneração seria maior, de 6,42%. O novo retorno ficaria abaixo do Tesouro Direto (6,06%).
Os cálculos levam em consideração a queda da TR média mensal para 0,02%.
Reflexos para a população
Quando mudanças na poupança entram em foco, a população logo relembra o Plano Collor e o confisco das aplicações, no início da década de 1990. Mesmo que interessante para a economia, as alterações dividem especialistas em relação ao impacto para a população.
"É positivo porque permite a queda da Selic e barateia o crédito e o financiamento. A população ganha menos na aplicação, mas mais nas despesas que ela tem", aponta o professor Alcides Leite.
Por outro lado, Manuel Enriquez Garcia, presidente do Corecon-SP e da Ordem dos Economistas do Brasil, as mudanças são necessárias, mas a explicação não é convincente para a população mais simples, no sentido em que não vem acompanhada de ônus ao governo, mas apenas à população.
"O governo olha do ponto de vista dele e não do aplicador da caderneta de poupança. Esse já está se perguntando por que querem mexer no dinheiro dele, por que ele tem que pagar a conta. Só existe essa forma de reduzir os juros?", explica o professor.
Segundo ele, essas perguntas não têm respostas satisfatórias. Embora a mudança da remuneração seja necessária para a redução dos juros, ela deveria ser feita dentro de um contexto mais amplo, junto com a reforma tributária, por exemplo.
Confira os rendimentos das aplicações de 12 meses em relação à Selic
Fonte: Brasil Econômico
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