Relatório do FMI diz que respostas do Brasil à flutuação cambial são 'apropriadas' |
Com uma política de câmbio flutuante, mas com ligeiras intervenções no mercado, e disposição para elevar as taxas de juros de acordo com os movimentos de capitais, o Brasil está “com a casa em ordem” e “pronto para enfrentar os desafios” financeiros em uma economia marcada por “transições” avaliou nesta quarta-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Mais que isso, sugere o Fundo em seu relatório sobre a estabilidade financeira global (GFSR, na sigla em inglês), divulgado durante sua reunião de outono em Washington, o país é um exemplo de como os emergentes podem reagir à atual reversão de fluxos financeiros que inundaram essas economias desde o início da crise financeira.
Nesse sentido, o conselheiro do Departamento Monetário e de Mercados de Capital do Fundo, Matthew Jones, elogiou a disposição do Banco Central brasileiro em elevar as taxas de juros e realizar leilões de câmbio.
“O que está acontecendo no Brasil é que a taxa de câmbio tem sido ajustada de acordo com esses fluxos, e (o governo) tomou medidas para ‘botar a casa em ordem’” no campo macroeconômico, disse Jones.
“As políticas que as autoridades brasileiras adotam – primeiro, de elevar a taxa de juros para aumentar a credibilidade da sua política monetária, e segundo, as ações para melhorar a liquidez no mercado de câmbio – acho que ajudaram a responder algumas das preocupações que os investidores têm”, disse o especialista.
“Achamos que as respostas do Brasil foram apropriadas e, se continuarem a sua política de reconstruir e reforçar os colchões de resistência, poderão resistir a qualquer desafio que os mercados colocarem.”
'Transições'
Na visão do FMI, o mundo “caminha para uma maior estabilidade global” – mas apenas se realizar corretamente cinco “transições” ocorrendo paralelamente, disse o conselheiro financeiro do Fundo, José Vignals.
Primeiro, os EUA caminham para uma era de normalização nas suas condições monetárias – mais imediatamente, para a retirada gradual da política de afrouxamento quantitativo, o programa de compra de títulos por parte do Federal Reserve (Fed), a autoridade monetária americana, adotado em reação à crise econômica dos últimos anos.
O mercado espera que mais cedo ou mais tarde o BC americano comece a reduzir o valor das compras, hoje em US$ 85 bilhões por mês.
O presidente Barack Obama deve indicar nesta quarta-feira a pessoa encarregada de liderar essa transição, a vice-diretora do Fed Janet Yellen.
Se for confirmada pelo Senado, a primeira mulher a comandar o Fed suscitará expectativas de dar continuidade ao processo iniciado por seu antecessor, tentando casar os dois objetivos da instituição: gerar estímulo econômico para criar empregos, mas ao mesmo tempo não descuidar da meta de inflação.
O diretor de Política Monetária e Mercado de Capitais do FMI, José Vignals, disse que esse processo será “complexo” e “sem precedentes”, e que o BC americano precisa manter uma comunicação “clara e oportuna” para evitar volatilidade.
Recentemente, comentários do atual presidente do Fed, Ben Bernanke, indicando que o programa de compras de títulos pudesse começar a ser retirado já causaram saída de capital de vários países emergente, causando uma desvalorização das respectivas moedas.
Outras transições
O abandono sem sobressaltos das políticas expansionistas americanas facilitaria as outras transições que o FMI identificou na economia global.
Na zona do euro, as pressões sobre os títulos soberanos, os bancos e a moeda comum foram reduzidas por meio de ações políticas em nível nacional e regional, mas desafios ainda persistem nas dificuldades de crédito e nível de endividamento das corporações.
A economia japonesa, sob o primeiro-ministro Shinzo Abe, caminha para um regime econômico marcado por um afrouxamento monetário mais “vigoroso”, nota o FMI, acompanhado de reformas fiscais e estruturais.
Vignals disse que o Japão “precisa implementar este pacote por completo”, porque sem as reformas fiscais e estruturais planejadas, o plano pode intensificar os riscos à estabilidade financeira.
Enquanto isso, os mercados emergentes precisam se adequar a condições de liquidez menos favoráveis.
Nos últimos cinco anos, o fluxo para os títulos dos países emergentes aumentou em mais de US$ 1 trilhão de dólares, quase meio trilhão de dólares acima da sua tendência de longo prazo, disse o FMI.
Isto levou a uma forte redução dos prêmios pagos por países que mais viram entradas de recursos, como Indonésia, México e as Filipinas.
Para o FMI, a receita diante de uma reversão ou declínio de fluxos é deixar as moedas se depreciarem, com apenas algumas intervenções necessárias para evitar movimentos desordenados.
“O anúncio do Brasil de um transparente, porém temporário, programa de intervenção na taxa de câmbio para reduzir a incerteza em relação à volatilidade da moeda é um passo nessa direção”, exemplificou o relatório.
“Além disso, as economias emergentes podem se beneficiar de linhas de swap (troca de moedas) com os principais bancos centrais para eliminar a falta de liquidez nos mercados de câmbio”, recomendou o documento.
'Casa em ordem'
Por fim, recomendou o Fundo, os emergentes precisam reconstruir seus “colchões” de resistência à crise e cuidar de suas vulnerabilidades macroeconômicas – o que o FMI está chamando de “botar a casa em ordem”.
No Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia, por exemplo, “os déficits em conta corrente têm persistido, a inflação permanece em níveis elevados e a política monetária segue limitada frente à desaceleração do crescimento”.
José Vignals lembrou que “enquanto progredimos, ainda precisamos completar uma agenda de reforma regulatória, implementando consistentemente as novas regras em todos os países e incrementando a supervisão”. Essa é a quinta e última transição identificada pelo Fundo.
“Ainda não chegamos lá. Ainda falta muito trabalho para alcançar um sistema financeiro global mais seguro.”
Fonte: BBC Brasil
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