Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Índices econômicos em tempo real podem mudar dinâmica do mercado

O mundo dos dados econômicos pode estar rumando para uma fase nova e substancialmente diferente.

Empresas privadas estão implantando novas tecnologias para reformular a abordagem, que já tem mais de meio século, para monitorar as variações na economia global, prometendo oferecer indicadores constantemente atualizados para orientar as grandes corporações, governos e fundos de hedge.

A mais recente a entrar no setor, Premise Data Corp., é a primeira a criar dados da inflação em tempo real, recorrendo a centenas de pessoas, no mundo todo, que diariamente tiram fotos de prateleiras de lojas e carrinhos de supermercado para acompanhar as mudanças de preços.

A nova firma, com apoio dos investidores Google GOOG +0.45%  Ventures, Andreessen Horowitz e Harrison Metal, será apresentada hoje, depois de passar quase dois anos montando discretamente sua estrutura.

A Premise colocou em campo 700 funcionários com smartphones, em 25 cidades, para captar imagens de produtos, acompanhando a mudança diária dos preços. O software registra automaticamente a localização dos produtos e de cada loja e analisa as imagens de produtos como carne e verduras para medir as diferenças de qualidade. O usuário que visualiza as informações pode ampliar as imagens dos produtos em cada varejista, tornando assim o programa uma versão do Google Street View para prateleiras de lojas.

Os computadores da Premise também percorrem sites para capturar automaticamente os preços de lojas on-line, processo que ainda fornece cerca de 80% dos dados que a firma usa para criar indicadores de inflação em tempo real.

Em contraste, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos coleta dados de preços enviando seus funcionários para coletar o valor dos produtos uma vez por mês. As informações são então compiladas num relatório mensal de inflação.

Inovações tecnológicas como redes de abastecimento eficientes e entregas no momento exato "alteraram completamente a atividade econômica humana", disse David Soloff, fundador e executivo principal da Premise. "No entanto, os indicadores que as pessoas examinam pararam numa outra época."

Quando planejava estreia da empresa hoje, Soloff não sabia que o governo americano estaria entrando na terceira semana de uma paralisação parcial que suspenderia a divulgação da maioria dos dados econômicos oficiais. A briga política em Washington chamou a atenção para indicadores econômicos do setor privado, como uma medida muito conhecida de aumento salarial, produzida pela Automatic Data Processing Inc., ADP +0.97%  as tendências de gastos com cartões de crédito, coletadas pela MasterCard Inc., MA +0.87%  e dados de habitação fornecidos por empresas privadas.

Mesmo quando o governo federal está funcionando normalmente, receber índices atualizados sobre o desempenho da uma economia pode deixar os usuários perplexos. Os relatórios sobre a inflação, o emprego e os gastos do consumidor, em geral baseados em "instantâneos" mensais, são divulgados com uma defasagem de semanas ou meses e podem ser corrigidos meses depois. Essas deficiências criam problemas para investidores e legisladores, que têm de agir em tempo real mesmo que a economia esteja mudando mais rápido do que os métodos existentes conseguem medir.

"Ainda há um elemento da Guerra Fria nas nossas estatísticas", disse Alan Krueger, professor da Universidade de Princeton e ex-economista de alto escalão da Casa Branca, contratado como consultor da Premise há duas semanas. "Estamos numa espécie de compasso de espera. Em muitas situações, eu me vi desejando ter dados mais atuais e mais amplos."

Mesmo considerando todas as dificuldades que as empresas e os legisladores enfrentam para analisar os dados econômicos dos EUA, os desafios em muitos outros mercados — incluindo a qualidade dos dados e as lacunas nos números — são muito maiores.

Há anos observadores externos questionam os dados de inflação da Argentina. Isso inspirou Alberto Cavallo, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, a criar suas próprias medidas a partir de 2007.

O esforço acabou se tornando uma iniciativa acadêmica chamada Projeto Um Bilhão de Preços, que coleta dados de varejistas on-line em todo o mundo para criar medidas diárias da inflação. Em 2010 o projeto deu orgiem à PriceStats, que distribui ferramentas para aferição da inflação através da firma de serviços financeiros State Street Corp. STT +1.23%  para cerca de 7.500 clientes.

Pioneiro no campo, Cavallo disse que vê como um fato positivo a chegada de outras firmas que buscam melhorar os dados disponíveis. Assim como outros economistas e executivos, ele julga que os indicadores do setor privado complementam, não substituem as medidas oficiais.

"Tenho muito respeito pelo o que as agências de estatística fazem", disse ele. "Elas estão muito interessadas em ver como essas técnicas podem ser incorporadas aos seus próprios métodos."

Soloff atribui à PriceStats o crédito pelas descobertas originais no campo. Ele disse que o objetivo da Premise é fornecer informações ainda mais profundas — até o nível do produto, não apenas das categorias de produtos. A firma deseja ainda fornecer uma plataforma tecnológica para uma ampla gama de indicadores econômicos, além da inflação.

Mesmo assim, elaborar indicadores precisos e confiáveis é uma tarefa que enfrentará inúmeras dificuldades. Os economistas lutam há décadas com os erros de amostragem nos relatórios econômicos tradicionais. Uma abordagem tipo "crowdsourcing", usando pessoas do público geral com treinamento limitado, poderia levar anos de trabalho para eliminar os ruídos no sistema. Já os coletores de preços da Premise trabalham em tempo parcial, algumas horas por dia, ganhando de US$ 0,10 a US$ 0,30 por imagem capturada.

A empresa diz que já conseguiu seis clientes até agora, enquanto tem atuado com discrição, incluindo um grande consumidor de produtos embalados, um banco de investimentos, dois fundos de hedge e uma firma de private equity. As informações também são distribuídas através do terminal de dados da Bloomberg, embora, ao que parece, poucos assinantes o estejam usando até agora.

Fonte: The Wall Street Journal

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