Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

País perde espaço nas transações globais

Sem acesso a produto importado de ponta, empresas nacionais perdem competitividade na exportação de produtos de maior valor agregado.

GENEBRA - O Brasil tem hoje a maior tarifa de importação sobre produtos industrializados entre as economias do G-20 e está fora das grandes cadeias globais. Isso é o que revela um levantamento publicado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), cujos números apontam ser o Brasil hoje um mero abastecedor de linhas de produção que, em outros mercados, darão maior valor agregado a produtos.
Os dados mostram que o governo brasileiro usou a última década para promover uma importante elevação nas tarifas de importação. Em 2004, a média aplicada sobre produtos entrando no País era de 10,4%. Em 2008, essa tarifa passou a 11,5%. Hoje, ela chega a 13,5%. Se apenas os produtos industrializados forem calculados, na média, ela sobe para 14,1%, a maior entre todas as economias do G-20.

O governo brasileiro insiste que tem o direito de aplicar essas tarifas. Isso porque, nos anos 90, se comprometeu na OMC a manter suas tarifas abaixo de 35%. O governo também alega que os países ricos não têm do que se queixar, já que as importações têm sofrido forte elevações nos últimos anos. De fato, a OMC constata que o Brasil seria um dos principais importadores do mundo, com aumento médio de 17% ao ano entre 2005 e 2012. Só a China aumentou em 33% a cada ano suas vendas ao Brasil desde 2005.

Ainda assim, especialistas apontam que o comportamento protecionista brasileiro pode estar tendo um impacto na produção nacional e afetando até mesmo as exportações. Isso porque as barreiras estariam impedindo que multinacionais optem por escolher o País como base de exportações de alto valor agregado que necessitem de insumos vindos de fora. As tarifas ainda estariam dificultando o acesso de empresas nacionais a produtos de ponta, prejudicando sua competitividade para depois exportar produtos de maior valor agregado.

De tudo que se vende do Brasil ao mundo hoje, 88% é de fabricação inteiramente nacional. A taxa é uma das mais altas do mundo e só é superada por Brunei e por Arábia Saudita, com mais de 90%. A taxa brasileira ainda está bem acima dos 75% da média mundial.

Se aparentemente o índice brasileiro poderia ser considerado algo como positivo e uma prova da capacidade da indústria nacional, na economia globalizada atual o dado é visto por especialistas como um sinal do fracasso da política comercial do País para se inserir de forma competitiva no mundo e de ser o ponto final da produção de bens de alto valor.

Os dados mostram que, no fundo, o Brasil se transformou nos últimos anos em mero abastecedor de cadeias produtivas estrangeiras que, em algum lugar do mundo, montarão produtos finais com alto valor agregado. Hoje, o Brasil é o 10o.º maior exportador de bens intermediários. Dos US$ 242 bilhões vendidos em 2012, US$ 168 bilhões serviram para fornecer outros países na construção de um produto final, e de maior valor.

De cada dez reais exportados, sete servem para abastecer uma linha de produção que adicionará valor ao produto final.

Os dados também mostram que a participação do Brasil no mercado global no setor industrializado é insignificante. O País, por exemplo, representa 0,3% do abastecimento de bens manufaturados da Europa. Entre 2005 e 2012, as vendas aumentaram apenas 2% ao ano.

No mercado americano, os produtos brasileiros perdem espaço para a China. Hoje, bens industrializados do Brasil atendem a apenas 0,9% das importações dos EUA e, nos últimos sete anos, o país viveu uma queda de 2% ao ano. Em 1953, o Brasil tinha 1,4% do mercado mundial. Hoje, tem 1,3%, incluindo agricultura e minérios.

De fora. Uma história bem diferente aparece entre os importados. O fluxo de bens ao País dobrou em dez anos. Em 2000, o País consumia 0,7% de tudo o que se importava. Hoje, essa taxa é de 1,3% e os dados mostram um déficit cada vez maior em setores estratégicos da nova economia.

O problema é que essa alta não vem no abastecimento de indústrias, mas principalmente em bens de consumo. No setor de telecomunicações, o Brasil triplicou suas importações em dez anos, para um total de US$ 9 bilhões. A elevação só foi superada por sauditas e pela economia de Cingapura. Hoje, o Brasil é o 12o.º maior importador do mundo em produtos de tecnologia. 
Já as exportações desse setor seguiram um caminho inverso. As vendas nacionais são hoje metade do que eram em 2000 e representam apenas 0,3% das exportações brasileiras, taxa que só perde para a economia saudita.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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