Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Macroeconomia ganha nova força

O Prêmio Nobel de Economia deste ano foi dividido por um acadêmico que previu a bolha imobiliária antes de ela estourar e outro cujo trabalho questiona o próprio conceito de bolhas financeiras. Não é de se admirar que muitas pessoas vejam os pronunciamentos dos economistas com ceticismo ou até desprezo.

Cinco anos após a crise financeira que tão poucos previram, os economistas estão às voltas com as lições desse fracasso. Eles ainda não entraram em pleno acordo sobre o que causou o colapso nem sobre como reconstruir a economia a partir daí e evitar a próxima crise.

Mesmo os defensores da profissão dizem que ela ainda tem um longo caminho pela frente.
"Creio que a economia está mais ou menos no mesmo estado que a medicina estava por volta do século XVIII", disse Jonathan Wright, economista da Universidade Johns Hopkins que estudou os efeitos da recessão de 2007-2009 sobre as previsões e modelos. Como ele diz, a economia já passou além do estágio de aplicar sanguessugas mas ainda não atingiu um nível equivalente ao da medicina moderna.

O processo tem implicações muito além do círculo acadêmico. Desde a crise financeira, os economistas vêm discordando sobre questões de política governamental, como por exemplo se os governos devem se concentrar em cortar gastos ou estimular o crescimento. Suas receitas divergentes provavelmente contribuíram para os esforços, inconsistentes e muitas vezes ineficazes, para restaurar o crescimento, tanto nos Estados Unidos como em vários outros países.

A escolha do Nobel ilustra tanto o progresso no campo da economia como a longa distância que ela ainda tem que percorrer. Dito de outra maneira, a escolha de Eugene Fama, da Universidade de Chicago, e Robert Shiller, da Universidade de Yale, é uma contradição. Fama está associado à "hipótese do mercado eficiente", que sustenta que os preços dos ativos refletem todas as informações e que portanto, na sua forma mais destilada, rejeita a possibilidade de "bolhas" financeiras. Shiller, por sua vez, demonstrou que a trajetória dos mercados ao longo de meses e anos muitas vezes não pode ser explicada pelos conceitos financeiros fundamentais. (Os dois dividiram o Nobel com Lars Peter Hansen, da Universidade de Chicago, que desenvolveu métodos estatísticos para a precificação dos ativos.)

Visto de outra forma, o trabalho dos ganhadores do Nobel representa um processo, não um paradoxo. A teoria fundamental de Fama, que os mercados absorvem rapidamente as novas informações, continua sendo um dos pilares da doutrina financeira moderna. As conclusões de Shiller não foram contra essa teoria, mas sim a ampliaram: as oscilações de preços, no curto prazo, podem refletir as informações mais recentes, enquanto que as alterações de longo prazo decorrem de uma série de razões, nem todas racionais. Esta última constatação não nega a anterior, tal como a teoria da relatividade de Einstein não tornou irrelevante a física de Newton.

A boa notícia para os economistas e para os políticos que dependem de seus conselhos é que existem pelo menos três razões para se esperar avanços na profissão. A primeira é que as questões mais relevantes para a elaboração de políticas econômicas estão recebendo mais atenção. A macroeconomia, estudo da economia nacional e internacional, havia caído em desuso antes da crise. Agora está de volta, incorporando uma nova apreciação pelos ciclos de negócios, que indicam uma economia em ascensão ou em declínio, bem como pelas finanças.

O interesse acadêmico pelos ciclos de negócios caiu muito na década de 1990 e início de 2000 por uma razão simples: os próprios ciclos de negócios pareciam estar desaparecendo durante essas duas décadas de relativa estabilidade. Antes da recessão mais recente, estudar as flutuações econômicas "era como estudar a anatomia dos dinossauros", disse Nicholas Bloom, professor de economia na Universidade de Stanford.

A segunda razão para otimismo é que a crise reposicionou as finanças, antes uma área de estudos especializados, e a colocou bem no centro da macroeconomia. O professor Ricardo Reis, da Universidade Columbia, antes dedicava pouco tempo às finanças no seu curso de introdução à economia. Hoje ele dedica cerca de 20% das aulas aos tópicos financeiros. "É realmente crucial ensinar (...) os fundamentos das finanças, da precificação de ativos e do por quê tivemos a crise", disse ele.

Por fim, a próxima geração de macroeconomistas estará armada com ferramentas de pesquisa muito mais poderosas. Atualmente, computadores mais poderosos e mais acesso aos dados tornam possível testar hipóteses numa escala muito mais ampla e traçar políticas de acordo.

Fonte: The Wall Street Journal

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