WASHINGTON, 14 Out (Reuters) - Os países emergentes deram um suspiro de alívio quando o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, decidiu não reduzir seu estímulo monetário no mês passado.
Ao adiar o inevitável, o banco central norte-americano aliviou a pressão sobre os mercados emergentes para implementarem reformas que podem torná-los mais resistentes quando o Fed finalmente reverter a política.
"É muito fácil ficar viciado na elevada liquidez global", disse à Reuters Guillermo Ortiz, presidente do maior banco privado do México, o Grupo Financiero Banorte.
"Acho que é melhor se conformar agora para evitar uma redução mais penosa para os países de economias emergentes no futuro", disse Ortiz, que já foi ministro das Finanças e presidente do banco central do México.
Exemplos claros são as economias do Brasil e da Índia, que têm registrado forte desaceleração recentemente devido em parte à falta de ação do governo para remover os gargalos do crescimento, como os impostos mais altos e a burocracia.
As economias de mercados emergentes protestaram quando o banco central norte-americano injetou trilhões de dólares no sistema financeiro, emitindo uma onda de capital especulativo em seus mercados que ameaçou elevar a inflação e alimentar as bolhas de ativos.
Então, em maio, o chairman do Fed, Ben Bernanke, indicou que o banco poderia reduzir em breve os 85 bilhões de dólares em títulos que está comprando a cada mês para manter os custos de empréstimos baixos.
Isso levou a uma forte reversão nos fluxos de capital que arrastou as moedas de países emergentes para mínimas em vários anos e desgastou seus balanços de pagamentos.
O Fed recebeu críticas de alguns países emergentes por não ter preparado melhor os mercados financeiros para uma mudança de maré em suas políticas.
Líderes econômicos de países emergentes que se reuniram em Washington na semana passada pediram aos Estados Unidos que comuniquem melhor suas intenções para evitar turbulências no mercado.
Eles também aplaudiram a indicação pelo presidente norte-americano, Barack Obama, de Janet Yellen, com visão política flexível, para suceder Bernanke no comando do Fed em janeiro.
Yellen, que ainda precisa ganhar o apoio do Senado dos EUA, tem sido uma defensora de medidas agressivas para diminuir o desemprego. A expectativa é de que ela agirá cautelosamente para controlar o estímulo monetário do banco central.
A indicação dela, em conjunto com o impasse político prolongado sobre o orçamento do país e o teto da dívida, já levou os economistas a adiarem suas expectativas para o momento em que o Fed começará a reduzir suas compras de ativos.
"Há todas indicações de que Yellen tem o ouvido muito sensível para as questões de contágios, das preocupações de mercados emergentes e a compreensão da necessidade de um modo mais consistente de comunicação", disse à Reuters o ministro das Finanças da África do Sul, Pravin Gordhan, enquanto participava das reuniões semestrais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial no último fim de semana.
O seu par brasileiro, Guido Mantega, disse à Reuters que a indicação favorece uma redução gradual do estímulo norte-americano.
CUIDADO COM O QUE DESEJA
Alguns analistas, entretanto, disseram que os mercados emergentes terão melhor desempenho ao optarem por tomar medidas para apoiar as economias e não ficarem confiando na habilidade de o Fed evitar turbulências no mercado.
"Quando a redução ocorrer será difícil para todo mundo", disse James Barrineau, que ajuda a gerenciar 1,89 bilhão de dólares da dívida de mercados emergentes na Schroders Plc. "Veremos mais volatilidade no mercado".
"A hipótese de que teremos um período de calmaria é equivocado".
Os países emergentes estão melhor preparados para lidar com a alta dos custos de empréstimos norte-americanos do que estavam no passado, mas ainda precisam de reformas para fortalecer suas economias.
Uma década de elevados preços de commodities, aumento da liquidez global e de rápido crescimento que levaram dezenas de milhões de pobres para a classe média reforçaram as finanças e as economias de países como Turquia, México e Brasil.
Entretanto, esses motores da economia global têm perdido fôlego nos últimos anos à medida que as reformas estruturais para afrouxar as leis trabalhistas e atrair investimento de longo prazo têm ficado para trás.
"Acho que é bom ter um pouco de pressão sobre os países de mercados emergentes para que façam as suas obrigações", disse o economista do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos. "É bom que eles encontrem fontes endógenas de crescimento em vez de apenas acompanharem a onda global de alta liquidez".
Sem essas reformas, muitas economias emergentes podem ser prejudicadas se o Fed se abstiver por muito tempo e decidir corrigir o rumo drasticamente mais tarde.
"Quando o Fed se dar conta de que precisa reduzir (o estímulo), seria um pouco tarde e eles podem ter que fazer a redução mais rapidamente", disse o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn. "Se (a redução) ocorrer um pouco mais tarde e de maneira mais rápida, será um verdadeiro desastre para os países de mercados emergentes".
Fonte: Reuters Brasil
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