Na terça-feira, as atenções estavam voltadas para os protestos do Dia do Mestre no Rio e em São Paulo, que, ao final, deram lugar a nova arruaça promovida pelos blacks blocs
Assim, quase passou em brancas nuvens uma informação importante da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas: as vendas do comércio no último Dia da Criança subiram apenas 3,5% em comparação à mesma data do ano passado. Foi a menor alta dos últimos quatro anos.
Segundo o presidente do CNDL, Roque Pellizzaro Júnior, o baixo desempenho se deve à inflação e ao crédito mais caro. "O consumidor brasileiro está mais cauteloso, fato que o leva a priorizar compras à vista, com um ticket médio menor, e a renegociar dívidas já assumidas. Além disso, muitos estão se resguardando para consumir no Natal". Em resumo, as famílias estão com o pé atrás.
Não há por que duvidar das palavras de Pellizzaro. Afinal, o comércio, pelo contato direto, é o melhor termômetro para medir o humor dos consumidores. Mas o Banco Central não está nem aí para o que acontece no balcão. Prefere apostar no faro fino de sua diretoria. É isso que se depreende da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, divulgada ontem.
No item 22 do documento, os membros do Copom afirmam que o cenário central "contempla ritmo de atividade doméstica mais intenso neste e no próximo ano". Não bastasse a previsão otimista, anuncia-se que "informações recentes indicam retomada dos investimentos e continuidade do crescimento do consumo das famílias, esse último favorecido pelas transferências públicas e pelo vigor do mercado de trabalho".
Na economia superaquecida que tanto assusta o Copom, está muito estreita a margem de ociosidade no mercado de trabalho. E existe o risco de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade. "Não obstante sinais de moderação, o Comitê avalia que a dinâmica salarial permanece originando pressões inflacionárias de custos". Como a inflação ainda mostra resistência, só há uma solução a adotar: o aumento da taxa básica de juros que, nos últimos meses, já subiu para de 7% para 9,5% ao ano.
"Nesse contexto, o Copom entende ser apropriada a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias em curso", explica a ata, repetindo integralmente o texto das duas últimas reuniões. O mercado financeiro não teve maior dificuldade para entender a mesmice do BC. A Selic certamente vai subir mais 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom, em novembro, voltando aos dois dígitos. E os oráculos antenados já falam em taxa de 11% no início do ano que vem.
O Banco Central acredita que se faz necessário evitar e indexação e reverter a percepção dos agentes econômicos, "com a devida tempestividade". No mundo fantástico do Copom, a economia vai de vento em popa. Mas, curiosamente, o Índice de Atividade Econômica do próprio Banco Central, o IBC-Br, que é considerado uma prévia do Produto Interno Bruto, registrou alta modestíssima de 0,08% em agosto na comparação com julho.
Um resultado mais afinado com o mau desempenho do comércio no Dia da Criança. Acontece que o Banco Central está sediado em Brasília, onde o padrão de consumo é outro. Certamente, as vendas estão bombando por lá.
Fonte: Brasil Econômico
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