A China está passando à frente dos Estados Unidos como maior compradora de petróleo do Oriente Médio, aumentando a tensão diplomática entre os dois países em relação à segurança na região.
A China ultrapassou os EUA como importadora de petróleo do Golfo Pérsico há vários anos, segundo algumas medidas. Este ano ela está a caminho de ultrapassar os EUA como a maior compradora mundial da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, bloco composto sobretudo de países do Oriente Médio.
A virada elevou as tensões porque deixa o exército americano encarregado de garantir a segurança dos crescentes embarques de petróleo da região para a China, num momento em que Pequim está resistindo à pressão do governo americano para apoiar sua política externa em relação ao Oriente Médio.
Durante anos, a China e outros países consumidores de petróleo se beneficiaram dos gastos de Washington, de bilhões de dólares anuais, para policiar certas áreas como o Estreito de Ormuz e outras partes voláteis do Oriente Médio, para garantir que o petróleo fluísse ao redor do globo.
Mas a ascensão do setor de petróleo e gás de xisto na América do Norte colocou os EUA a caminho de ultrapassar a Rússia, este ano, como o maior produtor mundial combinado de petróleo e gás se é que já não ultrapassou , segundo uma análise recente de dados mundiais feita pelo The Wall Street Journal.
Esse aumento, combinado com uma estagnação do consumo interno de petróleo, está tornando os EUA muito menos dependente do petróleo importado, inclusive do Oriente Médio, num momento em que cresce a dependência da China em relação ao petróleo da região.
As importações chinesas de petróleo da Opep no primeiro semestre foram, em média, de 3,7 milhões de barris diários, contra 3,5 milhões dos EUA, segundo a firma de consultoria Wood Mackenzie. Nesse ritmo, as importações anuais da China de petróleo da Opep vão superar as dos EUA pela primeira vez este ano, informou a Wood Mackenzie. A Índia foi a terceira maior importadora mundial, com cerca de 3,4 milhões de barris por dia.
Em 2004, os EUA importaram cerca de 5 milhões de barris diários da Opep, e a China importou cerca de 1,1 milhão, informou a Wood Mackenzie. Uma autoridade da Opep não quis confirmar se a China é agora a maior compradora do bloco.
Nos últimos anos, a China vem importando mais de países da Opep como Arábia Saudita, Iraque e Emirados Árabes Unidos, segundo dados da alfândega chinesa.
A China está trocando de lugar com os EUA de acordo com outras medidas também. Os EUA ainda são os maiores importadores de todo o mundo de petróleo. Mas, dados da Administração de Informações sobre Energia dos EUA projetaram que as importações líquidas de petróleo da China, vindas de todo o mundo, deveriam chegar a 6,3 milhões de barris diários em setembro, superando as importações líquidas dos EUA, de 6,2 milhões de barris diários. Isso tornaria a China a número 1 do mundo em importações líquidas de petróleo, medida definida pela AIE como o consumo total de combustíveis líquidos menos a produção nacional.
E em breve a China vai importar mais do Golfo Pérsico que os EUA importavam no seu pico, em 2001, segundo a EIA e dados da alfândega chinesa. Segundo esses dados, a China ultrapassou os EUA como compradora de petróleo do Golfo Pérsico em 2009.
A ascensão da China como grande compradora do petróleo do Oriente Médio representa um dilema para ela e para os EUA. Para a China, significa que a sua economia depende, em parte, do petróleo vindo de uma região dominada pelos militares americanos. Quando os petroleiros partem dos terminais do Golfo Pérsico para a China, eles dependem, num grau significativo, do policiamento da área feito pelos EUA.
Para Washington, a sede de petróleo da China significa justificar gastos militares que beneficiam um país visto por muitos americanos como um rival estratégico, e que muitas vezes não apoia os EUA na política externa.
Os sinais de tensão estão aparecendo. Pequim pediu garantias de que Washington vai manter a segurança na região do Golfo Pérsico, já que a China não tem poderio militar para isso, de acordo com pessoas a par de conversas recentes entre os dois países.
Em reuniões realizadas desde pelo menos o ano passado, as autoridades chinesas têm procurado garantir que o compromisso dos EUA com a região não está enfraquecendo, em especial porque o governo de Barack Obama se comprometeu em reequilibrar seu foco estratégico, direcionando-o um pouco mais para o Extremo Oriente, disseram pessoas a par dessas conversas.
Em troca, as autoridades americanas vêm pressionando a China para dar aos EUA mais apoio em questões como sua política externa em relação à Síria e o Irã. Em discussões privadas, autoridades americanas vêm pressionando a China para reduzir as suas importações de petróleo do Irã, por exemplo, segundo uma pessoa a par das conversas.
Ao mesmo tempo, a China enfrenta críticas de altos dirigentes americanos, que se queixam de que Pequim obstruiu medidas duras contra o regime sírio pela ONU. Autoridades americanas do atual governo e de anteriores já disseram aos chineses que a estabilidade do fluxo dos combustíveis do Oriente Médio vai precisar de mais cooperação de Pequim de agora em diante, disseram as pessoas a par das conversas.
O Ministério das Relações Exteriores da China, num comunicado recente em resposta a perguntas para este artigo, afirmou que o comércio de petróleo da China com o Oriente Médio "é mutuamente benéfico e está em conformidade com as normas comerciais internacionais", acrescentando que a China deseja a inclusão política, a prosperidade econômica, paz e estabilidade para a região.
Os EUA têm outros interesses em manter uma forte presença na região, incluindo proteger Israel e defender as rotas marítimas para aliados como Japão e Coreia do Sul. E não está claro se os EUA iriam reagir bem a um maior envolvimento militar chinês no Oriente Médio, que poderia desafiar o papel dos EUA na região.
Os EUA vêm dominando a segurança do Golfo desde 1970, depois que a Grã-Bretanha retirou suas forças armadas permanentes da região. Mais recentemente, o país vem usando a venda de armas para fortalecer seus parceiros regionais, como a Arábia Saudita, a fim de compartilhar a responsabilidade pela segurança.
Aliados dos EUA instalaram bases militares na região: em 2011 as Forças de Autodefesa do Japão abriram uma base em Djibuti para ajudar a policiar as rotas marítimas, e em 2009 a França abriu uma base nos Emirados Árabes Unidos.
A capacidade da China de projetar seu poder na região é limitada. Ela não tem poderio militar nem experiência para policiar ativamente zonas de conflito ou rotas marítimas. Sua maior missão militar na região ocorreu durante modestas operações antipirataria na costa da Somália.
Uma imagem da estratégia chinesa na região pode ser vista no Iraque, de onde provém um volume crescente das suas importações de petróleo bruto. As importações chinesas do Iraque mais que dobraram desde 2009, segundo dados da alfândega chinesa.
Para atenuar as tensões crescentes sobre segurança energética e outros assuntos, no ano passado Washington e Pequim criaram uma reunião anual de diplomatas americanos e chineses de alto escalão, chamada Diálogo EUA-China sobre o Oriente Médio.
Mas os encontros a portas fechadas produziram resultados limitados. Um comunicado de imprensa do Departamento de Estado americano sobre a segunda reunião anual, em junho, dizia que os EUA viam favoravelmente o fato de que a China estava desempenhando "um papel mais ativo e positivo na região do Oriente Médio".
Em setembro, o presidente Barack Obama, falando na ONU, disse que os EUA continuam comprometidos a assegurar o fluxo de combustíveis da região. "Embora nós, nos EUA, estejamos reduzindo constantemente a nossa própria dependência do petróleo importado, o mundo continua dependendo do fornecimento de combustíveis dessa região, e uma interrupção grave poderia desestabilizar toda a economia global", disse ele.
Fonte: The Wall Street Journal
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