A produção de petroquímicos, alumínio e cerâmica está em patamar reduzido devido a frequentes quedas de energia
Além dos empecilhos econômicos comuns ao setor produtivo em 2013, falhas no fornecimento de energia elétrica têm prejudicado o desempenho da indústria e do serviço de telecomunicações neste ano. Fabricantes petroquímicos, de alumínio e de cerâmica estão no topo da lista de atividades que têm a produção freada por quedas de eletricidade, ainda que momentâneas. Também a empresa de telefonia Vivo passa por recorrentes dificuldades na prestação do serviço no interior de São Paulo pelo mesmo motivo.
Um único apagão ocorrido em 28 de agosto, por exemplo, gerou perda de R$ 50 milhões à Braskem e derrubou a atividade industrial na Bahia, onde prevalece a produção petroquímica, com uma queda de 8,6% ante julho, último dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O apagão, somado a algumas paradas programadas, levou à retração do nível de utilização da capacidade do setor químico no mês para 79%, ante 82% registrados na média de janeiro a agosto, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
Como solução, os grandes consumidores de energia, reunidos na Abrace, estão desenvolvendo um estudo para apresentar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que irá mapear os principais motivos das interrupções no abastecimento e os segmentos mais prejudicados. O produto final será a formulação de um indicador de qualidade dos serviços de transmissão e distribuição de eletricidade com foco especificamente na indústria. O indicador será diferente do DEC e FEC, índices de duração e frequência utilizados pela agência para medir a qualidade do serviço de distribuição de energia, que tem como foco o cliente residencial e não o industrial.
"A realidade da indústria difere da dos demais consumidores de energia. Às vezes, uma interrupção momentânea no fornecimento, inferior a três minutos, sequer é sentida pelo pequeno consumidor. Mas, para a indústria, significa a interrupção da produção por horas. Além de perdas associadas à deterioração ou queima de equipamentos, existem aquelas relacionadas ao que se deixa de produzir por conta da interrupção", salienta a coordenadora de Energia Elétrica da Abrace, Camila Schoti.
Segundo a Braskem, "o prejuízo econômico é o custo de interrupção, cujo período de retorno pode variar de horas a dias, a depender da situação de operação da planta petroquímica antes do evento e da duração da interrupção". O apagão de agosto aparecerá no resultado financeiro do terceiro trimestre, que será publicado nos próximos dias, informou a empresa, por meio de sua assessoria de imprensa - sem, no entanto, detalhar o tamanho do prejuízo no resultado da companhia.
Quando ocorrem falhas no fornecimento de eletricidade, os sistemas de segurança da indústria química - assim como ocorre nos setores de alumínio e de cerâmica - entram em ação automaticamente, paralisando a unidade ou deixando a linha de produção em ritmo mais lento. Os fabricantes são obrigados, então, a resfriar os equipamentos, inspecioná-los e prepará-los para uma nova retomada. Com a normalização no fornecimento de energia, são acionados procedimentos padrão de retomada da produção, cujos prazos dependem dos impactos de cada evento.
Todo esse processo reduziu o ritmo de produção neste ano da refinadora de alumina Alunorte. Blecautes ocorridos nos dias 18 de maio e 2 de junho levaram o ritmo de produção a um patamar inferior ao do ano passado. O grande prejuízo ocorreu no primeiro semestre e acabou tendo efeito de comparação positivo no terceiro trimestre. "Em decorrência das quedas de energia na Alunorte e a interrupção da produção há alguns meses, mobilizamos imediatamente nossos recursos para estabilizar e aumentar a produção na refinaria. Seguindo a estabilização, observamos agora que a produção está gradualmente aumentando, apesar de partir de níveis baixos", diz o presidente da Hydro, controladora da Alunorte, Svein Richard Brandtzæg.
Vivo tem publicado em jornais, quase diariamente, comunicados aos clientes paulistas informando "dificuldades pontuais e temporárias na prestação do serviço, devido à instabilidade em equipamento e instabilidade no suprimento de energia elétrica". A operadora argumenta que interrupções prolongadas no fornecimento de energia comprometem o serviço móvel celular, porque as antenas utilizadas pela empresa são mantidas por geradores e baterias, que têm duração limitada. O problema é mais frequente em áreas distantes dos centros urbanos, onde a incidência de raios, que atingem as linhas, é maior.
Eventos climáticos inesperados são os principais responsáveis por problemas ocorridos tanto nas linhas de transmissão, intermediárias à geração e distribuição de energia, quanto na ponta do sistema, na distribuição."Temos mais de 3 mil km de rede de distribuição no país e um dos maiores índices de ocorrência de raios em todo o mundo. Tudo isso afeta o setor elétrico, mas, comparado a outros sistemas de infraestrutura, é possível afirmar que o serviço de energia elétrica vai bem", contesta o presidente da associação representante do segmento de distribuição de energia, a Abradee, Nelson Fonseca Leite.
SISTEMA ELÉTRICO
3 mil km: É o tamanho da rede de distribuição brasileira. A Abradee, representante das distribuidoras, argumenta que, pela dimensão do sistema, o serviço "vai bem".
78,7%: É o índice de aprovação do serviço de distribuição pelos clientes residenciais, segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial.
Estratégia contra blecaute reúne o setor
O segmento de distribuição de energia elétrica está participando de um esforço conjunto para evitar que fenômenos climáticos cada vez mais intensos e frequentes prejudiquem consumidores de eletricidade. Projeto estratégico da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre o tema reúne empresas e academia para apresentar soluções ao problema. O trabalho tem três focos principais: o desenvolvimento de ferramentas para melhorar a previsão de eventos climáticos extremos; de um plano de contingência e de padrões diante de ocorrência; e a análise das questões regulatórias. O plano deve estar concluído em dois anos.
"As distribuidoras têm condições adequadas para tratar da manutenção dos seus ativos. Mas temos um padrão de rede desenhado há 50, 60 anos. Hoje, estamos desenvolvendo pesquisa para avaliar qual seria o padrão de rede mais adequado para as mudanças climáticas, porque temos fenômenos cada vez mais intensos e frequentes", diz o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Fonseca Leite.
O objetivo do trabalho que está sendo desenvolvido por distribuidoras e especialistas, e liderado pela Aneel, é evitar interrupções no fornecimento. Mas, em sua opinião, "é complicado" evitar a total extinção de blecautes. Ele afirma que o "sistema elétrico é automaticamente desligado para evitar um problema maior, inclusive de segurança. Por isso, dizemos que cada indústria tem que ter sua proteção para evitar as consequências e interrupções de energia. Em um sistema elétrico extenso como o nosso, as ocorrências são inerentes".
A proposta é contestada por Camila Schoti, coordenadora de Energia Elétrica da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). "A instalação de um sistema de segurança ou geração elétrica própria significa um custo adicional para a indústria. Algumas empresas têm. Mas não é possível empurrar essa responsabilidade para o setor industrial", rebate.
Fonte: Brasil Econômico
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