Os planos do presidente da China, Xi Jinping, para tirar a economia do país de um de crescimento a qualquer custo significam que o aumento do PIB chinês no próximo ano vai depender tanto das decisões políticas como das condições econômicas no país e no exterior.
Depois que a China anunciou, na sexta-feira, que o crescimento do PIB no terceiro trimestre acelerou para 7,8%, na comparação ano a ano, ante 7,5% no trimestre anterior, as autoridades chinesas disseram que o país teria dificuldade para sustentar esse ritmo mais rápido.
Este mês, Xi passou a ser a mais alta autoridade do país a sugerir que a China vai reduzir sua meta de crescimento para 2014 dos 7,5% projetados para este ano para 7%. Xi, que é o líder do Partido Comunista, disse numa reunião de líderes regionais que essa taxa de crescimento menor é suficiente para dobrar a renda per capita entre 2010 e 2020, um objetivo fixado pelo governo há bastante tempo.
Uma meta de crescimento mais modesta daria espaço à China para reformular sua economia, mesmo que as mudanças provoquem uma desaceleração no curto prazo.
Embora um crescimento de 7% seja um ritmo muito mais rápido do que qualquer outra grande economia conseguiria obter, ele representa a metade da taxa de crescimento da China desde 2007 e seria um problema para as empresas que têm visto o gigante asiático como uma terra de oportunidades quase infinitas. Nas últimas semanas, a Wal -Mart Stores Inc. anunciou que está fechando algumas lojas na China, enquanto que a Macy's Inc. adiou planos de expansão. Raymond Tsang, consultor da Bain & Co., diz que milhares de empresas menores no sul da China fecharam as portas nos últimos anos.
Ainda assim, Xi parece empenhado em reformular a política econômica de modo que o crescimento do PIB não seja a única medida do sucesso. Ele vem pressionando as autoridades a passar por sessões de autocrítica — uma prática da era de Mao Tse Tung —, como forma de impor metas do Partido Comunista. Hoje, focar-se demais no crescimento é motivo de censura. Numa sessão de autocrítica em setembro na província de Hebei, no nordeste da China, um alto funcionário do governo local confessou que "se importava demasiado com o crescimento econômico", segundo o "Diário Popular", o principal jornal do Partido. "Eu não prestei atenção suficiente às preocupações das pessoas normais."
A sessão realizada em Hebei, amplamente coberta pela televisão e os jornais chineses, "passou a ser a referência", disse He Fan, economista sênior da Academia Chinesa de Ciências Sociais, centro de estudos governamental. "Não se pode mais louvar o crescimento do PIB; do contrário os colegas vão criticar você por estar amarrado ao velho modelo de crescimento e só se preocupar com a sua promoção". Estudiosos da China dizem que há muitos anos as autoridades provinciais procuram superar a meta de PIB do governo central como uma maneira de avançar na carreira.
O exame de consciência e o esforço para direcionar o crescimento para um caminho mais sustentável trouxeram seus ajustes. Em julho, depois que uma desaceleração ameaçou estagnar o país, Pequim recorreu a uma velha receita para estimular o crescimento: acelerar os gastos do governo com infraestrutura e o primeiro-ministro Li Keqiang prometeu que os líderes do país não permitiriam que o PIB ficasse abaixo de um mínimo não especificado.
Mas, como exemplo da busca por um crescimento mais sustentável, a China está considerando deixar os preços da energia se ajustarem mais rapidamente às mudanças no mercado mundial, de modo a administrar melhor a demanda, reduzir a poluição e aumentar a eficiência da indústria.
O crescimento do terceiro trimestre refletiu o reforço nos gastos de infraestrutura, a melhora nas exportações e os efeitos de um aumento maciço nos empréstimos no início do ano, dizem os economistas.
Um porta-voz do gabinete de estatísticas da China observou, porém, que o ritmo de crescimento desacelerou em setembro. "A economia vai enfrentar alguma pressão para manter a tendência ascendente vista no terceiro trimestre", disse Sheng Laiyun.
Os líderes chineses também estão procurando formas de incentivar as empresas a se tornarem mais competitivas — até agora com histórias de sucesso e fracasso. Em Taizhou, cidade na costa leste da China, Zheng Hui, gerente geral de Taizhou Ganen Car Appliance Co., fabricante de cadeirinhas de automóvel para crianças, disse que as encomendas dobraram este ano depois que a empresa abandonou suas linhas de produtos mais básicos e investiu mais em design e marketing. "Nossas encomendas subiram muito depois disso, devido à menor concorrência na faixa de produtos de mais alta qualidade", disse ele.
As considerações políticas vão predominar a partir do mês que vem, quando os líderes do Partido Comunista se reunirem em Pequim para lançar o plano de reforma que guiará a economia da China pela próxima década. O governo pode dar andamento a mudanças que aumentam os custos para as empresas, como aumentos salariais, impostos dirigidos para o seguro social e controles à poluição. Mas se o plano não aumentar a produtividade — por exemplo, abrindo setores agora dominados por gigantes estatais, o efeito poderá ser um crescimento mais lento.
Fonte: The Wall Street Journal
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