O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, vai dizer no sábado que os países emergentes vivem um "paradoxo de percepção" em termos do seu desempenho econômico, durante a plenária do Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC, na sigla em inglês), o órgão que assessora o conselho de governadores do Fundo Monetário Internacional (FMI) e recomenda a adoção de políticas.
Segundo a versão do discurso divulgada oficialmente um dia antes, ele também criticará os EUA e os países desenvolvidos por não avançar na reforma do Fundo, que deveria estar completa em janeiro do ano que vem. A mudança terá o efeito de elevar o poder de voz dos emergentes na instituição.
Seguindo a linha que as autoridades brasileiras têm enfatizado nas reuniões do FMI e do Banco Mundial nesta semana, o presidente da autoridade monetária brasileira dirá que "até há pouco havia um excesso de exuberância" na percepção do desempenho econômico dos emergentes e agora há "um excesso de pessimismo".
"O otimismo pode ser explicado pela forma como a maioria de nós atravessou a crise financeira, com recuperações rápidas e acentuadas. O pessimismo pode, por sua vez, estar ligado às consequências da atual volatilidade do mercado financeiro associada à antecipação das mudanças na política monetária americana", ele dirá.
Transições
Alexandre Tombini falará na plenária do IMFC, que encerra o encontro do FMI e do Banco Mundial, substituindo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não veio para as reuniões deste semestre.
O FMI crê que uma das principais "transições" da economia mundial se refere à preparação dos emergentes para o momento em que o Banco Central americano, o Federal Reserve, comece a remover os estímulos monetários da economia americana – o que deve começar a ocorrer nos próximos meses.
Desde maio, as perspectivas em antecipação a este evento têm gerado saídas de capitais dos países emergentes, gerando flutuações no câmbio e volatilidade nos mercados financeiros.
Porém, em seu relatório financeiro, o FMI elogiou os instrumentos do Brasil para enfrentar turbulências financeiras: uma taxa flutuante de câmbio, com intervenções "transparentes e temporárias" no mercado para evitar volatilidade, e reservas internacionais da ordem de US$ 380 bilhões.
Tombini dirá que os mercados emergentes enfrentarão instabilidade "antes e depois" dos estímulos financeiros nos EUA, mas ressaltará que o Brasil e outros países emergentes estão preparados para atravessar as turbulências.
O ceticismo maior está no futuro. O FMI notou em seus relatórios macroeconômicos que os emergentes sofrem de "gargalos de oferta" que comprometem o crescimento potencial da economia.
Entre esses gargalos estão o que os analistas chamam de "custo Brasil": problemas de infraestrutura, falta de mão-de-obra qualificada e travas para o investimento que incluem uma alta carga tributária.
Contra estes temores, a mensagem das autoridades brasileiras durante estas reuniões tem sido a de que, apesar dos pesares, os emergentes ainda estão puxando a economia mundial e o Brasil, em particular, continua atraindo investimentos externos.
"Em 2012, de acordo com dados das Nações Unidas, o Brasil foi a terceira área econômica no mundo que mais atraiu investimento estrangeiro direto. O Brasil continua atraindo investimento direto", disse Tombini a jornalistas, na sexta-feira.
Segundo o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Márcio Bicalho Cozendey, o "excesso de pessimismo" também incomodou outros Brics (grupo de emergentes que inclui, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Reforma do FMI
Além deste tema, Tombini fará no seu discurso uma dura crítica ao que chamará de "estágio de completa paralisia" na reforma do Fundo, o que, segundo ele, "corroeu a legitimidade e credibilidade" do FMI.
O presidente do BC criticará especialmente os EUA, o único país do G20 (o grupo dos principais emergentes e ricos) a não aprovar legislativamente a reforma do Fundo.
Após a crise financeira, o G20 concordou em reforçar o caixa do FMI com recursos que estariam disponíveis para serem desembolsados em uma nova emergência, principalmente na zona do euro.
Em uma novidade na arquitetura financeira mundial, os Brics e outros países emergentes se comprometeram a contribuir com o aporte destinado a acalmar os temores quanto à economia europeia.
"Fizemos isto com o compromisso de reformar e atualizar as cotas e a estrutura de governança da instituição, de forma a fortalecer a economia mundial", dirá Tombini.
"Os mercados emergentes honraram a sua parte neste acordo político. É hora de os EUA e a Europa cumprirem as suas."
O presidente do BC contraporá a paralisia do FMI com a dinâmica na criação de iniciativas de arranjo financeiro "alternativas", como o banco dos Brics, que terá um aporte inicial de US$ 50 bilhões. O grupo também está discutindo um contingente de reserva de US$ 100 bilhões a ser desembolsado caso um dos países necessite.
O fala de um "progresso tangível" nas duas iniciativas, com anúncios no próximo encontro dos Brics, no Brasil em março.
"Não queremos ver as dificuldades do FMI desatando uma multitude de arranjos regionais descoordenados", dirá o presidente do BC.
"Precisamos deles, mas como complementos à arquitetura internacional."
Fonte: BBC Brasil
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